segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Lula 3 finaliza o primeiro ano sem cumprir a promessa de unir o país


    Logo depois de ser eleito para o terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu pacificar o país, que saiu das últimas eleições dividido pela maior polarização política da sua história. A intenção de formar uma frente ampla com as forças do centro se desfez logo diante da realidade de um Congresso de perfil conservador e do discurso do petista – ainda em tom de campanha -, além dos seus gestos carregados de desejo de vingança. Quase um ano depois, a atual gestão construiu o legado de uma divisão ainda mais profunda na sociedade e na política – uma armadilha que o próprio Lula criou e dela não consegue sair.

    A publicidade oficial do Planalto divulgada para o término do ano, sob o slogan “O Brasil é um só povo”, parte da compreensão de que a reconciliação ainda está distante e, por isso, a comunicação oficial prega a paz social. Contudo, contraditoriamente, para manter a militância ativa, o presidente da República e os líderes do seu partido não conseguem amenizar as reações contra os adversários. Eles retratam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o grupo de seus apoiadores como a maior ameaça ao status quo do governo.

    Nas últimas semanas, pesquisas de opinião com eleitores e livros sobre o cenário político confirmam a imagem de um país dividido além do jogo eleitoral.

    A partir de 27 levantamentos de intenção de voto realizados pelo instituto Quaest a pedido da Genial Investimentos, o livro recém-lançado “Biografia do Abismo” concluiu que a dicotomia direita e esquerda transcendeu o espectro político, infiltrando-se no dia a dia. A obra foi escrita pelo jornalista Thomas Traumann, ex-porta-voz no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e pelo cientista social Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    Para os autores, não se trata mais da polarização política comum em disputas eleitorais de dois turnos, mas da “calcificação” do racha que tomou a sociedade brasileira, indo até laços familiares, ambientes escolares e relações empresariais.

    No dia 1º de janeiro de 2023, o então recém-empossado Lula subiu ao parlatório do Palácio do Planalto prometendo unir o país, que havia saído de uma disputa eleitoral apertada, na qual Lula foi eleito com uma diferença de menos de 2% dos votos. “Vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para quem votou em mim. A disputa eleitoral acabou”, discursou à época.

    Mas o retrato de hoje é bem diferente do prometido. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada em 19 de dezembro de 2023, 90% dos eleitores dizem não se arrepender do voto no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Dos arrependidos, 9% mudariam o voto dado em Lula e 7% disseram o mesmo em relação ao apoio dado a Bolsonaro.

    Clima de confronto permaneçe por muito tempo após as eleições

    Para Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral (FDC) e autor do livro “Dinheiro, Eleições e Poder”, as tendências do eleitorado brasileiro nas últimas duas décadas vieram para ficar, inclusive em termos geográficos. “Lula mudou o mapa político do Brasil após 2006, ganhando o apoio da população mais pobre e consolidando poderio territorial que vai do norte de Minas, passando pelo Nordeste e chegando ao interior da Amazônia”, disse. Pelas falas recentes de Lula, de sua esposa, Rosângela Lula da Silva, a Janja, e da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o clima de confronto contra os apoiadores de Jair Bolsonaro seguirá firme.

    Marcus Deois, diretor da consultoria Ética Inteligência Política, acrescenta que as derrotas contundentes sofridas pelo governo na sessão conjunta do Congresso, em 14 de dezembro de 2023, com derrubadas de vetos presidenciais,Assim como a isenção da contribuição da folha de pagamento de 17 setores econômicos e o marco temporal das terras indígenas, também indicam que “2024 igualmente não será um ano simples para a articulação política do governo”.

    Isso fica evidente no resultado das votações: no veto da isenção, o Senado registrou 60 votos a favor da revogação e apenas 13 pela manutenção. Já na Câmara, houve 378 votos pela revogação do veto e 78 a favor da manutenção.

    Na revogação do veto ao marco temporal, questão importante para o governo, os senadores contaram 58 votos a favor da revogação e 19 pela manutenção; na Câmara, houve 321 votos contra e 137 a favor.

    “O governo agiu estrategicamente, previu derrotas e, com a aprovação da Reforma Tributária e das suas nomeações para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para a Procuradoria-Geral da República (PGR), já pode se considerar bem-sucedido em relação a 2023”, comentou.

    Polarização será testada no Congresso e nas urnas em 2024

    Arthur Wittenberg, docente de Relações Institucionais e Políticas Públicas do Ibmec-DF, destaca que a gestão Lula sente os efeitos práticos da polarização política na relação diária com o Congresso, que é dominado pela centro-direita. “É um desafio constante, mesmo com composições ministeriais. A pauta ideológica do governo não se sustenta e as pautas para aumentar o tamanho do Estado e a carga de tributos enfrentam resistência considerável”, afirmou.

    Por outro lado, propostas que visam aumentar a produtividade do país tendem a ter apoio parlamentar significativo. “Nesse embate de agendas, as oportunidades de negociação são mínimas”, observou.

    O lema “União e Reconstrução” do governo federal ainda está longe de superar a predominante dicotomia “nós contra eles” no debate público. Nesse contexto, as eleições municipais de 2024 servirão de teste para o grau de polarização política que divide profundamente a sociedade.

    No cenário atual, a maioria das prefeituras é controlada por partidos de centro – PSD (968), MDB (838), PP (712) e União Brasil (564). Nos extremos do espectro político estão o PL de Bolsonaro, com 371 prefeituras, e o PT, de Lula, com 227. No entanto, PL e PT se articulam com aliados para disputar o maior número possível de prefeituras, sobretudo nas capitais. Com essa disputa, o cenário de polarização pode se repetir nos municípios nas eleições deste ano.

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