segunda-feira, 1 julho, 2024
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    Conflito de Lula e Macron persiste em relação ao acordo Mercosul-UE


    Durante a visita do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha a expectativa de destravar as negociações referentes ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, além da transferência de tecnologia nuclear para os submarinos produzidos pelo Prosub — um empreendimento conjunto dos dois países. Entretanto, Macron bloqueou o avanço das conversas em ambas as situações.

    O governante francês reiterou sua oposição ao acordo do Mercosul. “Desejo ressaltar que o texto do acordo entre a União Europeia e o Mercosul é resultado de negociações e preparações há 20 anos, e estamos apenas fazendo ajustes pontuais. Seria insensato continuarmos nessa lógica e, ao mesmo tempo, participarmos de grandes reuniões, como o G20 e a COP, discutindo temas como biodiversidade e clima, e dizendo que precisamos fazer isso e aquilo”, declarou.

    Durante um evento com empresários em São Paulo, Macron criticou novamente o acordo e sugeriu que os termos fossem elaborados “do zero”. “O Mercosul é um acordo extremamente desfavorável na forma como está sendo negociado atualmente. Este acordo foi negociado há 20 anos. Eu não apoio este acordo. Não é o que desejamos […] Vamos deixar de lado um acordo firmado há duas décadas e construir um novo acordo, mais responsável, considerando questões como o clima e a reciprocidade”, defendeu o europeu.

    Lula minimiza decisão de Macron sobre o acordo

    Mesmo com a relação cordial entre Lula e Macron nos últimos dias, os dois discordaram novamente sobre o acordo Mercosul-UE, que, caso concretizado, poderá se tornar o maior entre blocos em escala global. O presidente brasileiro enfatizou que não cabe a Macron tomar a decisão final sobre o tratado e que a definição “depende da União Europeia e do Mercosul”.

    “O Brasil não está em negociação com a França. O Mercosul está conduzindo as negociações com a União Europeia. Este não é um acordo bilateral entre Brasil e França, mas sim um acordo comercial entre dois conjuntos de países. De um lado, a União Europeia, com seus países. Do outro, o Mercosul”, destacou Lula ao responder sobre os desacordos entre as partes em relação ao tratado.

    Após mais de duas décadas em negociação, o Mercosul e a União Europeia buscam um consenso sobre o acordo que promete facilitar as transações de importação e exportação entre os dois blocos.

    No entanto, a França se tornou uma grande opositora dessa iniciativa. No ano anterior, o Parlamento Francês aprovou diversas novas exigências ambientais para que fossem incorporadas ao texto. Lula considerou essas novas imposições como “inadmissíveis”.

    Enquanto Macron justifica sua oposição ao acordo com base nas preocupações ambientais, especialistas apontam que, na prática, o cerne da questão está no protecionismo. A França é a principal produtora agrícola da União Europeia e há receio de que o acordo possa prejudicar os agricultores locais, visto que as commodities sul-americanas, especialmente as brasileiras, possuem melhor qualidade e custo inferior. Nesse sentido, os franceses temem perder espaço no mercado para o Mercosul e têm protestado contra o acordo.

    A posição atual de Macron, que propõe recomeçar as negociações do zero, pode resultar no fim das tratativas. Isso porque o Mercosul já afirmou não estar disposto a regressar a essa fase, uma vez que o documento em pauta levou quase duas décadas para ser finalizado.

    Putin também se tornou um obstáculo entre Lula e Macron

    Durante uma entrevista à imprensa na última quinta-feira (28), Macron foi questionado sobre o convite feito por Lula para que o presidente russo, Vladimir Putin, participasse da Cúpula do G20 em novembro, no Rio de Janeiro. O Brasil, que preside o grupo neste ano, sediará a cúpula do bloco e Lula já declarou que Putin não seria detido caso viesse ao evento.

