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Análise de notícias
É viável ter uma interpretação pessimista dos resultados do IPCA-15 de maio, divulgados nesta terça (28), pelo IBGE. A elevação referente a abril de 2024, ao oposto do que muitos defendem, não tem tanta relação com as tragédias no Rio Grande Sul.
Na economia as coisas não são instantâneas. Uma ação feita hoje por algum governo ou um desastre em alguma região do planeta pode apenas ter uma reação na economia meses após o ocorrido.
Caso uma pessoa vá até o supermercado e devido ao elevado valor do feijão compre apenas 1kg em vez de 2kg, isso não significa que logo no mês seguinte o produtor de feijão ou o supermercado vai sentir no bolso um prejuízo. O processo econômico usual é que até o mercado – os produtores e consumidores – entenderem o aumento ou a queda do preço de um produto e tomarem uma decisão de optar por comprar lentilha em vez de feijão, todos começarem a comprar menos feijão ou os produtores compreenderem que não está valendo a pena produzir feijão, leva tempo.
O acréscimo hoje de qualquer bem só será visualizado e calculado no futuro. O desfecho de uma modificação de preço não se resumirá apenas no mês subsequente, mas sim em uma cadeia contínua de produção ao longo do tempo.
IPCA em 2020
Isso pode ser percebido durante a crise da COVID quando o agregado monetário m1, ou seja, a quantidade de dinheiro que está sendo movimentado na economia, se ampliou – a nova terminologia para “imprimir dinheiro” – no começo de 2020. Na época, passou de 405 bilhões para 621 bilhões em dezembro de 2020. O relaxamento deixou de ser realizado logo em dezembro do mesmo ano, entretanto a perda do poder de compra, que foi o desfecho de aumentar a quantidade de dinheiro na economia, não diminuiu em janeiro de 2021. A diminuição da inflação, como resposta à interrupção dessa política monetária, só ocorreu em julho de 2022.
Por sua vez, os lockdowns passaram a ser realizados no Brasil a partir de abril de 2020, e ainda assim houve queda no índice de preços no mês seguinte ao lockdown. Os preços aumentaram de forma controlada até agosto, porém em setembro, não houve mais um controle dos preços.
Ou seja, desde o início das políticas de afrouxamento monetário, quando o governo começou a aumentar a quantidade de dinheiro na economia, em janeiro de 2020 e do início dos lockdowns em abril de 2020 até o descontrole da inflação em setembro de 2020 houve meses de relativa normalidade monetária.
IPCA-15 de maioem 2024
Desta forma, o desfecho do IPCA-15 não é eficiente para apontar as flutuações de preço referentes ao mês de maio. O IPCA-15 foi computado do dia 16 de abril até o dia 15 de maio. Isso significa que teve início 16 dias antes dos alagamentos, e se encerrou 13 dias após o início dos alagamentos. Mesmo que o IPCA-15 de maio pudesse ser utilizado para calcular o desdobramento das variações de preço desse mês, ele ainda assim não seria capaz de mensurar as consequências que aconteceram e acontecerão após os alagamentos. Infelizmente a avaliação do IPCA do mês completo irá aumentar ao considerar melhor parte das implicações do ocorrido no RS.
Núcleos de inflação na meta
As projeções do Banco Central no Relatório Focus de 12 de janeiro de 2024 indicavam que a inflação no fim de 2024 seria de 3,87%. Naquela ocasião ocorreu um ajuste positivo que sinalizava queda na inflação.
O ano transcorreu e novas medidas econômicas foram adotadas. Agora o Relatório Focus de 27 de maio prevê a inflação em 3,86%, entretanto nesse momento a perspectiva não é de decréscimo como ocorreu em janeiro e sim de aumento. Caso as circunstâncias se mantenham inalteradas, é pouco provável que a inflação encerre 2024 próxima da meta de 3%. O ministro da Economia considera a meta “extremamente exigente”, porém foi o conselho do qual ele faz parte que definiu tal meta.
Fábio Romão, economista da LCA Consultores, que acompanha a evolução dos valores no mercado brasileiro estima inflação de 3,7% em 2024 e de 4% em 2025. Os números são superiores aos previstos pelo Banco Central, para 2024, 3,86%, e 2025, 3,75%. O Itaú BBA também antecipa que a inflação este ano encerrará em 3,8%. Nenhum deles acredita que a inflação diminuirá ainda neste ano.
A defesa de alguns economistas e jornalistas de que a economia está em boa situação não condiz com a realidade. Ao analisar os dados da inflação acumulada em 12 meses o resultado é positivo. De 12,13% em abril de 2022 para 4,18% em abril de 2023, porém os dados de 2022 representam um Brasil pós-pandemia, período em que toda a comunidade internacional enfrentou altos índices de inflação e aumento nos preços.
Entretanto o mundo não começou em abril de 2022 com inflação elevada. Logicamente, quando comparados aos altos números da pandemia, os números atuais serão menores e em descenso. É crucial considerar dados contextualizados antes de realizar comparações. E falando em dados, estes indicam que a queda na inflação teve início ainda no governo Bolsonaro, quando alcançou 5,77% em janeiro de 2023.
Utilizar a tendência pós-pandemia de redução do IPCA não é um mérito para o governo. Ele não adotou medidas para diminuir a inflação. Apenas necessitou ficar inerte e o mercado se normalizou, mas o governo não agiu dessa forma. Logo em fevereiro de 2024 o governo registrou um déficit de R$ 58,4 bilhões, previu um déficit de R$ 9,3 bilhões, obteve um aumento no limite de gasto de R$ 15 bilhões e ainda assim aumentou a projeção de déficit para R$ 14,5 bilhões.
O governo ao entrar em déficit como está procedendo só tem uma alternativa: aumentar ainda mais a tributação. Em outras palavras, mais impostos, mais elevação de preços e maior IPCA-15 devido às políticas desastrosas.
Ritmo de elevação mensal mais que dobrou
A elevação mensal antecipada pelo IPCA-15 de maio de 0,44% está de acordo com a expectativa do mercado de 0,49%. O ritmo de elevação da inflação mensal duplicou e já alcançou 3 meses seguidos de aumento.
O governo não ser capaz de lidar com uma meta que ele mesmo estabeleceu para cumprir é preocupante, mas ainda mais preocupante é interpretar um dado muito negativo para a economia como um indicativo positivo para a população, conforme foi feito com o resultado do IPCA-15 por algumas mídias.
Previsões para o IPCA cheio
Com base no IPCA-15 de maio, Fábio Romão prevê aumento de 0,42% no IPCA total de maio. Outras entidades como a Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (ANBIMA) estimam 0,41%. A projeção do próprio Focus subiu de 0,33% para 0,39%. Todas elas podem estar corretas, já que consideram outro aumento no IPCA, porém estão sendo extremamente otimistas em relação ao governo.
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