segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Ex-presidente investe na consolidação da Comunidade Sul-Americana de Nações antes da posse de Milei na Argentina

     

    Na intenção de fortalecer a organização intergovernamental Comunidade Sul-Americana de Nações (Unasul), que adota uma perspectiva progressista desde a sua criação em 2008, o Brasil reuniu os países sul-americanos em Brasília nesta semana.

    O encontro aconteceu imediatamente após a vitória de Javier Milei, defensor do libertarianismo, na eleição presidencial da Argentina, e contou com ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos 12 países da região. Conforme análises, a reunião representou uma tentativa de revitalizar a Unasul após Milei ter feito críticas aos blocos regionais de integração.

    Denominado Reunião Sul-Americana de Diálogo entre Ministros da Defesa e das Relações Exteriores, o evento teve lugar na quarta-feira (22), no Palácio do Itamaraty, e consistiu em uma série de encontros entre as autoridades presentes.

    Em declarações à imprensa, os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, defenderam a união sul-americana. Vieira afirmou: “Após o encontro de hoje, chegou-se a um consenso unânime sobre a necessidade de integração da América do Sul”.

    Embora não tenham mencionado Milei, as declarações podem ser interpretadas como um “recado” para o presidente eleito. Isso porque a “integração” de países não é uma ideia que agrada ao argentino.

    Durante sua campanha eleitoral, ele criticou repetidamente os blocos regionais, especialmente aqueles com inclinações ideológicas, como a Unasul. Ele também deixou claro que não pretende manter relações com Lula ou outros líderes de esquerda, o que pode levar o país a se retirar de organizações sul-americanas.

    Especialistas acreditam que o governo brasileiro está preocupado com o afastamento de Buenos Aires das discussões internacionais, uma vez que o país sempre foi um grande aliado do Brasil. No entanto, opositores de Milei têm afirmado de maneira errônea que ele irá romper relações comerciais com países como o Brasil.

    O presidente eleito da Argentina defende que as relações comerciais entre os países devem ser estabelecidas entre entidades privadas e que os governos respectivos não devem se envolver.

    Com a presença de representantes argentinos do governo anterior, Vieira e Múcio negaram que a eleição de Milei tenha sido discutida no encontro da última quarta-feira. No entanto, eles expressaram o desejo de que o novo governo possa participar de futuros encontros como este e que é necessário “aguardar pacientemente” as decisões do futuro presidente da Argentina.

    O evento da última quarta-feira foi, de certa forma, um desdobramento do último encontro do grupo, que também teve lugar em Brasília, no dia 30 de maio. “Esta foi a primeira reunião sul-americana de diálogo entre ministros da Defesa e das Relações Exteriores.

    O encontro de hoje é resultado do Consenso de Brasília, o documento que foi aprovado pelos presidentes da América do Sul na reunião na cúpula realizada no dia 30 de maio, por iniciativa do presidente Lula”, informou Vieira.

    Frustada tentativa de reativar a Unasul

    Em maio deste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promoveu uma cimeira com os presidentes dos 12 países da América do Sul. A reunião sucedeu várias declarações do petista sobre o desejo de “reativar” a Unasul.

    A organização, que surgiu durante os primeiros mandatos de Lula como presidente, é considerada um bloco que surgiu com uma orientação ideológica em um momento em que todos os países da América do Sul eram liderados por figuras de esquerda.

    Fundada em 2008, a Unasul conta com personalidades como Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela) e o próprio Lula entre seus membros-fundadores. Durante muitos anos, os membros da organização a utilizaram para debater o uso de recursos e mecanismos a fim de promover o realinhamento social, econômico e político dos países integrantes com uma perspectiva predominantemente de esquerda.

    Após a mudança no panorama político da região, alguns países optaram por sair do bloco. Seu declínio teve início em 2016, quando Michel Temer (MDB) assumiu a presidência do Brasil. Na mesma época, outros países passaram para a direita: Maurício Macri foi eleito na Argentina, Pedro Pablo Kuczynskin, no Peru, e Sebastian Piñera se candidatava a ser eleito no Chile em 2018. Ao mesmo tempo, o Partido Colorado, de orientação conservadora, chegava ao poder no Paraguai.

