segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Afirmação de Lula sobre Israel agrava sua relação com seguidores das igrejas evangélicas


    A analogia feita pelo chefe do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre as ações militares de Israel na Faixa de Gaza e a extermínio de judeus por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial vai piorar as suas ligações com as bancadas evangélicas no Congresso. Elas têm associação política e religiosa com o Estado judeu e ainda partilham da indignação dos líderes de diversas denominações cristãs e dos seus milhões de fiéis com o governo.

    A declaração de Lula na manhã de domingo (18), que o tornou “persona non grata” por Israel, deve ainda impulsionar adesões ao ato político agendado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o próximo domingo (25), em São Paulo.

    A manifestação da Avenida Paulista, que busca contradizer acusações judiciais entendidas como perseguição política por Bolsonaro e os seus aliados, é coordenada pelo pastor Silas Malafaia e reflete também crescentes tensões entre igrejas e o chefe do Executivo. Estão previstas as presenças de cerca de 100 parlamentares, três governadores e outras autoridades. Além da crise diplomática que causou, a fala de Lula provocou reações desfavoráveis da sociedade brasileira, a começar pela comunidade judaica, da qual faz parte o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

    Fábio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-chefe da Comunicação do governo dele, classificou a atitude de Lula de “desprezível” e prometeu conversar com a bancada evangélica para que seus integrantes reagissem em escala inédita. Ele, que é judeu, também informou que proporia a Bolsonaro e Malafaia o convite ao embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para participar do ato na Avenida Paulista, onde seria “muito bem recebido e acolhido”.

    Segundo levantamento da Confederação Israelita do Brasil (Conib), apenas nestes dois primeiros meses de 2024, até domingo (18), já foram registradas 370 denúncias de ataques antissemitas e ameaças a judeus no Brasil.

    A escalada de tensões entre Lula e parlamentares evangélicos vem ocorrendo desde o início do seu terceiro mandato, mesmo após vários gestos voltados para estabelecer canais de comunicação com uma das maiores bancadas do Congresso, especialmente da Câmara, com foco em votações e na governabilidade. A frente evangélica do Congresso, coordenada pelo deputado Eli Borges (PL-TO), conta com 203 deputados e 26 senadores, entre os quais se incluem católicos alinhados com a agenda conservadora de costumes. Esse bloco informal tem mostrado mais simpatia com o governo anterior, de Bolsonaro, o que tem gerado conflitos nas conversas com líderes do Planalto.

    O chefe da República também tem feito esforços por uma aproximação com os seguidores das igrejas evangélicas, por reconhecer o segmento social como um dos que cada vez mais influenciam nos resultados eleitorais. Mas as temáticas progressistas da gestão petista e até mesmo a recente sobrecarga dos templos evangélicos acabaram por levar a mais afastamento, como mostram sondagens de opinião. Segundo recente levantamento de janeiro do Paraná Pesquisas, Lula teria o voto de 28,5% dos seguidores das igrejas evangélicas se a eleição presidencial fosse hoje. Mas a maioria (43,6%) preferiria Bolsonaro.

    Apoio ao Hamas de Lula se percebe desde ataque terrorista

    Desde o início da guerra, Lula tem incomodado os israelenses, alinhado com a tradicional posição da esquerda em apoio aos palestinos. O embaixador Zonshine chegou a criticar abertamente o governo na Câmara, em reunião com deputados de oposição, no ano passado.

    Agora, a tensão atinge novo patamar ao considerar que o massacre de seis milhões de judeus pelo regime nazista não tem paralelos históricos nem éticos com o conflito em Israel desencadeado após o maior atentado terrorista já sofrido pelo país, perpetrado pelo grupo palestinoHamas em 7 de outubro de 2023.

    A ONU suscita dúvidas sobre a intensidade da retaliação, apesar de não adotar a tese de genocídio apresentada pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, com apoio do Brasil. Ela foi rejeitada logo em sua análise preliminar.

    Israel é visto pelos evangélicos como um território sagrado, cuja designação está definida pelo próprio Deus em textos bíblicos do Antigo Testamento. Existem correntes evangélicas que interpretam até a necessidade da permanência do Estado de Israel para que se assegure a volta de Jesus ao mundo. O estímulo ao turismo religioso na Terra Santa, o uso de símbolos da religião judaica por igrejas cristãs e a presença da bandeira de Israel em eventos políticos de viés conservador e religioso ilustram essa conexão entre o público evangélico e aquele país do Oriente Médio.

    As primeiras manifestações de parlamentares e de outros atores políticos indicam reforço à repulsa de evangélicos, que tende a se exacerbar pelo contexto de polarização ideológica e pelo cenário eleitoral.

    Em nota, o presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Israel, senador Carlos Viana (Podemos-MG), classificou as declarações de Lula como “tendenciosas e desonestas”, que indicam desequilíbrio para presidir “um Brasil negociador de um acordo de paz”. O político, que também lidera a Frente Parlamentar Evangélica no Senado, já havia condenado no fim de semana a intenção de Lula de financiar a Agência de Assistência de Refugiados Palestinos da ONU, cujos membros são acusados de estarem envolvidos em ataques terroristas realizados pelo grupo terrorista Hamas.

    Deputados da oposição apoiam pedido de impeachment de Lula

    A primeira-secretária do bloco Brasil-Israel, deputada Rosana Valle (PL-SP), afirmou que a comparação feita por Lula entre a reação contra o Hamas e o holocausto cruza limites e desrespeita a memória de milhões que morreram sob o regime nazista.

    Pelas redes sociais, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), protestou contra os “rasgos de senilidade, maldade deliberada, ignorância histórica e equívoco moral” revelados por Lula durante o balanço de sua viagem à Etiópia, na capital do país africano. Na entrevista coletiva, o presidente voltou a dizer que os palestinos são vítimas de “genocídio” e a lembrou que o Brasil foi, em 2010, o primeiro país a reconhecer o Estado palestino.

    O líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), ressaltou que o presidente “envergonha o Brasil e ataca o povo judeu”, ao “defender o que é errado e atacar o certo”. Já o senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que o holocausto “é incomparável” e não pode ser banalizado. “Por isso, pedimos desculpas ao mundo e a todos os judeus”.

    Diante desses fatos, dezenas de deputados de oposição elaboraram pedido de impeachment contra Lula, por considerarem que as falas do presidente podem configurar crime de responsabilidade. Eles apontam a proibição legal de se “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”. Além de apoiar o impeachment, Júlia Zanatta (PL-SC) pretende protocolar moção de repúdio a ser votada no plenário na Câmara.

    Um importante sinal da crescente insatisfação com a posição brasileira de viés pró-Hamas veio da pregação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça durante um culto na Igreja Presbiteriana de Pinheiros, na capital paulista, no domingo (18).

    Ele disse que o ideal seria uma postura de neutralidade, mas o Brasil erra ao tomar posicionamento contrário a Israel. “O país tomou sua posição”, lamentou ele ao comentar a conversa que teve em Israel com o embaixador brasileiro, Frederico Meyer.

    Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ficaram em silêncio diante da declaração de Lula. O governo e seus líderes, por sua vez, consideraram a reação de Israel exagerada e atribuíram o mal-estar a falhas de interpretação das declarações do presidente.

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