sexta-feira, 28 junho, 2024
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    Eleições em Portugal isola Lula do Ocidente e atrasa acordo Mercosul-UE


    Com a conquista do partido de centro-direita Aliança Democrática (AD) em Portugal, especialistas analisam que a relação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o país pode ficar abalada. A vitória da legenda revela mais um passo da ascensão da direita na Europa, pode contribuir para o distanciamento do petista dos países do Ocidente, e também pode prejudicar ainda mais a finalização do acordo entre Mercosul e União Europeia, que Lula tem se dedicado a destravar, de acordo com especialistas consultados pela reportagem.

    “A princípio, pouco muda na relação Brasil-Portugal. No entanto, é possível identificar alguns impactos políticos entre os dois países, mas o que realmente preocupa é o acordo Mercosul-União Europeia. Atualmente, Portugal apoia o acordo e, com essa mudança de governo [em decorrência da vitória da Aliança Democrática], o novo governo tende a se posicionar contra. Mais um país contrário pode inviabilizar de vez as negociações”, avalia José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

    O impacto político previsto pelos analistas está relacionado à ascensão da direita no país que, nos últimos nove anos, foi liderado por uma legenda progressista. Lula e o atual presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, mantêm um bom relacionamento. Rebelo, inclusive, esteve em Brasília para assistir à posse do petista em janeiro em 2023. Os dois também se encontraram em abril do mesmo ano, em uma visita de Lula a Portugal.

    Por não ter conquistado o mínimo de cadeiras (115) para indicar o primeiro-ministro, a Aliança Democrática (AD), que obteve 79 assentos no Parlamento Português, precisa fazer alianças com outro partido para governar o país. A legenda pode estabelecer coalizões com o Chega, partido da direita nacionalista – que conquistou 77 cadeiras -, ou com o Partido Socialista (PS), de centro-esquerda – que elegeu 48 parlamentares. Essas alianças vão determinar como será a relação entre Brasil e Portugal daqui para frente.

    Segundo o consultor de Política Internacional Guilherme Gomes, da BMJ Consultores Associados, se houver uma coalizão entre o AD e o Chega, existe a possibilidade de o segundo partido tentar influenciar o novo governo português a reduzir sua proximidade diplomática com o Brasil. “No entanto, não deve ocorrer uma ruptura abrupta nas relações diplomáticas, que tendem a ser mais estáveis”, avalia.

    O líder do Chega, André Ventura, com pautas conservadoras e discursos enfáticos contra a migração, criticou Lula durante a campanha eleitoral. O político chegou a afirmar que Lula não seria bem-vindo em Portugal, caso ele fosse eleito primeiro-ministro. Apesar do discurso incisivo, Guilherme Gomes explica que, em um cenário de coalizão entre AD e Chega, a situação não deve gerar atritos tão significativos quanto os apontados por Ventura.

    “Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando Portugal era governado pelo Partido Socialista, houve alguns incidentes diplomáticos entre os países, mas não o suficiente para afetar de forma duradoura essa relação”, pondera o consultor da BMJ.

    “Por outro lado, caso a coalizão seja fechada entre a Aliança Democrática (AD) e o Partido Socialista (PS), a perspectiva é de que as relações diplomáticas com o Brasil permaneçam inalteradas, considerando a boa relação e proximidade do PS com o governo Lula”, avalia Gomes.

    Acordo Mercosul-União Europeia pode ser impactado 

    Para especialistas, a maior preocupação para Lula com relação à mudança de cenário político em Portugal é o destino do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. As negociaçõesHá mais de vinte anos que o acordo se encontra em vigor, contudo encontra-se bloqueado devido a divergências entre as partes.

    Ademais, o pacto tem adquirido uma inclinação mais política do que econômica, o que tem gerado atritos entre os países da União Europeia. No decorrer deste ano, o Parlamento Europeu, órgão legislativo da organização, terá eleições e novas personalidades serão escolhidas para tratar dos debates do organismo. Com o surgimento da direita em países europeus, esse movimento também tende a se difundir na UE.

