Agrupamentos do Centro que fazem parte da sustentação parlamentar de Luiz Inácio Lula da Silva, Coalizão Brasil e PSD estão se articulando para ganhar força em 2026, independentemente de estarem ou não junto ao atual governo. Enquanto o Coalizão Brasil trabalha para se distanciar do presidente e trilhar um caminho próprio na corrida presidencial, buscando também conquistar o controle das duas Casas do Congresso em 2025, o PSD segue em uma trajetória paralela, se preparando para ser o principal suporte do petista em um eventual segundo mandato dele.
Sob nova direção, o Coalizão Brasil removeu Luciano Bivar do cargo para iniciar um plano que pode resultar na apresentação da candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, à Presidência. Para aumentar sua independência em relação ao Palácio do Planalto, o partido, que atualmente conta com dois ministros nominalmente na Esplanada e agora é liderado por Antônio Rueda, busca uma fatia maior dos recursos do fundo partidário e eleitoral por meio da eventual criação de uma federação com 149 deputados, que pode ser formada em parceria com o PP e o Republicanos.
Fundado e liderado por Gilberto Kassab, o PSD, por sua vez, está investindo pesadamente na conquista de novos municípios e lançando candidatos para as presidências da Câmara e do Senado, caso os acordos para eleger os candidatos indicados pelos atuais presidentes não se concretizem.
A corrida para escolher os sucessores dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no início de fevereiro de 2025, já está movimentando os líderes partidários, que estão empenhados em costurar alianças estratégicas. Na Câmara, o deputado Elmar Nascimento (Coalizão Brasil-BA), apoiado por Lira, desponta como favorito. No entanto, ele enfrenta resistência do PT devido à rivalidade com seu partido na Bahia. Além das questões regionais, os petistas estão preocupados com a concentração de poder nas mãos do Coalizão Brasil. Por isso, há a possibilidade de Antônio Brito (PSD-BA) receber apoio, uma vez que seu diretório estadual mantém parceria com o PT baiano. Na Câmara, o PSD faz parte do segundo maior bloco em termos de votos (143).
No Senado, Eliziane Gama (PSD-MA) reafirmou no mês passado sua intenção de concorrer à sucessão de seu correligionário Rodrigo Pacheco. Com a maior bancada de senadores (15), o PSD precisará primeiro unificar seu nome. Aqueles que já apoiam a candidatura de Eliziane buscam legitimá-la com o respaldo de Lula, mostrando alinhamento em diversas frentes, como visto na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, na qual Eliziane atuou como relatora. Um episódio curioso nesse contexto ocorreu em 20 de fevereiro, quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) confrontou veementemente em plenário o pedido de desculpas de Pacheco por ter comparado a operação militar israelense em Gaza ao Holocausto.
Pacheco, aliado de Davi Alcolumbre e próximo ao presidente da República, está fortalecendo a parceria estratégica do PT com o PSD de Minas Gerais para as eleições de 2024 e 2026. Essa aliança inclui o apoio à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, nas eleições deste ano, e a preparação para a candidatura do presidente do Senado ao governo de Minas Gerais nas próximas eleições gerais, preparando assim o terreno para a campanha de Lula no estado.
No Rio de Janeiro, Lula também demonstrou seu comprometimento com a reeleição de Eduardo Paes (PSD), que poderá ter um vice do PT. Outro destaque do PSD, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, poderá deixar o partido para se unir à chapa presidencial do Republicanos, seguindo a rejeição de Bolsonaro às alianças do PL com “o PSD de Gilberto Kassab”, devido à proximidade deste último com Lula.
No dia seguinte ao evento político do domingo, 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Kassab (PSD), que atua como secretário de Governo dolíder de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), escutou um pedido do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), no Palácio do Planalto, para que o PSD apoie Lula em uma possível campanha para a reeleição. O chefe partidário optou por não tomar partido. O político experiente declarou no final do ano passado que Lula só não será reeleito se “cometer muitos erros”, o que ele considera “muito improvável” levando em conta a extensa experiência do petista no jogo eleitoral. Em 2022, Kassab cogitou uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto de Rodrigo Pacheco, a quem atraiu do União Brasil com essa finalidade, mas o plano não se concretizou devido à intensa polarização política e o partido acabou permanecendo neutro no primeiro turno.
Resolução de divisão interna impulsiona o União Brasil
A última vez que um partido dominou tanto a Câmara quanto o Senado foi entre 2017 e 2019, quando o DEM estava no controle, partido que originou tanto o PSD quanto o União Brasil, na época representado por Alcolumbre e Rodrigo Maia (RJ). Além do DEM, que se fundiu ao PSL para dar origem ao União Brasil, somente o MDB e o PT conseguiram tal feito antes. A disputa pelo comando do União expôs a divisão na legenda criada há apenas dois anos, resultando na destituição de Bivar em uma tumultuada convenção nacional, em 29 de dezembro passado. Rueda conta com o apoio de Caiado e do ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
O deputado federal Antônio Carlos Nicoletti (União -RR) afirmou no programa Assunto Capital, da Gazeta do Povo, na noite de terça-feira (5) que 80% dos membros do União Brasil são de direita e conservadores. No entanto, Lula tem adotado a estratégia de atrair grandes partidos, como o União Brasil, o PSD e o Republicanos com ofertas de cargos e recursos para obter apoio ao governo e muitos acabam cedendo à prática de “toma lá, dá cá”, respaldando Lula em suas propostas. Confira a íntegra do programa aqui.
