domingo, 8 setembro, 2024
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    ‘Acima do comum, não abaixo’, diz especialista

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    O especialista da consultoria Safras & Mercado Paulo Molinari indica que as instituições brasileiras coordenem um trabalho de orientação de plantio, com instruções, inclusive, de redução de área para evitar safras de soja volumosas e rendas modestas.

    Conforme ele, após três anos atípicos, o valor do grão está retornando ao patamar habitual e o produtor precisa se adaptar a essa nova realidade.

    “A média usual do valor da soja é entre US$ 10 e US$ 9 por bushel na Bolsa de Chicago, mas, às vezes, aqui no Brasil, nós esquecemos, ou não queremos recordar, dessa realidade. Se temos US$ 12 , US$ 11,50, devemos considerar que estamos acima da média”.

    Elevações dos gastos

    Molinari recorda que nos últimos anos foram registradas algumas irregularidades de alta de gastos no Brasil.

    “Pagou-se um arrendamento acima de 20 sacas de soja por hectare, os valores das máquinas quase dobraram, alguns químicos e fertilizantes não retornaram aos valores pré-pandemia e, na onda da alta, o produtor comprou terra, máquina, se endividou mais no longo prazo e as curvas de valores se ajustaram. A situação do produtor realmente não é fácil. Em regiões onde as perdas foram maiores, ver a sua safra quebrando e o valor caindo, causa pânico, infelizmente”.

    Manter ou vender a soja?

    índices de valores - soja cotação - valores agrícolas
    Foto: Daniel Popov/ Canal Rural

    Para Molinari, manter a produção neste momento é como um jogo de pôquer, ou seja, é uma aposta. “Tem produtor, por exemplo, pegando EGF no banco pagando 1,5% ao mês para poder manter a soja. Se dá um problema na safra norte-americana, se está salvo, do contrário, se aumenta a dívida um pouco mais”

    Segundo o especialista, a solução a longo prazo é o Brasil encontrar mecanismos de controle de sua oferta, visto que bater recordes anuais de produção só é válido quando o agricultor consegue rentabilidade.

    “Se o Brasil soubesse controlar a sua oferta seria bem mais fácil de resolver, mas, infelizmente, só queremos ampliar área [plantada] e isso não auxilia no valor. As instituições no Brasil precisam coordenar um trabalho de orientação de plantio, de orientação de safra porque, senão, nós ficamos assim sempre perdidos. As instituições seriam muito mais úteis para o setor se indicassem para o produtor, por exemplo, que no ano que vem eles precisam reduzir 20% a área plantada. Isso causaria muito mais impacto do que mandar o produtor manter soja neste momento e se endividar para poder mantê-la”, considera Molinari.

    Desafios da próxima safra

    A curto prazo, pensando na safra 2024/25, o especialista prevê muitas dificuldades para o produtor e desafios ainda maiores para fechar as contas. Para ele, investir em outra cultura também é arriscado, visto que nesta safra já houve aumento de gergelim, sendo que não há garantia de venda.

    “Quais as alternativas para a próxima safra? Não existem. Podem pensar no algodão, mas não é todo mundo que planta. Pode acabar estragando também o mercado de algodão [o aumento na produção]”.

    Segundo ele, o ano será bastante difícil, com a rentabilidade do produtor comprometida. “A primeira coisa para tentarmos corrigir em 2025 é acertar no custo de produção. Não dá para pagar 20 sacas de soja por hectare de arrendamento. A segunda coisa são os fertilizantes; alguns, como o KCL e a ureia, já voltaram a preços pré-pandemia. Então, talvez, agora seja um bom momento de vender a sua soja. O valor não é aquele que você deseja, mas, fazendo uma boa compra de insumos, vai conseguir se preparar em 2025 para não entrar o ano no vermelho, com um valor [de soja] que ainda não tem sinalização de alta”, finaliza o especialista.

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