    Conforme Gomes, é provável que os portugueses elejam, pela primeira vez, um eurodeputado da direita nacionalista para o Parlamento Europeu. “Com isso, as relações entre Brasil e União Europeia podem ser enfraquecidas a médio prazo, dependendo do desfecho da eleição europeia neste ano”, analisa.

    Segundo Castro, presidente da AEB, as negociações podem se tornar ainda mais complexas. “O grande obstáculo é que os países que se opõem [ao acordo] têm mais poder de influência nessas negociações, mesmo não sendo a maioria. Se a oposição crescer, como forma de agradar os agricultores e produtores de seus países, o acordo pode efetivamente ser encerrado”, pondera.

    Afastamento de Lula do Ocidente

    Lula, que já manifestou orgulho em ser denominado “comunista” e “socialista”, tem adotado discursos mais extremistas neste terceiro mandato. O petista defendeu a Rússia e o grupo terrorista Hamas em meio aos conflitos travados contra Ucrânia e Israel, respectivamente.

    Ele também tem se aproximado da China, do autocrata chinês Xi Jinping.

    Em diversas ocasiões, Lula endossou e repetiu discursos do Partido Comunista da China. Em 2023, acusou o G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) de ser responsável pela guerra entre Rússia e Ucrânia na Europa.

    O brasileiro também afirmou que ambos os países seriam igualmente culpados pelo conflito iniciado pela Rússia na Europa, que teve início após Vladimir Putin ordenar a invasão das tropas russas na Ucrânia.

    Recentemente, Lula acusou Israel de perpetrar genocídio contra o povo palestino devido à contraofensiva israelense na Faixa de Gaza contra o Hamas. O grupo terrorista atacou Israel em 7 de outubro de 2023 e iniciou o conflito na região.

    Enquanto os países do Ocidente esperam uma postura mais coerente do presidente brasileiro, Lula tem reiterado esses discursos radicais. Após as acusações contra Israel, autoridades do governo dos Estados Unidos repreenderam as declarações do petista, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou o brasileiro persona non grata em Israel. Ou seja, Lula não é mais bem-vindo no país.

    Lula também tem gerado desconforto entre os países do Ocidente ao defender o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Acusado de uma série de violações aos direitos humanos, Maduro tem sido pressionado pela comunidade internacional a realizar eleições democráticas em seu país. No entanto, o venezuelano tem seguido um caminho oposto à democracia. Além de tornar seus opositores inelegíveis, ele tem ordenado a prisão de políticos da oposição.

    A queda de popularidade do petista no Ocidente aumentará diante do pleito marcado para o final deste ano nos Estados Unidos. Se o ex-presidente Donald Trump for reeleito, as relações do petista com o país podem se fragilizar. O republicano é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Crescimento da direita em Portugal

    Embora um cenário mais estável para o novo governo português ainda não esteja definido, especialistas chamam atenção para a ascensão da direita no país e na Europa. Nos últimos nove anos, Portugal foi liderado pelo Partido Socialista (PS), corrente de centro-esquerda que lideravacom predominância avassaladora no Legislativo nacional. Na votação deste ano, entretanto, o desfecho revelou uma maior influência dos partidos com discursos alinhados à direita.

    Além do desempenho satisfatório alcançado pela aliança Aliança Democrática (AD), liderada pelo Partido Social Democrata (PSD), houve um avanço nos votos da população para o Chega. A legenda conquistou 18,1% dos votos em comparação com os 7,2% de 2022. Com isso, passou de 12 para 46 parlamentares.

    O chefe da AD, interpretou o desfecho do pleito como “vontade do povo por uma gestão distinta”. “O povo português se pronunciou. Eles anseiam por um tipo diferente de gestão, políticas distintas, partidos reformados e diálogo entre seus representantes… E é exatamente isso que estamos prontos para proporcionar”, afirmou Luís Montenegro, o líder da Aliança Democrática (AD).

    Esse movimento também tem se manifestado em outras nações europeias. Além daquelas que já são administradas pela direita, especialistas analisam que há uma tendência da população em eleger partidos considerados mais conservadores ou “liberais” no âmbito econômico nos países que atualmente são liderados por governantes progressistas.

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