quarta-feira, 9 outubro, 2024
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    Poder público divulga primeiro ordenamento agrícola para cultivo do açaí

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    Este é o primeiro ordenamento para o açaí e considera riscos climáticos de 20%, 30% e 40%.

    Na maior parte do Brasil, o Zarc indica risco de 20% para o plantio irrigado de açaí e evidencia que a totalidade das regiões Norte e Nordeste, maior parte do Centro-Oeste e uma pequena porção do Sudeste (norte de Minas Gerais e Espírito Santo) apresentam condições de temperatura, umidade, ocorrência de chuvas e tipos de solo que viabilizam o cultivo da palmeira amazônica em sistema irrigado.

    “O ordenamento visa quantificar os riscos relacionados aos problemas climáticos e possibilita ao produtor identificar as melhores regiões para produção e os períodos para plantio das mudas, levando em consideração o clima, a cultura e os diferentes tipos de solos”, explica o meteorologista Alailson Santiago, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

    O modelo agrometeorológico utilizado na análise considera diversos elementos climáticos. “Analisamos elementos que influenciam diretamente no desenvolvimento da produção agrícola, como a temperatura, a ocorrência de chuvas, umidade relativa do ar, água disponível nos solos, necessidade hídrica da cultura e elementos geográficos, como altitude, latitude e longitude”, relata Santiago.

    As particularidades de solo e clima de todas as regiões do País, conforme acrescenta o pesquisador, foram estudadas para cada etapa de desenvolvimento da planta, desde o plantio até a colheita.

    “Analisamos a demanda de água e o tipo de solo em cada etapa de crescimento do açaí”, explica Santiago. A metodologia considera dados meteorológicos de séries históricas de pelo menos 15 anos, além de todo o conhecimento científico sobre a cultura e validações em campo.

    O Ordenamento de Risco Climático para o sistema de produção irrigado de açaí pode ser acessado no app móvel Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital (Campinas/SP), e disponível nas lojas de apps: iOS e Android.

    Técnica de produção com irrigação

    O principal parâmetro de risco climático para o açaí é a demanda hídrica. O açaizeiro é uma palmeira nativa das áreas de várzea da Amazônia e a expansão para sistemas comerciais de produção em terra firme requer a irrigação, pois mesmo os períodos curtos de falta de água podem reduzir consideravelmente a produção.

    “Não se cogita plantar açaí em terra firme sem irrigação. Sem a água, o cultivo se torna inviável”, afirma o agrônomo João Tomé de Farias Neto, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

    A técnica mais utilizada é a irrigação por microaspersão e quantidade de água nas diferentes idades da planta depende das condições edafoclimáticas da região, afirma Farias. “É preciso utilizar técnicas de manejo de irrigação para o uso racional da água”, completa o pesquisador.

    O Zarc considera, portanto, somente o sistema de produção de açaí com irrigação. As duas cultivares de açaí de terra firme desenvolvidas pela Embrapa, BRS Pará e BRS Pai d’Égua, são componentes fundamentais desse sistema de produção. Entre as principais características das variedades estão a redução da sazonalidade na produção, maior rendimento de polpa dos frutos e produção precoce.

    Temperaturas elevadas

    Em sistema de produção de açaí irrigado, outro fator climático limitante passa a ser o risco térmico que pode comprometer a produção da palmeira. “Em baixas temperaturas, ocorre o abortamento dos frutos, eles caem dos cachos antes de amadurecerem”, pontua o pesquisador Santiago.

    Em avaliações de campo, temperaturas próximas a 11 ºC, mesmo que em ocorrências isoladas, foram bastante prejudiciais ao açaizeiro, provocando morte de folhas e abortamento de flores ou frutos.

    No estudo que fundamentao Zarc foi empregado como limite mínimo a temperatura de 7 graus Celsius, a fim de impedir possíveis danos à estabilidade de produção da cultura. O agrônomo Eduardo Monteiro, investigador da Embrapa Agricultura Digital e líder da Rede Zarc na instituição, esclarece que esse limite foi sugerido a partir da identificação de regiões de plantio de açaí com viabilidade em estados do Centro-Oeste e Sudeste.

    No porvir, com o progresso do conhecimento e à medida que novas investigações forneçam dados mais precisos sobre o desempenho de diferentes variedades dessa palmeira em temperaturas mais baixas, os critérios poderão ser renovados”, aponta o pesquisador.

    A extensão territorial contemplada no Zarc com riscos de 30% e 40% equivale às áreas de transição para regiões mais ao sul onde a probabilidade de temperaturas abaixo do limite estabelecido no zoneamento começa a aumentar.

    A transição ocorre em áreas na fronteira entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; centro-sul de Goiás e região central de Minas Gerais. “Conforme as temperaturas diminuem, o risco aumenta”, acrescenta Santiago.

    Cultivo em expansão

    O açaizeiro é uma palmeira autóctone das áreas de várzea da Amazônia e o aumento da procura pelo fruto levou à expansão para as áreas de terra firme. A Embrapa desenvolveu as duas únicas cultivares registradas de açaizeiro para terra firme do mundo: BRS Pará e BRS Pai d’Égua.

    Entre as culturas perenes produzidas no Brasil, como café, laranja, cacau e dendê, o aumento da produção de açaí tem se destacado nos últimos anos.

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) monitora essa produção desde 2015 e considera tanto o açaí manejado das áreas de várzea quanto o cultivado.

    A área colhida de frutos de açaí no Brasil cresceu em torno de 100 mil hectares, saindo de 137 mil hectares em 2015 para 233 mil hectares em 2022, conforme os dados mais recentes do IBGE. E, nesse mesmo intervalo, a produção nacional saltou de 1 milhão de toneladas para 1 milhão e 700 mil toneladas.

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