Napoleão, o grandioso dirigido por Ridley Scott, chegou à telona com a árdua missão de retratar a vida e proezas do imperador francês Napoleão Bonaparte. Com a exibição do filme já em curso, surge a indagação sobre se Scott foi o mais fiel possível à história ou se acrescentou elementos fictícios para tornar a trama do filme mais cativante.
Ao promover o filme, o diretor afirmou várias vezes que não se preocupa com a opinião dos historiadores sobre a veracidade dos fatos da cinebiografia, embora tenha contado com a consultoria de um grupo de especialistas, incluindo o escritor Michael Broers. Assim, fica evidente que o experiente cineasta, conhecido por épicos como Gladiador e Cruzada, optou por uma abordagem que oscila entre realidade e fantasia em relação ao famoso imperador francês.
Napoleão estava presente na execução de Maria Antonieta?
O filme inicia durante a Revolução Francesa e a execução da Rainha Maria Antonieta na guilhotina, em 1793. Entre a multidão furiosa, Napoleão observa em silêncio, testemunhando a queda de um regime e o surgimento de outro — ou melhor, a oportunidade para que ele construísse o seu próprio. No entanto, segundo Broers, isso não ocorreu na vida real.
Em entrevista ao site Timeout, o autor revela que, na época da execução, Napoleão estava no sul da França. O historiador mencionou que o militar estava em Paris quando Luis XVI e Maria Antonieta foram presos em 1792 e, de acordo com cartas e diários, relatou que ficou apavorado com a fúria da população, algo que o marcou profundamente.
O cavalo de Napoleão realmente foi atingido por um tiro de canhão?
Em uma das cenas mais impressionantes dos primeiros minutos do filme, o cerco de Toulon mostra Napoleão avançando para a batalha, apenas para, segundos depois, seu cavalo ser atingido por um tiro de canhão que o destroça. A cena é impactante e demonstra a resiliência do militar, que prossegue a pé na batalha junto com seus soldados.
No entanto, na realidade, Napoleão enfrentou dificuldades diferentes durante a batalha. Após elaborar a estratégia para o combate, Bonaparte partiu para a luta, mas, montado a cavalo, foi gravemente ferido por uma baioneta e baleado na perna, segundo Broers.
Napoleão continuou no combate, o que foi de extrema importância, uma vez que, mesmo muito jovem, contribuiu para provar seu valor para suas tropas de veteranos, que passaram a respeitá-lo mais.
Portanto, a ideia de seu cavalo ser atingido por um tiro de canhão e ele guardando a bala depois foi pura ficção, apesar de ser uma cena bastante interessante e que condensa bem o que realmente aconteceu.
Napoleão disparou contra as Pirâmides?
Em uma das cenas que retratam as incursões de Napoleão, é apresentado um breve conflito no Egito, no qual as tropas francesas dispararam canhões contra as Pirâmides de Gizé. Segundo historiadores, isso não aconteceu, e Broers revelou que foi uma criação de Ridley Scott.
“Eu disse a Ridley “Sério, atirar no topo das pirâmides?”. Ele me respondeu “Mas você riu da ideia, não riu?”, e ali eu percebi que ele não estava fazendo um documentário, estava fazendo um filme”.
Qual era a relação de Napoleão com Josefina?
O enfoque da história é o relacionamento de Napoleão com Josefina de Beauharnais, interpretada por Vanessa Kirby (Pieces of a Woman). No filme, o futuro imperador da França se mostra completamente apaixonado e vulnerável perante Josefina, que já havia sido casada e tinha dois filhos.
O filme apresenta Josefina em festas e em outras ocasiões sociais, o que indica que ela possuía mais experiência que Napoleão, algo que de fato ocorreu. Isso foi descrito pelo próprio Bonaparte em diários e cartas, nos quais relatava sua inexperiência sexual, algo que o deixava muito inseguro com Josefina.
Outro aspecto que a adaptação não aborda é a descrição da esposa de Napoleão, que, segundo Michael Broers, praticamente não possuía dentes devido ao hábito de mascar cana, costume adquirido durante seu tempo vivido no Caribe.
Os jornais realmente chamaram Napoleão de corno?
Ao longo do filme, as traições de Josefina se tornam manchetes em jornais franceses, que zombam da situação e de Napoleão. Segundo historiadores, a situação foi ainda pior do que no filme.
Enquanto o filme retrata algumas passagens em que isso ocorre, de acordo com Broers, as coisas se tornaram mais caóticas quando jornais sensacionalistas da época obtiveram as cartas apaixonadas e desesperadas de Napoleão para a mulher e as usaram como base para matérias sobre o relacionamento. As colunas de fofoca já faziam sucesso naquela época.
Napoleão se encontrou com o Duque de Wellington?
O filme alcança seu clímax com a Batalha de Waterloo, com as forças de Napoleão contra o exército inglês, liderado pelo Duque de Wellington. O filme mostra um encontro entre as duas figuras após o combate, já em solo britânica, algo que historiadores afirmam nunca ter ocorrido.
De acordo com estudiosos, Napoleão nunca esteve no Reino Unido, mas recebeu dos ingleses um novo navio, usado para levá-lo até seu exílio na ilha de Santa Helena.
Napoleão realmente veio do nada?
Uma das questões abordadas no filme sobre a ascensão de Napoleão Bonaparte é que ele teria surgido do nada, conquistando cada vez mais até alcançar o trono da França. O historiador britânico Dan Snow comentou em seu canal no Tiktok que o slogan do filme, “Ele veio do nada. Ele conquistou tudo”, é uma mentira, pois Napoleão Bonaparte teria nascido em uma família de baixa nobreza na ilha de Córsega.
Isso lhe teria proporcionado oportunidades e conexões que ajudaram Napoleão a iniciar sua carreira e estabelecer seu nome dentro do exército. Ele pode não ter recebido tudo de mãos beijadas, mas também não surgiu do nada.
Napoleão está sendo exibido nos cinemas brasileiros.
Veja o trailer de Napoleão:
