sábado, 14 setembro, 2024
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    Tentativa de assassinato de Trump fortalece narrativa de perseguição a Bolsonaro

    O atentado a tiros sofrido pelo antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump neste sábado (13), durante um comício de sua campanha para tentar retornar à Casa Branca, provocou novo engajamento não apenas entre seus apoiadores. No Brasil, parlamentares conservadores, sobretudo os mais próximos do antigo presidente Jair Bolsonaro (PL), reagiram rapidamente ao episódio, considerando-o um impulso à candidatura do republicano e um reforço ao discurso dos principais nomes da direita mundial de que existe perseguição contra esse espectro político.

    Após uma semana em que Bolsonaro enfrentou o avanço de inquéritos da Polícia Federal (PF) sobre o suposto desvio de joias sauditas e sobre a eventual formação de uma “Abin paralela” no seu governo, analistas ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que o dramático episódio da corrida presidencial americana afetou o cenário brasileiro, com reflexo direto no noticiário e favorecendo a tese de perseguição à oposição.

    Comparado instantaneamente ao ataque a faca contra Bolsonaro em 2018, também durante a corrida presidencial, o atentado contra Trump se juntou à série de similaridades nas trajetórias dos antigos presidentes pela busca do comando das maiores nações das Américas. Ambos escaparam da tentativa de assassinato por muito pouco, algo que eles mesmos atribuíram em entrevistas a um milagre de Deus.

    Caminhos dos antigos presidentes colecionam série de coincidências

    Além de serem alvo da violência política, Bolsonaro e Trump compartilham ainda o fato de enfrentarem problemas com a Justiça em diversas frentes, terem seus governos seriamente prejudicados pelo impacto da Covid, serem alvo de críticas recorrentes de grupos de mídia tradicional e, ainda, serem acusados de instigar revoltas populares contra as suas derrotas nas urnas.

    Outras coincidências reforçam a percepção de que Trump e Bolsonaro, com suas personalidades carismáticas e milhões de seguidores nas redes sociais e nas ruas, se opõem às posturas e lideranças estabelecidas nos meios político, jurídico, midiático e na sociedade civil.

    Eleitos uma vez por essa postura antissistema, eles foram derrotados quando tentaram a reeleição. Apesar disso, mantiveram a sua relevância durante os governos de seus adversários, políticos conhecidos e consolidados do lado rival.

    Para os apoiadores do mandatário brasileiro, o atentado na campanha dos EUA serviu também revigorar a perspectiva de um maior favoritismo do candidato republicano na eleição de novembro, visto como um forte representando na luta contra o establishment, e também para fortalecer a imagem de Bolsonaro diante do crescente cerco pela PF e o Judiciário.

    Aliados apontam atentado como recurso final para tirar líderes da direita de cena

    O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) estabeleceu nas redes sociais uma linha de argumentação que foi seguida prontamente pela maior parte da bancada de direita no Congresso, apontando o atentado contra Trump como uma repetição de fatos ocorridos no Brasil, na campanha de 2018.

    “O método é o mesmo: primeiro eles te cancelam, depois eles tentam te colocar na cadeia, se ambos falharem, tentam te matar. Ser contra o sistema é o ato mais corajoso que existe. E por que eles tentam eliminá-los a qualquer custo? Porque isso inspira a esperança nas multidões”, disse.

    O parlamentar fez ainda uma reflexão sobre a frase dita por Trump no momento de deixar o comício, amparado por agentes, pedindo para que as pessoas lutassem. “Lutem, porque você nunca sabe quão poderosa a sua luta significa para o mundo”, concluiu.

    O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro fizeramagremiações nas mídias sociais entre os acontecimentos do atiramento em Donald Trump e punhalada em Jair Bolsonaro como resultado do discurso de ódio da centro-esquerda.

    “Assim como Jair Bolsonaro no Brasil, tentam assassinar Donald Trump porque ele já está eleito! Se Deus quiser, ambos ainda contribuirão significativamente com seus países”, afirmou Flávio Bolsonaro. “Ataques são direcionados às pessoas de bem e conservadoras”, declarou o próprio ex-presidente brasileiro no último domingo (14).

    Bolsonaro também buscou estabelecer paralelos entre as duas situações e adiantou sua presença na posse de Trump, sem mencionar o fato de que seu passaporte está impedido pela Justiça atualmente. Ele prosseguiu com o intenso ritmo de viagens mesmo após o início de nova etapa da operação que investiga a suposta “Abin paralela” durante sua gestão e após ter sido indiciado pela PF em apuração sobre a comercialização de joias recebidas como presente durante seu mandato presidencial.

