domingo, 7 julho, 2024
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    Lula reitera apoio a Mantega e escolha do próximo líder da Vale está próxima


    O empenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em nomear o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para liderar a Vale transformou a sucessão da mineradora numa trama que terá momentos definidores em breve. A empresa foi privatizada quase 30 anos atrás, mas Lula faz questão de influenciar seus destinos.

    O mandato do atual presidente, Eduardo Bartolomeo, termina apenas em maio. No entanto, de acordo com o estatuto da empresa, o conselho de administração deve deliberar sobre a renovação ou não do CEO com pelo menos quatro meses de antecedência. Em 31 de março, o colegiado avaliará se mantém Bartolomeo ou inicia o processo de escolha de outro executivo.

    O governo tem se esforçado para favorecer a nomeação de Mantega. A intenção, já conhecida há mais de um ano, teve momentos de maior ou menor dedicação, mas nunca deixou de ser uma prioridade.

    Na tentativa inicial, em 2023, a reação do mercado foi imediata e as ações da empresa despencaram na B3, a Bolsa de Valores. Agora, com a proximidade do término do mandato atual, a pressão do Planalto se intensificou.

    Segundo o jornalista Lauro Jardim, do jornal “O Globo“, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estaria ligando para acionistas da companhia e informando que Lula não abre mão de ver Mantega no comando da mineradora. Publicamente, no entanto, Silveira afirmou recentemente que o governo “tem juízo” para não tentar impor o nome do ex-ministro.

    “Nós não faremos nada que possa desrespeitar a governança da empresa. Nós não fazemos isso com a Petrobras, em que somos controladores. Mas nós vamos participar da discussão da maior mineradora do país, e queremos que ela volte a ter o posto de maior do mundo”, afirmou Silveira durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

    Bartolomeo assumiu em 2019, após o afastamento de Fabio Schvartsman depois do colapso da barragem de rejeitos de Brumadinho (MG). A tragédia motivou indenizações de R$ 38 bilhões, que ainda estão sendo pagas às famílias dos 270 mortos.

    Bartolomeo foi reeleito em 2021. De acordo com informações de bastidores, o conselho está dividido sobre sua continuidade. No governo federal e no PT, o executivo é alvo de críticas por sua postura discreta e distante do governo, focado na gestão profissional.

    Estratégia do governo passa por indicação de Mantega ao Conselho

    Devido às resistências impostas pelas regras e políticas corporativas, a probabilidade de Mantega se tornar presidente é baixa. Ele teria de ser indicado por uma consultoria de headhunters independente, o que é improvável.

    Por isso, uma das alternativas cogitadas foi a sua indicação ao conselho de administração, para futuramente caminhar em direção à presidência. Nesse caso, seria necessário a renúncia de algum dos atuais conselheiros, o que também demandaria uma considerável interferência por parte do governo – que, vale destacar, não é acionista da empresa.

    Caso aprovado, Mantega teria remuneração anual de R$ 1,34 milhão, valor médio pago aos 13 conselheiros da empresa. Entretanto, há rumores de que Mantega não se contenta em ser “copiloto” na Vale e busca o cargo de presidente.

    Em qualquer uma das hipóteses, o caminho não será fácil. O ex-ministro teria de ser aprovado pela área de compliance da mineradora. Seu nome precisaria passar pelo conselho de nomeação, composto por três integrantes, para depois ser referendado pelos próprios conselheiros e demais acionistas em assembleia geral.

    Mantega, que comandou a Fazenda de 2006 a 2015, foi um dos protagonistas da implementação da nova matriz econômica, responsável pela crise econômica sem precedentes desencadeada no governo de Dilma Rousseff (PT). Também presidiu o Conselho deGestão da Petrobras entre 2010 e 2015, período de decisões comerciais desastrosas e da manipulação populista de preços que ocasionou prejuízos bilionários à estatal.

    Há também contra ele uma ação ainda não julgada no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), com sede em Brasília, sobre supostos caso de corrupção relacionado à construtora Odebrecht (hoje Novonor) e ao governo federal. A denúncia envolve o repasse de propina para a edição de medidas provisórias de parcelamentos de dívidas em 2008 e 2009.

    “Será um teste para a governança da empresa”, diz Alexandre Oliveira, conselheiro de gestão e membro da comissão de estratégia do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Os acionistas têm interesses próprios e os mecanismos existentes visam justamente equilibrá-los, além de blindar a companhia de interferência políticas”, diz.