Superada essa etapa, avançam as negociações que envolvem lideranças do PP, União Brasil e do Republicanos para estabelecer nas próximas semanas uma federação de direita, que pode se tornar a principal força eleitoral em 2026. Caso o acordo seja firmado, está prevista a união das legendas pelos próximos quatro anos. Ao contrário das coligações, a federação obriga os partidos a permanecerem juntos por pelo menos duas eleições.
PP, União Brasil e Republicanos contam com 17 senadores e seus direitos no fundo eleitoral ultrapassam a marca de R$ 1 bilhão. Com a federação, também teriam o maior tempo de propaganda no rádio e na TV. Essa é a estrutura almejada para apoiar a candidatura presidencial de Caiado, caso ele consiga concretizar seu intento. A aliança partidária ganhou força após o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), demonstrar engajamento nesse projeto que vem sendo especulado desde o fim de 2022.
Não por acaso, ele marcou presença na convenção que confirmou Rueda no comando do União Brasil e se encontrou na semana passada com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), que tem hesitações quanto ao lançamento da federação em 2024. O PP também sinalizou ao União Brasil que poderá apoiar a candidatura de Alcolumbre à presidência do Senado como parte da estratégia da aliança, reduzindo a resistência do senador à federação. Cada vez mais consolidada, a candidatura de Alcolumbre recebeu o respaldo de Lula nesta semana.
PSD deseja utilizar predomínio em prefeituras como trunfo político
Presidente do partido com mais prefeituras do Brasil (968), Gilberto Kassab utiliza o peso da estrutura partidária do PSD para ampliar influência sem se alinhar a nenhuma das duas principais figuras do cenário polarizado da política nacional, Lula e Bolsonaro. Somente em São Paulo, o PSD governa 329 prefeituras, mais da metade do total geral e 263 a mais do que conquistou na eleição de 2020, graças ao processo agressivo de filiação.de gestores, provenientes especialmente do PSDB. Em recentes conversas, o líder partidário deixou evidente que seu foco é expandir em mais 750 o total de municípios administrados pelo PSD, principalmente na região Sudeste.
Com
três titulares na Esplanada e chefe da coordenação política de Tarcísio, Kassab
é encarado com desconfiança tanto pela ala de esquerda quanto pela de direita. Na metrópole
paulistana, o dirigente chegou a se aproximar do pré-candidato do PSol, Guilherme
Boulos, mas manifestou apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à prefeitura. Em
entrevista recente ao site Brazil Journal, ele indicou que Tarcísio e Lula
precisam garantir o diálogo entre campos políticos opostos, enxergando como natural a
manutenção no governo estadual, respaldado por Bolsonaro.
A prática de governabilidade, vista como um negócio característico do Centrão na Câmara, tem no PSD um exemplo de estrutura que leva esse esforço quase ao patamar estatutário. Para o consultor e especialista em ciência política Paulo Kramer, o PSD coloca em execução a sua “Doutrina Kassab” de forma integral, posicionando-se sempre como suporte complementar de qualquer gestão, oferecendo sustentação tanto no caso de São Paulo quanto no Planalto, simultaneamente.
Segundo especialista, União Brasil e PSD terão relevância especial em 2026
Conforme Daniel Contreira, cientista político da BMJ Consultoria, o União Brasil se fortaleceu após uma semana conturbada devido à mudança em sua liderança. Ele observa que, apesar das especulações sobre um possível racha interno, o novo presidente eleito, Antônio Rueda, representa uma ala historicamente vinculada ao antigo Democratas, que, em sua avaliação, sempre foi mais consistente do que o PSL de Bivar. Contreira destaca que este momento é crucial para o partido definir sua trajetória futura. Ele ressalta que as negociações de uma eventual candidatura de Caiado à Presidência podem depender da formação de uma coalizão com PP e Republicanos, além do desempenho nas urnas nas eleições municipais de 2024.
No
que diz respeito ao PSD, Contreira frisa que a continuação do plano de Gilberto Kassab para
consolidar a legenda como a mais expressiva em termos de administrações municipais no país
é evidente. Ele destaca que Kassab está bem posicionado para atingir os
resultados almejados nas eleições municipais de outubro, transformando o
partido em um recurso valioso no cenário nacional. Essa ascensão, segundo o
analista, poderá conferir ao PSD uma influência ativa nas eleições para as
Mesas Diretoras do Congresso em 2025 e na disputa pela Presidência da República
no ano seguinte. Essa perspectiva, segundo Contreira, solidifica a importância
estratégica do partido e seu papel influente nos destinos políticos do país.
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