sábado, 14 setembro, 2024
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    “Artefatos de purpurina” podem auxiliar a tornar Marte habitável?

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    Construir assentamentos humanos permanentes em Marte exigirá soluções criativas, pois as condições atuais do Planeta Vermelho não são propícias à existência.

    Um dos desafios mais cruciais é o clima. Com temperaturas médias em torno de -64ºC, Marte é demasiadamente frio para acomodar a vida humana confortavelmente. Para modificar o planeta e torná-lo habitável, é preciso aquecer sua superfície – e cientistas alegam ter encontrado uma forma de fazer isso de maneira consideravelmente mais eficaz.

    Em um artigo divulgado quarta-feira (7) na revista Science Advances, uma equipe liderada pela engenheira elétrica Samaneh Ansari, da Universidade Northwestern, nos EUA, propôs uma técnica que pode aquecer Marte utilizando hastes metálicas nanoscópicas liberadas na atmosfera para criar e manter um efeito estufa. Como se fossem “artefatos de purpurina”.

    terraformacao de marte
    Representação artística do processo de terraformação de Marte. Crédito: Daein Ballard / Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0

    Segundo o geofísico Edwin Kite, da Universidade de Chicago, coautor do estudo, essa abordagem seria 5.000 vezes mais eficiente do que outras estratégias anteriormente sugeridas. “O aquecimento de Marte para permitir a presença de água líquida pode ser mais viável do que pensávamos”.

    Em um comunicado, ele explica que a liberação dessas pequenas partículas metálicas na atmosfera marciana poderia ajudar a reter o calor do Sol, aumentando gradualmente a temperatura do planeta.

    Marte não é capaz de produzir gases de efeito estufa em quantidade suficiente

    Na Terra, o aumento do efeito estufa é algo que ocorre com bastante facilidade. A atmosfera se enche de gases como dióxido de carbono e metano, que aprisionam o calor emitido pela superfície, dificultando sua dissipação para o espaço e provocando o aumento das temperaturas.

    Se conseguíssemos enriquecer a fina atmosfera de Marte com esses gases de efeito estufa, conforme sugerido em propostas anteriores, o aquecimento resultante poderia elevar a temperatura local a um nível que permitisse a sobrevivência de organismos fotossintéticos.

    O problema é que Marte possui poucos recursos naturais para gerar esses gases em quantidade suficiente, o que tornaria a operação cara e complicada, uma vez que seria necessário importar esses elementos da Terra ou extraí-los de forma limitada do solo marciano.

    A nova estratégia propõe aproveitar os minerais metálicos já presentes no solo superficial de Marte, como alumínio e ferro. Essas partículas de metal, ao serem liberadas na atmosfera, funcionariam de maneira semelhante às emissões de carbono na Terra, capturando a luz solar e aquecendo o planeta.

    diagrama terraformacao marte
    Diagrama ilusta o método proposto pela equipe de terraformar Marte. Crédito: Ansari et al., Sci. Adv., 2024

    Ansari e sua equipe criaram modelos para calcular a eficiência dessas hastes metálicas, que teriam aproximadamente o tamanho das partículas de poeira jápresentes em Marte. A análise indicou que a emissão constante dessas nanopartículas metálicas na atmosfera poderia ocasionar um incremento gradual da temperatura, causando a fusão do gelo presente na superfície e elevando a pressão atmosférica à medida que o dióxido de carbono se transformasse diretamente do estado sólido para gasoso nas calotas polares.

    De acordo com a pesquisa, o processo de aquecimento levaria algumas décadas, porém teria a capacidade de elevar a temperatura de Marte em mais de 28ºC, tornando o clima do planeta mais adequado para organismos microbianos fotossintéticos – um avanço crucial rumo à terraformação de nosso vizinho planetário.

    Apesar dos progressos promissores, ainda existem obstáculos a serem vencidos. Não está claro por quanto tempo as nanopartículas permaneceriam na atmosfera marciana, que, em virtude da ausência de um campo magnético global, tende a escapar para o espaço. Ademais, as partículas metálicas poderiam se unir ao vapor de água e precipitar de volta à superfície sob a forma de chuva, o que reduziria a eficácia do efeito estufa.

    Ainda assim, Kite enfatiza que “esta pesquisa abre novos horizontes para a exploração espacial e pode nos aproximar do sonho de estabelecer uma presença humana sustentável em Marte”. 



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