O Nubank obteve, na semana passada, a autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para se tornar uma operadora móvel virtual (MVNO, na sigla em inglês) utilizando a infraestrutura da Claro.
Analistas da XP avaliam que o movimento será um ponto de virada e pode representar um “cisne púrpura” para o setor de telecomunicações do Brasil. A expressão faz menção ao termo “cisne negro”, que se refere a acontecimentos financeiros difíceis de prever, mas com grandes consequências no mercado.
Elaborado por Bernardo Guttman, ex-gerente de relações com investidores na TIM, o relatório da XP analisa que o serviço do Nubank deverá iniciar suas atividades no terceiro trimestre deste ano. Questionado por Oeste, o banco preferiu não se manifestar.
Conforme os analistas, a justificativa estratégica para a incursão do “roxinho” nesse mercado está alinhada à estratégia do banco em replicar suas competências em novos mercados, o que amplia a monetização da base de clientes.
O Nubank, que já detém uma parcela de 22% no mercado de recarga de celular pré-pago, poderia atingir em três anos 11 milhões de linhas pré-pagas e 7,5 milhões no pós-pago, com um market share de quase 7%, conforme a XP.
“Para o Nubank, o potencial sucesso neste mercado, para além do seu ‘core business’, poderia reforçar a disposição dos investidores em atribuir um valor ainda maior aos elementos intangíveis, bem como confirmar sua capacidade de disrupção em novos negócios com potencial significativo de receita”, diz o relatório.
Nubank pode ameaçar gigantes do setor
Se por um lado a entrada do Nubank nas telecomunicações pode representar uma grande oportunidade para a empresa, por outro pode representar uma ameaça para os gigantes do setor.
“Para a TIM e a Vivo, o impacto poderia ser significativo, com potencial perda de participação de mercado e redução do ARPU (receita média por usuário, na sigla em inglês) devido à entrada de um player com preços agressivos”, analisa a XP.
Segundo os analistas, em uma escala de “remoto, possível e provável”, é provável que o movimento impacte as atuais empresas do setor. Para eles, a TIM pode ser “marginalmente mais afetada”, devido à sua relevância no segmento pré-pago e à sua maior base de clientes no segmento controle.
“A Vivo pode estar mais protegida no segmento pós-pago, devido aos seus pacotes de serviços, que podem reduzir a propensão de migração dos clientes”, acrescenta.
O relatório destaca que os setores financeiro e de telecomunicações possuem características semelhantes, como as amplas bases de clientes e alta penetração. A XP ressalta que C6 Bank e Inter, por exemplo, já possuem acordos com a TIM.
“Ademais, um maior engajamento por meio de uma proposta de valor de serviço completo tende a aumentar o tíquete médio do cliente e a reduzir o churn (perda de clientes)”, complementaram os analistas.
“Essa estratégia de plataforma tem como diferencial a comodidade e praticidade para os clientes, que podem acessar diversos serviços em um só lugar.”