    Vale tem controle pulverizado e resoluções são do conselho de gestão

    A Vale deixou de ser estatal em 1997, num movimento que o PT e a esquerda nunca aceitaram. Houve protestos e campanhas contra a venda da mineradora. O governo manteve sua influência por meio de ações pertencentes ao BNDES e a fundos de pensão de estatais, como a Previ, do Banco do Brasil.

    Em 2020, com a política de desinvestimento das estatais do governo de Jair Bolsonaro (PL), o BNDES vendeu suas participações, promovendo uma nova configuração na Vale. Com a pulverização das ações, a empresa adotou o modelo de corporation, sem controlador definido, comum nos EUA.

    O fundo americano BlackRock se tornou sócio nessa leva. Segundo a informação mais recente disponibilizada no site da Vale, o fundo tinha 5,83% da companhia em 31 de outubro de 2023. O maior acionista individual da empresa é a Previ, com 8,71% do capital, e a japonesa Mitsui tem 6,31%. Nenhum dos demais acionistas tem mais de 5% das ações.

    O primeiro conselho de gestão, responsável pela indicação do CEO da companhia, foi criado em abril de 2021. Os mandatos são de dois anos e, em 2023, houve a escolha dos atuais conselheiros que vão definir o destino de Bartolomeo na Vale. Dos 13 conselheiros, cinco são indicados pelos acionistas, e oito são independentes, ou seja, sem vínculo com os controladores.

    A influência do governo é indireta e se dá por meio dos dois assentos pertencentes à Previ, maior acionista da Vale. Um deles é do atual presidente do conselho, Daniel André Stieler, e o outro de João Fukunaga. O próprio presidente Bartolomeo também foi indicado pelo fundo de pensão do BB.

    Outras cadeiras no conselho de gestão são da Bradespar, controlada pelo Bradesco, da Mitsui e da Cosan, gigante brasileira do açúcar e do etanol. Controlada pelo empresário Rubens Ometto, a Cosan, que atua em distribuição de combustíveis e logística ferroviária, adquiriu 4,9% das ações da Vale no ano passado.

    Na época, Ometto conseguiu colocar no conselho da Vale Luís Henrique Guimarães, então presidente da Cosan. O movimento deu margem a especulações de que o grupo trabalharia por sua indicação para a presidência da Vale.

    Negociações com a Cosan e a Mitsui são apostas do governo para emplacar Mantega. Num movimento considerado explícito nos bastidores do empresa, o governo designou interlocutores para articular a indicação do ex-ministro com os acionistas.

    Há vários interesses em jogo. Entre eles, a concessão de licenças ambientais para atuais e novos projetos; renovações de contratos de ferrovias; e também as negociações de reparação de danos ambientais e sociais da Vale. São discussões que envolvem dezenas de bilhões de reais e órgãos de governo, Justiça e Ministério Público.

    Para o economista Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o governoHá meios para exercer pressão na nomeação.

    “O Poder Executivo no país é muito forte. Se quiser, pode utilizar todo o seu poder de pressão para influenciar nas decisões. Membros do conselho têm outras agendas e é sempre crucial manter uma boa relação com o governo”, diz.

    Governo segue estratégia de influência e reabilitação de aliados

    A estratégia do governo para o controle da Vale segue a abordagem de recuperação da influência das empresas que já foram estatais, mas foram privatizadas.

    É o que Lula tentou realizar em relação à Eletrobras, sem êxito até o momento, e nas refinarias vendidas pela Petrobras.

    Lula também resolveu reintroduzir um procedimento de suas antigas administrações, destinando recentemente R$ 8 bilhões do BNDES para a aquisição de participação em empresas, como parte do programa Nova Indústria Brasil.

    Para analistas do mercado, ao tentar instalar Mantega na maior empresa privada do país, além de transformá-la em uma parceira estratégica a serviço de interesses e projetos federais, Lula também segue a estratégia de reabilitar figuras históricas e leais a ele e ao PT.

    Foi assim com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), atualmente na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o “Banco dos Brics”. Está sendo assim com ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-deputado federal José Genoino, que começam a ter mais espaço no partido e caminham para o ressurgimento na vida pública.

    No caso da Vale, o desfecho da situação pode ser um momento crucial para o futuro da companhia. “Nada indica que o conselho vá abrir mão de sua liberdade de escolha, preservando os interesses da empresa. Resta esperar que o governo pratique a autocontenção e não tente forçar um nome, independente de quem seja”, resume Pessôa.

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