Alguns meses depois, foram divulgadas as conversas vazadas entre os integrantes da força-tarefa e juízes que revelavam um esquema completamente corrupto do processo penal por aqueles que se apresentavam como redentores da nação.
Sentenças pré-acordadas, relação promíscua entre procuradores e juízes, restrição à defesa, escuta ilegal de advogados, envolvimento de entidades no vale-tudo para condenar os “adversários”.
Nesse ponto, Sergio Moro já era ministro da Justiça do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro — que ele havia ajudado a eleger com a corrupção do sistema de Justiça a serviço de interesses políticos.
O que foi revelado e exposto evidenciou que a tal fundação seria, na verdade, um “fundo eleitoral para chamar de seu”, uma estrutura que equivalia a um partido político dentro do Ministério Público, com objetivos claros de, ao estimular ao máximo a antipolítica, dominar o poder político.
Para isso, contou com o aval de entidades muitas vezes reconhecidas por ser persuasivas na denúncia de desmandos com o dinheiro público.
É fundamental não esquecer que advogados foram interceptados e seu sigilo com os clientes foi violado, que a defesa foi restringida, que prisões ilegais e a delação premiada foram usadas como forma de coação de réus e testemunhas, que tudo isso foi usado para beneficiar um candidato de extrema direita.
Expor à luz do dia todos os vícios e desvios da “lava jato” é o único caminho para aprimorar o combate à corrupção e alguns instrumentos, como a delação premiada, que foram usados de forma criminosa para abrir caminho ao autoritarismo e a um retrocesso sem precedentes em conquistas civilizatórias e democráticas no país.
Por isso não esqueço. E vejo as decisões do ministro Toffoli como coerentes, legitimadas por todas as decisões anteriores do próprio STF, que foram essenciais para o mínimo de normalidade democrática que temos hoje.
*o artigo foi publicado originalmente em O Globo