MANIGÂNCIAS EM ABUNDÂNCIA
A organização Transparência Internacional e o promotor da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes refutaram as alegações de conluio feitas pelo grupo empresarial J&F perante o Supremo Tribunal Federal em relação ao seu acordo de leniência. O integrante do Ministério Público Federal também protocolou um memorando como representação para ação penal pública por difamação.
No início deste mês, a J&F solicitou ao STF a suspensão do pagamento do acordo de leniência celebrado entre o próprio grupo e o MPF em 2017, bem como acesso a todo o acervo das conversas da chamada “operação spoofing”.
Na petição apresentada à Corte, o grupo contestou a venda da Eldorado Celulose ao grupo indonésio Paper Excellence, que acionou a Justiça para tomar posse da empresa sem cumprir as condições estabelecidas no contrato para o pagamento da segunda metade da compra.
De acordo com a J&F, a venda da Eldorado foi resultado de pressão do MPF, liderada por Anselmo Lopes, dentro de um esquema no qual esteve envolvido o executivo Josmar Verillo, ligado à Paper no Brasil — justamente a empresa que seria beneficiada pelo negócio.
Ademais, Verillo atuava como representante da Transparência Internacional — uma entidade que se apresenta como ONG — no Brasil. Conforme as conversas divulgadas, o acordo de leniência da J&F foi elaborado em conjunto com a TI. O montante da multa imposta, que condicionava o acordo, resultou na venda de empresas do grupo, incluindo a Eldorado.
Transparência Internacional
Nesta sexta-feira (17/11), a Transparência Internacional se pronunciou sobre o caso em nota. A organização afirmou que repudia e rejeita as acusações, classificadas como falsas, que “surgem após retrocessos que o arcabouço anticorrupção brasileiro sofreu sob o governo de Jair Bolsonaro”.
Segundo a TI, a J&F “parece empenhada em buscar a anulação das sanções criminais e administrativas que pesaram sobre a empresa”. No comunicado, a ONG afirma que “esta estratégia visa claramente obter vantagens financeiras em disputas comerciais e ações judiciais”.
Anselmo Lopes
No mesmo dia, o promotor implicado nas acusações encaminhou à Procuradoria da República no Distrito Federal um memorial no qual afirma ser vítima de difamação. Na peça, ele solicitou a instauração de uma ação penal contra a J&F, com pedido de condenação por danos morais em favor do Fundo de Direitos Difusos e avaliação de possível litigância de má-fé.
Lopes alegou não ter conhecimento de Verillo. Em sua opinião, o texto no qual a publicação online Consultor Jurídico divulgou as mensagens que apontavam para o conluio “pode ter servido de inspiração” para a petição inicial do grupo empresarial.
Na matéria, explica a trama: Verillo, que durante anos dirigiu a papeleira Klabin, deveria dirigir a Eldorado Celulose, caso a Paper Excellence tivesse efetuado o pagamento pela segunda metade da compra da empresa.
Apesar do evidente interesse no negócio, o empresário atuou nos bastidores para articular a chantagem sobre a J&F a fim de vender a Eldorado para a Paper.
Em uma conversa da “vaza jato”, Anselmo revela que o acordo de leniência do grupo brasileiro foi delineado junto com a Transparência Internacional — organização que se apresenta como ONG. Verillo, nesse momento, era o representante da Transparência Internacional no Brasil. Na ocasião da conversa em questão, o consórcio já cogitava renegociar o acordo para aumentar as penalidades impostas ao grupo.
Na época da veiculação desta matéria, fora deixado o espaço aberto para manifestação dos envolvidos, que não se pronunciaram nem apresentaram qualquer explicação.