Os Estados Unidos discordam da proposta de um tributo estatal que arrecadaria os recursos de bilionários – muitos deles criadores e mantenedores de milhares de postos de trabalho ao redor do mundo. A posição é da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen. A sugestão foi apresentada pelo governo Lula, que aproveitou a chance do Brasil liderar o G20 este ano e aderiu à ideia. Funcionários franceses, espanhóis, alemães e sul-africanos também apoiaram a proposta.
O projeto consistiria em estabelecer uma tributação mínima global sobre corporações. A medida exigiria que os “super-ricos”, como frequentemente são chamados nos meios de comunicação brasileiros, pagassem no mínimo 2% de suas fortunas anualmente. Cerca de 140 países aderiram a essa sugestão em 2021, mas ela tem encontrado resistência nos Estados Unidos e em outras nações.
“Defendemos a taxação progressiva. No entanto, a ideia de um acordo global comum para tributar bilionários com receitas redistribuídas de alguma forma – não apoiamos um processo para tentar alcançar isso. Isso é algo que não podemos concordar”, afirmou Yellen.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos se encontrará com ministros das finanças de vários países, mas já adiantou que Washington não apoiará as negociações do G20 sobre o assunto.
Evento do G20 terá um custo superior a R$300 milhões para o povo brasileiro
Apesar do nome, o Grupo dos Vinte é composto por 19 países cujas economias estão entre as maiores do mundo. Fundado em 1999, foi concebido em um contexto de crise econômica em algumas nações emergentes e inicialmente tinha um formato mais técnico, limitando-se a debates quantitativos sobre o sistema financeiro global. Tanto que, durante anos, a organização realizou encontros apenas com os ministros da Fazenda de cada país.
Após a crise econômica mundial de 2008, passou a ser permitida a participação dos chefes de Estado, o que transformou o grupo em um palco favorável para líderes políticos expressarem seus interesses específicos, com repercussão global. De 1.º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024, o Brasil detém a Presidência do G20 e será encarregado de organizar a próxima cúpula, no final deste ano.
De acordo com um levantamento divulgado por veículos de imprensa brasileiros, o governo Lula planeja investir até R$304 milhões na contratação de serviços para a organização dos eventos do G20, que ocorrerão em diversas cidades do país. O governo federal realizou uma mega licitação com 43 lotes divididos em sete grupos distintos. Foram previstas aquisições para 19 ministérios de Lula, como Secom, Turismo, Saúde e outras pastas.
Mais tributos aos ricos não implicam em maior benefício para a população
Embora seja apoiado pela opinião pública por apresentar uma proposta de combate à desigualdade social, não se leva em consideração o número de demissões em massa que poderiam decorrer dessa medida arbitrária. O dono da Riachuelo, empresário Flávio Rocha, classificou em 2021 a tributação dos grandes geradores de riqueza como uma “abordagem não inteligente”. Para o empresário, a iniciativa poderia incentivar os ricos a deixarem o Brasil.
Outro ponto que fragiliza a demanda do governo brasileiro no G20 é a falta de garantias de que os países – cada um com sua própria realidade geopolítica, militar e econômica – realmente usarão os recursos em benefício da população, em vez de fortalecer o próprio Estado.