sábado, 5 outubro, 2024
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    Programação internacional de Lula no G20 é obscurecida por enganos

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    Em busca de promover uma programação que traga destaque para o Brasil mediante ao G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está comprometendo esses esforços com crises diplomáticas que provocou ao longo dos últimos meses. Para especialistas, desde pequenas “escorregadas” a sérias distorções da realidade e relativismos injustificáveis protagonizados pelo petista têm eclipsado a programação de sua política externa.

    Desde que assumiu o terceiro mandato em janeiro de 2023, Lula adotou o slogan de que “o Brasil retornou” ao cenário internacional. À frente do G20 desde dezembro, o petista busca ecoar discursos como a reforma dos organismos globais, a programação ecológica e transição energética e o combate à desigualdade social. No entanto, o que tem chamado atenção na política externa de Lula, são as polêmicas.

    No último ano, Lula fez declarações polêmicas sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia que o afastaram da possibilidade de ser um mediador, como ele desejava. Em uma de suas afirmações, Lula chegou a igualar a responsabilidade de guerra entre os dois países.

    Mais recentemente, o mandatário causou uma crise diplomática entre o Brasil e Israel após fazer críticas ao país. Enfrentando uma guerra contra o grupo terrorista Hamas, Lula comparou a contraofensiva israelense na Faixa de Gaza ao Holocausto. Após a comparação, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou Lula persona non grata e chamou de “imperdoável” o que foi dito pelo petista.

    Para analistas, os enganos do chefe do Executivo brasileiro atrasam a programação internacional do Brasil. O petista também não consegue promover programações antigas e que ele tem tentado difundir à frente do G20 e em fóruns internacionais. Ao mesmo tempo que a crise diplomática com Israel escalonava, o Brasil sediava o Encontro de Chanceleres do G20 no Rio de Janeiro — reunião que acabou sendo ofuscada pelo ruído criado com Jerusalém.

    “Esperava-se que essa reunião [do G20 no Rio de Janeiro] tivesse uma importância mais alardeada e que trouxesse prestígio para o Brasil e também a possibilidade de desenvolver, sediando a reunião, a condição de propor políticas e ações de governança internacional. Isso deveria ficar em evidência dentro de outras coisas que o país tem proposto, como mecanismos de políticas sociais de combate à fome; desenvolvimento econômico; medidas de proteção ambiental… mas tudo isso acabou sendo eclipsado”, avalia Elton Gomes, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

    Crise com Israel obscureceu encontro de chanceleres do G20 no Rio

    A crise entre Brasil e Israel movimentou o Palácio do Planalto e o Itamaraty nos últimos dias. Além dos ruídos entre os dois países, os Estados Unidos — país que tem manifestado apoio irredutível a Jerusalém — se posicionaram contra as acusações de Lula sobre Israel.

    “Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível. Queremos ver o aumento de ajuda humanitária para civis em Gaza. Mas não concordamos com esses comentários”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller.

    A crise diplomática com Israel aconteceu na mesma semana em que o Brasil recebeu chanceleres do G20 no Rio de Janeiro. No evento oferecido pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, o intuito era discutir a situação geopolítica do mundo atual com os países-membros do bloco.

    Diversas nações enviaram seus representantes para participar do encontro, entre elas Rússia, China, Estados Unidos, Argentina e União Europeia. A cúpula que durou dois dias teve pouco destaque na mídia nacional ou internacional, apesar da relevância do tema em discussão.

    “O acontecimento foi ofuscado e isso ocorreu devido às declarações de Lula contra o Estado de Israel. Assim, toda essa questão [que se desenrolou durante a reunião de chanceleres no G20], que já apresenta as muitas divisões entre os países mais ricos e os países em desenvolvimento, os Estados Unidos e China em busca da hegemonia mundial, e a problemática ambiental cada vez mais relevante, acabaram não sendo tão exploradas devido a essa declaração”, destaca Gomes.

    Nos arredores da cúpula, Lula teve encontros individuais que ganharam mais visibilidade e chamaram a atenção da mídia. Em seu gabinete no Palácio do Planalto, o petista recebeu o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, dois dias após o incidente com Israel. O secretário veio para a reunião do G20 mas fez uma parada em Brasília especificamente para se reunir com o petista.

    Durante o encontro, Blinken reiterou o posicionamento contrário dos EUA às declarações de Lula e elucidou como a memória do Holocausto, que resultou no genocídio de milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, continua sendo uma lembrança marcante para o povo israelense.

    Declarações de Lula acerca de conflitos o afastaram de discussões internacionais

    Sob o lema de que o “Brasil voltou”, Lula iniciou este terceiro mandato com o propósito de inserir o país nas principais conversas globais. Já nos primeiros meses deste governo, ele chegou a propor a criação de um Clube da Paz para resolver o choque entre Rússia e Ucrânia na Europa.

    Essa proposta, que não passou de uma ideia, foi deixada de lado quando o brasileiro começou a proferir declarações conflitantes sobre o problema. Entre insinuações à Rússia, ele culpou o G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Itália, França, Japão e Reino Unido) pelo conflito armado entre os dois países e também pela situação da Ucrânia.

    Essas afirmações lhe acarretaram uma série de críticas. O Brasil também se mostrou contra a assinatura de declarações que condenavam a Rússia pela invasão à Ucrânia. Lula tem evitado receber o presidente Volodymyr Zelensky no país.

    Ainda em outubro, quando o Hamas atacou Israel, Lula afirmou que estava disposto a “contribuir para encontrar uma solução para o conflito” mas se recusou a condenar o grupo terrorista. Além disso, levou sete dias para que o petista rotulasse como terrorista o ataque que ceifou a vida de cerca de 1,2 mil israelenses.

    Desde então, o brasileiro passou a criticar Israel e em mais de uma ocasião qualificou a contraofensiva israelense contra o Hamas como um “genocídio”. Enquanto isso, Lula foi excluído das negociações que visam a encontrar uma solução para a crise no Oriente Médio, ao passo que nações como Estados Unidos, Qatar e Egito ganham destaque nessas tratativas.

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