7 formas pelas quais a cólera mostra que nossos princípios estão desalinhados

O já falecido teólogo e pastor Tim Keller certa vez escreveu que a ira é a energia utilizada para defender o que você ama. Essa observação perspicaz evidencia que a ira vai além de um simples impulso – ela está ligada a uma determinação feroz de alcançar aquilo que é mais desejado na vida. Quando esses desejos são frustrados, a ira atua como um sinal de alerta para si mesmo e para os outros, indicando que essa pessoa não deve ser subestimada e que seus desejos são de extrema importância para ela – portanto, é melhor ter cautela.

A maioria das pessoas comuns concorda que a ira geralmente é uma emoção inútil e perigosa nos seres humanos. Contudo, não penso que seja pelo motivo de a ira ser intrinsecamente errada. Como Keller apontou, a ira é simplesmente o resultado de defender de forma apaixonada aquilo que se ama.

O problema, por óbvio, é que muitas vezes nossos afetos não estão bem direcionados. Amamos excessivamente algumas coisas e outras não tanto quanto deveríamos.

Amor desordenado

Ao dizer que nossos amores estão desordenados, estou sugerindo um consenso comum sobre esses assuntos. Acredito que qualquer sociedade depende, no mínimo, de um amplo acordo sobre o que é bom amar e sobre o que pode ser perigoso valorizar em excesso. Isso não significa que haja concordância absoluta ou que todos devam se conformar, mas sim que é necessário haver algum terreno comum para a construção de leis, cultura, normas e confiança entre nós.

Com base nisso, encorajo você a reconsiderar seus afetos e apresento humildemente uma lista de valores que considero que temos amado em excesso. Isso não significa que todos sejam culpados disso, ou mesmo que seja errado defender esses valores. O que acontece é que corremos o risco de elevá-los em detrimento de ideais mais nobres.

1. Fortuna

Tenho a sorte de viver em um dos países mais ricos da história, um lugar onde a abundância deveria redefinir nossas prioridades e libertar muitos de nós para olhar além de nossas necessidades materiais. No entanto, muitas vezes, sinto frustração pela minha incapacidade de adquirir o próximo nível de luxos que estão fora do meu alcance financeiro – evidência de que meu desejo por tais coisas é praticamente insaciável. Esse amor excessivo pela fortuna material exclui outras formas de riqueza, como o afeto, a beleza e a saúde.

2. Autossuficiência

Poucas coisas provocam tanta ira quanto ter que abrir mão de nossa autonomia e depender dos outros. Desprezamos o sentimento de fragilidade e a dívida que possamos ter. Talvez tenhamos elevado demais nosso amor pela independência. Nosso afastamento de grupos cívicos e igrejas pode ser resultado de nossa relutância em nos comprometermos uns com os outros ou em assumir responsabilidades que possamos vir a lamentar posteriormente.

3. Agilidade

Meus filhos nunca se preparam para dormir tão rapidamente quanto eu gostaria, pois – convenhamos – são crianças e ainda não foram completamente doutrinados no culto à agilidade do qual nós, adultos, fazemos parte. Em vez de desacelerar e apreciar o tempo que passo com eles, muitas vezes despendo minha energia mental apressando-os, tentando concluir toda a rotina.

4. Juventude

Você já se sentiu frustrado com uma pessoa

Você já se sentiu como se estivesse ultrapassado em sua vida por ser lento ou fora de contato? Comparando-se com outras culturas ao redor do mundo, a nossa não dá tanto valor à sabedoria e à experiência da idade. Muitas vezes deixamos de lado os idosos rapidamente, impulsionados pelo nosso amor e devoção aos jovens.

5. Excelência

Algumas pessoas, que são demasiadamente tímidas para expressar raiva em relação aos outros, acabam sendo autocríticas. Elas ficam frustradas consigo mesmas por não atingirem a perfeição, por não descobrirem coisas novas ou por enfrentarem desafios. Essa frustração revela um forte anseio por excelência e realização.

6. Doutrina

A raiva mais intensa e constrangedora que presenciei geralmente está ligada à política. Nós nos envolvemos profundamente com nossas ideologias e as integramos às nossas identidades. Isso significa que, quando questionam nossas crenças sagradas, nos sentimos profundamente ameaçados e reagimos com irritação.

7. Tecnologia

Como pai na sociedade atual, a punição mais severa que pode aplicar aos seus filhos é restringir o tempo de tela deles. Se você fizer isso, esteja preparado para observar o quanto as crianças se apegam a esses dispositivos. E se achar que isso não se aplica aos adultos, é apenas porque raramente nos permitimos sequer um momento longe de nossas valiosas telas.

Um guia para a redefinição de valores

Aproveite a oportunidade para refletir sobre as situações que despertam raiva em você e se elas realmente refletem os valores que você diz priorizar. Caso contrário, talvez a cultura em que estamos inseridos tenha influenciado você mais do que imagina – fazendo com que suas prioridades fiquem desalinhadas. Da próxima vez que sentir um acesso de raiva, agradeça, pois seu cérebro está fornecendo um indicador valioso sobre as coisas que são importantes para você.