    Esse assunto gerou discordância interna, uma vez que o russofoi sentenciado por delitos de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) e existe uma ordem de prisão emitida contra ele.

    Após a repercussão negativa de sua declaração, o petista recuou e afirmou que a decisão de deter ou não o líder russo seria decidida “pela Justiça” – o que é mais coerente, segundo especialistas, visto que o Brasil é um dos signatários da Carta da ONU e deve cumprir as ordens expedidas pelo TPI.

    Ao ser indagado sobre o assunto, Macron desviou o assunto e disse que “Lula sabe quem ele convida”. “O propósito do G-20 é que tudo seja decidido em comum acordo, em diálogo com os demais. Com respeito mútuo, a diplomacia brasileira conduzirá as negociações com toda a responsabilidade […] A finalidade desses fóruns de reunião é chegar a um consenso. Nós iremos contribuir. Se for útil, faremos. Caso não seja e apenas gere divisões entre os pares, não serve”, disse Macron.

    O petista ainda manifestou seu interesse pela paz na Europa, porém minimizou o conflito ao dizer que não precisa ter a “mesma tensão que os países europeus” em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia que já dura mais de dois anos.

    “Estou a tantos milhares de quilômetros de distância da Ucrânia que não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que o povo francês, o povo alemão, o povo europeu […] Tenho muitas batalhas neste país [no Brasil] e, atualmente, uma verdadeira luta para garantir o funcionamento das instituições democráticas e a sobrevivência da democracia, contra o totalitarismo, o autoritarismo, a “extrema-direita”, contra a barbárie”, declarou Lula.

    Por outro lado, Macron reiterou a posição francesa sobre o conflito e o apoio que a União Europeia tem oferecido – tanto militar quanto politicamente – à Ucrânia. “A França é uma potência pacífica, busca o diálogo, porém não somos fracos e, se houver uma escalada interminável da agressão, precisamos nos organizar para não apenas lamentar, mas para defender a democracia e o direito internacional. Conversei com Putin por bastante tempo. Se pudermos retomar o diálogo, estarei presente”, afirmou o presidente francês.

    Viagem ao Brasil foi estratégia de Macron para restabelecer sua reputação na França

    Apesar das expectativas do presidente Lula em relação à visita de Emmanuel Macron ao Brasil, o francês possui objetivos no país que vão além da parceria com Lula. Analistas consideram que a passagem pelo território brasileiro atende a um interesse de Macron em melhorar sua imagem entre os franceses, visto que seus índices de popularidade caíram.

    “As pressões enfrentadas por Macron internamente na França, diante da baixa popularidade de seu governo e dos protestos de agricultores franceses, indicam que a visita busca promover aspectos positivos para o governo francês, como o comprometimento com o desenvolvimento sustentável e a preservação da Amazônia”, avaliou Guilherme Gomes, consultor de comércio internacional da BMJ Consultores Associados.

    Ao lado de Lula, o presidente francês focou em questões ambientais, acordos bilaterais e debates sobre o futuro entre os dois países.

    Ele também esteve na Amazônia e na cidade de Belém, no Pará. Na capital que sediará a COP 30 em 2025, Macron ainda anunciou um plano de investimento de R$ 5 bilhões para promover a bioeconomia na região.

    O professor Elton Gomes, do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explicou que temas como política externa e preocupações ambientais “possuem um grande apelo popular na Europa. Especialmente nas discussões sobre clima e preservação ambiental, ele se entusiasma bastante e se deixa contagiar pela causa ambiental”.

    “Ao contrário do que ocorre aqui no Brasil, onde apenas recentemente as pessoas passaram a se interessar um pouco mais por política externa visando interesses eleitorais, na França isso já acontece há muito tempo. Assim, ele [Macron] precisa tanto proteger os interesses franceses em termos de Estado quanto viabilizar seu grupo político, com ações que demonstrem o alcance dos objetivos de política externa da França no âmbito político internacional”, destacou o cientista político.

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