    A saída do Brasil foi confirmada em 2019, durante a presidência de Jair Bolsonaro (PL). Quando assumiu a liderança do Executivo brasileiro neste ano, Lula aprovou a reintegração do país à Unasul. No entanto, o cenário regional já não era o mesmo. Apesar disso, o petista reuniu todos os presidentes da América do Sul em Brasília com o propósito de reativar o fórum.

    Após um dia de reuniões no Itamaraty e no Palácio do Planalto, a tentativa de Lula não obteve sucesso. O petista recebeu o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e tentou suavizar a imagem dele, minimizando os crimes políticos ocorridos na Venezuela. Ele chegou a afirmar que o ditador era vítima de uma “narrativa de antidemocracia e autoritarismo”.

    A declaração suscitou críticas por parte do presidente de direita do Uruguai, Luís Lacalle Pou, e também de outros líderes de esquerda, como o presidente do Chile, Gabriel Boric, e o da Argentina, Alberto Fernández. Pou também criticou a criação de blocos regionais e a reativação da Unasul: “Devemos parar com essa tendência de criar instituições. Já basta de instituições, vamos à ação”.

    A divergência entre as nações e o apoio de Lula a Maduro impediram que a Unasul fosse restabelecida naquela ocasião. No entanto, os países concordaram em assinar o “Consenso de Brasília”. O documento elaborado na reunião apresenta os temas em que os países chegaram a um consenso e prevê encontros anuais entre os ministros das nações (como o ocorrido na última quarta-feira). O tratado, entretanto, nem sequer menciona a Unasul, já que a inclusão do organismo foi vetada pelos presidentes do Chile, Uruguai e Paraguai.

    Apesar da retórica sobre integração, eleição de Milei já causou atritos na América do Sul

    Embora o Brasil fale sobre a necessidade da integração sul-americana, os acontecimentos dos últimos meses demonstraram que não há consenso entre os países. A fissura ficou evidente na cimeira organizada por Lula em maio e tornou-se ainda mais evidente após a eleição de Javier Milei na Argentina.

    Enquanto o Brasil planeja uma relação pragmática com a Argentina após as críticas de Milei a Lula, outros presidentes não contiveram as críticas ao libertário. O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, chegou a chamar Milei de “neonazista” e lamentou a sua eleição na Argentina. “Ontem houve eleições presidenciais e, como já previam as pesquisas, a extrema-direita neonazista venceu na Argentina. É uma extrema-direita que vem com um projeto colonial para a Argentina”, disse Maduro.

    Gustavo Petro, da Colômbia, afirmou que a vitória de Milei era “triste para a América Latina”. “A extrema-direita venceu na Argentina. É a decisão da sua sociedade. Triste para a América Latina e veremos… o neoliberalismo não tem mais propostas para a sociedade, não pode responder aos problemas atuais da humanidade”, escreveu em seu perfil no X, antigo Twitter.

    Milei encoraja a direita na América do Sul

    Com Milei na Argentina, a América do Sul passa a ter quatro presidentes de orientação direitista, no Uruguai, no Paraguai e no Equador; e nove de esquerda: no Brasil, na Bolívia, no Chile, no Peru, na Colômbia, na Venezuela, na Guiana, no Suriname e na Guiana Francesa. Além de Milei, Daniel Noboa também foi eleito no Equador neste ano, e eles representam um freio ao avanço da esquerda na América do Sul.

    Enquanto líderes de esquerda lamentaram a vitória de Milei, candidatos de direita parabenizaram o defensor do libertarianismo e manifestaram o interesse em ampliar o relacionamento com o argentino. Sem o apoio ideológico do seu maior aliado na América do Sul — a Argentina está sob a liderança do peronismo —, Lula pode ver o seu espaço na região diminuir.

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