    Antes mesmo do ataque contra Trump, ele já havia retomado a lembrança da tentativa de assassinato que sofreu por parte de Adélio Bispo, exigindo mais avanços na investigação por parte da PF, que ele considera insuficiente. Ele também mencionou que o atual diretor de Inteligência da corporação foi o delegado encarregado do caso.

    Violência política nos EUA reforça a tese de perseguição política contra a direita

    Entre aliados de Bolsonaro, a preocupação com o impacto político das investigações da PF se justifica pelo potencial desgaste com o principal apoiador da direita. Contudo, a nova conjuntura trazida pelo episódio de violência política nos EUA possibilitou uma rápida harmonização e realinhamento no discurso de defesa do campo conservador e de promoção de candidaturas nas eleições municipais deste ano.

    Da mesma maneira, acreditam que a influência dos EUA na geopolítica global e regional pode fazer com que um eventual retorno de Trump ao poder seja um fator relevante para interferir no cenário eleitoral brasileiro.

    No momento em que cresce a pressão para a retirada do democrata Joe Biden da disputa presidencial, devido as suas repetidas demonstrações de fragilidade física e mental, as atenções se voltam para Trump e para a convenção republicana para confirmá-lo como candidato.

    Até mesmo aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que a situação tende a aumentar a pressão contra Biden e a aproximar o candidato republicano da vitória nas eleições americanas. Lula já afirmou abertamente que torce pela vitória do democrata, alertando que, caso Trump vença, “não temos noção do que ele fará”.

    Declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030 por ter sido condenado por abuso de poder e desvio de finalidade ao se reunir com embaixadores em julho de 2022, quando questionou a confiabilidade das urnas eletrônicas, Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal em um inquérito envolvendo a falsificação de certificados de vacina contra a Covid-19.

    Ele também está sob investigação por supostas tentativas de golpe de Estado, incluindo sua participação nos atentados de 8 de janeiro de 2023. Parte dessas investigações está no âmbito do inquérito das milícias digitais, sob responsabilidade do ministro Alexandre de Moraes, do STF, iniciado em 2021, que pode resultar em condenações para Bolsonaro.

    Especialistas avaliam impacto do atiramento contra Trump sobre cerco judicial a Bolsonaro

    Antonio Flávio Testa, professor aposentado de Ciências Políticas da UnB, acredita que a escalada de tensões na eleição americana beneficia o discurso da direita nos EUA e no Brasil contra o sistema estabelecido. Testa acredita que, em relação ao Judiciário brasileiro, é altamente provável um possível atraso nas investidas contra Bolsonaro, especialmente diante da perspectiva de aumento da tensão entre esquerda e direita.

    “É evidente que Trump se fortalecerá. Isso ficou claro com o ajuste deseu pronunciamento no evento. Por outro lado, a maioria da grande imprensa global continua criticando o ex-mandatário, alinhada aos interesses de grandes empresas”, declarou. Neste cenário, a postura do X, de Elon Musk, se sobressai por estar em sintonia com o republicano.

    Por outro lado, o estrategista eleitoral e analista político Paulo Kramer questiona se o Judiciário irá sucumbir às pressões da opinião pública para suavizar suas medidas contra Jair Bolsonaro, ainda que influenciado por um novo contexto internacional. Entretanto, o especialista tem convicção de que a mobilização dos apoiadores do ex-presidente irá se intensificar com os desdobramentos da campanha de Trump.

    “O episódio envolvendo o confronto entre ele e Elon Musk foi muito mais eficaz para sensibilizar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, porque evidenciou para o mundo a parcialidade do responsável pelos inquéritos contra Bolsonaro e os participantes do 8 de janeiro”, afirmou Kramer.

    Segundo Daniel Afonso da Silva, estudioso do Núcleo de Estudos em Relações Internacionais da USP, o atentado contra Trump teve um impacto imediato na mudança de tom na campanha eleitoral americana, com muitos acreditando que Trump obteve vantagem sobre Biden.

    “O impacto do ataque na política brasileira é evidente, mas a extensão ainda é incerta. A polarização nos Estados Unidos e no Brasil é intensa, e as bases de apoio a Bolsonaro continuam sólidas, com estudos indicando uma divisão expressiva no eleitorado entre seus seguidores e opositores”, afirmou.

    Diante da ascensão global de movimentos extremistas, tanto de direita quanto de esquerda, sobretudo na Europa, Silva enxerga a possibilidade de um cenário mundial de radicalização política crescente, com implicações relevantes para o futuro do Brasil e dos Estados Unidos.

    Sobre as incessantes investigações judiciais e acusações que Bolsonaro enfrenta, ele observa que “as alegações contra ele apresentam fragilidades, tanto em termos de evidências quanto de conceitos”.

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