segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Análise Crítica | Coppola apresenta de forma abrangente o machismo estrutural

    Após visualizar o desempenho de Austin Butler como Elvis na cinebiografia homônima de 2022, dirigida por Baz Luhrmann, é tempo de testemunhar a perspectiva de sua esposa, Priscilla Presley. Intitulado exclusivamente Priscilla, o recente filme de Sofia Coppola traz uma abordagem feminista para o conturbado relacionamento do ícone do rock com a jovem do Brooklyn, e evidencia como o machismo estrutural influenciou negativamente o relacionamento do casal e afetou a vida da protagonista.

    Mantendo sua identidade artística, Coppola coloca em segundo plano os personagens masculinos, concentrando-se em narrar a transformação da jovem de 14 anos, que residia na Alemanha Ocidental devido ao pai militar, de uma garota ingênua em uma esposa infeliz de um dos maiores astros da história.

    Interpretada pela estreante Cailee Spaeny, Priscilla conhece Elvis através de outro oficial dos Estados Unidos, iniciando um relacionamento que culminaria em casamento. É interessante observar como sua vida foi impregnada de restrições desde a adolescência, quando estava sob as ordens do pai, até a vida adulta, quando precisou se submeter aos caprichos do marido.

    Para ilustrar esse contexto, Sofia Copolla emprega diversas estratégias, destacando-se na representação sutil da transição da alegre Priscilla Beaulieu para a aborrecida senhora Presley. Neste ponto, o público percebe que o relacionamento está fadado ao fracasso, e resta apenas acompanhar a distância gradual e o distanciamento emocional de Elvis.

    Se na cinebiografia de Luhrmann o astro impressiona pelo carisma, neste filme ele é apresentado de maneira mais crua, com suas fraquezas expostas. Embora o seu magnetismo e carisma ainda estejam presentes, a realidade é que, para sua esposa, ele era um homem exausto, violento, imaturo e insensível.

    Interpretar Elvis foi um desafio ingrato para o australiano Jacob Elordi (Euphoria). Com boas intenções, ele conseguiu reproduzir os trejeitos e a personalidade do ícone do rock, porém exagerou na dicção, dando a impressão de que estava com algo na boca o tempo todo. Além disso, a diferença de altura também não o favoreceu. Elordi tem 1,96 metro e Elvis media apenas 1,82 metro, o que ficou evidente nas cenas, dando a sensação de que o personagem estava constantemente curvado, talvez para aparentar menor estatura.

    No entanto, o elenco se saiu bem e o desempenho em Priscilla certamente impulsionará a carreira de Cailee Spaeny. Ademais, o figurino e a maquiagem desempenharam papel crucial em tornar a trama mais autêntica, e a opção da diretora de não incluir nenhuma música completa de Elvis na trilha sonora também representa a mensagem que ela desejava transmitir – para Priscilla, o ídolo nunca esteve completamente presente.

    Uma narrativa familiar

    Infelizmente, a história de Priscilla não é singular e é familiar para muitas mulheres que enfrentaram violência doméstica e se viram presas nas humilhações de seus maridos. Neste ponto, surgem as deficiências do filme. Embora seja esclarecedor ver a perspectiva da mulher, a obra de Coppola não traz nada de inovador e acaba girando em círculos, mostrando uma sequência de: Elvis bêbado se divertindo com amigos, Elvis saindo em turnê, Elvis voltando para casa.

    Em determinado momento, a narrativa se esgota e a história carece de reviravoltas ou algo que capture a atenção, e quando isso ocorre, infelizmente o filme chega ao fim. Talvez uma possível solução fosse explorar ainda mais os sentimentos e angústias de Priscilla.e como ela teve determinação de tomar a atitude que mudou sua vida.

    Outra questão é a edição. Em certos momentos, dá a impressão de que as cenas foram simplesmente sobrepostas umas às outras, sem que houvesse efetivamente ligações entre elas. No entanto, de certa maneira, a tríade de Coppola — melancolia, angústia e solidão — está presente e funciona.

    Por outro lado, em comparação com a grandiosidade da obra de Luhrmann, Priscilla realmente não se equipara e, possivelmente, essa não era a intenção, pois a proposta aqui é distinta. É evidente que narrar uma história real de machismo e apatia tem menos brilho do que uma biografia de um cantor de sucesso. Ainda assim, o filme tem seus méritos.

    O grande deslize que precisa ser criticado, por outro lado, acontece ao não aprofundar tanto as camadas emocionais da protagonista como deveria e como o espectador merece. O público pede mais, mas o filme não atende, e talvez essa decisão parta até mesmo da própria biografada que participou da produção do longa.

    Fica, então, a sensação de que o longa tinha muito mais a dizer, mas se calou. Ainda assim, Coppola é corajosa ao mostrar neste longa que os tempos mudaram, mas o machismo ainda impera.

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