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Uma obra realizada ao longo de toda uma década pode representar um feito impressionante. Porém, na indústria dos jogos, é o oposto. Mudanças de direção, a demora na divulgação de informações e, principalmente, adiamentos, são vistos como péssimos sinais e geralmente resultam em um produto aquém do aceitável. Skull & Bones é o mais recente exemplo vivo desse efeito.
Lançado em 16 de fevereiro, após 11 anos de desenvolvimento e pelo menos seis adiamentos anunciados, o jogo da Ubisoft Singapura surgiu de uma ideia interessante. Quem jogou Assassin’s Creed IV: Black Flag pode se lembrar das batalhas navais, introduzidas como grande novidade em um título que fazia a ponte entre duas gerações de plataformas. Diante desse sucesso, veio a ideia de criar um título em cima disso.
Os efeitos do tempo são percebidos constantemente. Skull & Bones parte de uma boa premissa e até apresenta algumas propostas interessantes para um jogo de 2014 ou, até mesmo, um spin-off marítimo da franquia dos assassinos. Uma década depois, no entanto, o resultado é tosco, com o perdão da expressão, e torna ainda mais bizarra a ideia de que um título desse tipo levou tanto tempo para chegar às prateleiras.
Um jogo que não é o que parece
Não é possível afirmar com certeza o que Skull & Bones quer ser, no que talvez seja o reflexo mais marcante de seu longo e tortuoso ciclo de desenvolvimento. A base, obviamente, nos remete diretamente a um jogo de pirataria e navegação, nos fazendo lembrar do excelente Sea of Thieves; a execução, porém, é bem diferente.
Isso ocorre porque, desde o início, percebemos que grande parte da proposta do jogo é baseada na busca por suprimentos. Claro, estamos falando de um jogo supostamente de serviço e com foco no online, porém durante as primeiras horas de jogo, tudo o que fazemos é procurar materiais, retornar à base para aprimorar nossa embarcação para podermos repetir tudo de novo.
É um ciclo bastante desinteressante, especialmente quando colocado no início de um jogo que, como forma de combater uma percepção de rejeição, recebeu versão de testes gratuita. A ideia da Ubisoft era que os jogadores experimentassem Skull & Bones e adquirissem o jogo para prosseguir na jornada — uma semana após o lançamento, informações extraoficiais mostravam uma contagem de menos de um milhão de jogadores em todo o mundo.
Além da forma sem graça de começar o jogo, o saque de recursos sequer é interessante. Enquanto o jogador pode desembarcar em ilhas e cidades que servem como centros de melhoria e compra de suprimentos, a exploração do mapa é realizada de dentro do próprio barco, com uma QTE rápida que aparece na tela e determina a quantidade de itens coletados.
A comparação direta não é com um jogo de grande escala, como a Ubisoft afirmava durante todo o marketing, mas sim com os chamados clickers de celular, nos quais o objetivo é apenas tocar na tela. Pressionamentos sucessivos de botões e uma navegação sem sentido, além de pesada e pouco responsiva, completam uma experiência das mais ruins.
Vamos então para os combates, igualmente repetitivos e maiores vítimas dos controles. Com sua tripulação, o jogador controla a embarcação e também os disparos, porém a verdade é que estará sempre se colocando ao lado de oponentes e apertando o gatilho repetidamente, torcendo para que a barra de vida do adversário chegue ao fim antes da própria.
Outra promessa vai por água abaixo aqui, já que a baixa população de jogadores faz com que os mares de Skull & Bonessejam ocupados por bots. Eles raramente irão interferir contigo se não forem atacados primeiro e, após o primeiro confronto, o jogador notará que há pouca motivação para fazê-lo diante da baixa qualidade das batalhas marítimas.
Para concluir essa refeição sem graça, surge então a mecânica de invadir os navios inimigos. Quem jogou Assassin’s Creed IV: Black Flag recorda desses momentos empolgantes que terminavam em combates no convés, mas nada disso está presente aqui. A ação, que encerra os confrontos marítimos, baseia-se no lançamento de cordas com ganchos que parecem ter uma probabilidade aleatória de se prenderem na embarcação dos oponentes.
Caso a tentativa seja bem-sucedida, você verá uma cena rápida indicando o êxito, por trás da interface de usuário que mostra os ganhos e a vitória no embate. Apenas isso, sem espadas, lutas ou muito menos algum tipo de controle sobre a embarcação inimiga — elas, também, servem apenas como uma fonte de itens.
Um jogo mediano de 2014
As influências de um Assassin’s Creed IV: Black Flag também são visíveis no conjunto gráfico de Skull & Bones, mas não de forma positiva. Aqui, temos em mãos um jogo que seria muito bonito no PlayStation 3 e interessante no início da geração do PS4, o que também se aplica às suas mecânicas, como já mencionamos. É uma “pena” que estejamos em 2024.
Entre visuais extremamente datados e os tradicionais bugs, encontramos também personagens mal modelados. As embarcações são interessantes, assim como os inúmeros cosméticos disponíveis como incentivo para microtransações e como indicadores de progresso. Novamente, porém, não há nada que impressione diante da simplicidade mal executada do jogo.
Em outro aspecto, dentre os muitos que já mencionamos parecerem surreais, ver imagens da demonstração do título que estava disponível na E3 de 2018 torna o resultado ainda mais inexplicável. Naquela época, apesar de já marcada por adiamentos e problemas de desenvolvimento, era possível esperar por um título bonito e interessante, o que não é o caso da versão final que chegou às nossas mãos.
Dá para voltar, inclusive, ao já mencionado Sea of Thieves e lembrar que Skull & Bones não poderia ter sido lançado em momento pior. O título da Rare foi lançado em 2018 e recebeu várias expansões desde então, além de contar com uma base fiel de jogadores encantados pela ambientação mística e a boa jogabilidade, especialmente no que diz respeito ao controle do barco, que utiliza mapas em vez de indicadores virtuais, aumentando a imersão e a chance de descobrir surpresas no caminho.
Seis anos depois, inclusive, o título está prestes a chegar ao PlayStation 5, em uma polêmica decisão de fim de exclusividade pela Microsoft, que gerou debates por semanas. Em um cenário no qual jogos de piratas são pouco frequentes, Skull & Bones acabou sendo lançado justamente quando um dos melhores do gênero voltou a atrair a atenção dos jogadores.
Vale a pena jogar Skull & Bones?
Skull & Bones poderia ter sido um jogo interessante há 10 anos, logo após o lançamento de Assassin’s Creed IV: Black Flag e em uma época de propostas mais simples. Atualmente, com gráficos pouco atraentes e jogabilidade simples, para dizer o mínimo, não alcança um patamar aceitável mesmo fazendo parte de uma temática pouco explorada.
Mais de uma década de produção, diversos adiamentos e mudanças de rumo transformaram o jogo em um navio fantasma sem expressão, navegando pelos mares da indústria de jogos em busca de uma glória que nunca existiu. De sua principal influência, restou muito pouco, enquanto os problemas sobram.
Se você estiver bastante curioso para saber o que levou a Ubisoft a investir dezenas de milhões de dólares e mais de uma década de desenvolvimento, experimente o teste de Skull & Bones. A versão oferece acesso a oito horas de jogo gratuito, mais do que suficiente para testemunhar a tragédia que é o jogo.
Skull & Bones está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. A produção é da Ubisoft Singapura.
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