De vez em quando, um novo suplemento é informalmente escolhido como favorito nas redes sociais. Isso indica que a suplementação é vista como uma solução mágica, capaz de resolver praticamente tudo. Neste período, o magnésio é o mineral elogiado. Em teoria, melhora o humor, reduz a fadiga, aumenta a força muscular, ajuda a dormir e diminui até o nível de inflamação do organismo.
Na realidade, o déficit de magnésio pode provocar diversos efeitos prejudiciais no organismo humano, mas “não existem evidências sólidas para utilizar magnésio em quem não tem deficiência”, afirma Luciana Verçoza Viana, médica nutróloga e chefe do Serviço de Nutrologia Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
No caso de baixos níveis do mineral no sangue, “é sempre importante entender o que está causando essa deficiência”, acrescenta Viana, que é também professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Deficiência de magnésio no corpo
Entre as principais causas de deficiência de magnésio, estão as doenças renais e intestinais, já que ambas podem limitar a absorção deste mineral no organismo. Em outros casos, as condições anteriores provocam a perda excessiva de magnésio pela urina.
O uso de alguns remédios, como o omeprazol — que pode ser prescrito em casos de refluxo gástrico —, também é capaz de gerar este déficit nas quantidades de magnésio.
Segundo Viana, “valores muito baixos ou muito altos [de magnésio no corpo] estão associados à arritmias cardíacas e contrações musculares”.
Para entender, as baixas concentrações deste mineral vão desregular a ação do cálcio, outro importante micronutriente necessário para função óssea, cardíaca e muscular. Para simplificar, menos magnésio pode provocar mais câimbras.
Ocasiões para suplementar
Para saber se o nível de magnésio está adequado ou não, é preciso fazer um exame de sangue, com dosagem de magnésio. Se o resultado apontar para a falta do mineral, um médico pode indicar a suplementação.
Por outro lado, se as quantidades estiverem normais, o ideal é não suplementar. “Não existe recomendação para suplementação de magnésio em pessoas saudáveis”, reforça a endocrinologista.
Análise de estudos com suplementação de magnésio
Olhando para as evidências científicas, existem alguns estudos que investigaram os efeitos da suplementação do magnésio. É o caso da pesquisa publicada na revista Magnesium Research, na qual os pesquisadores avaliaram o uso de magnésio na performance em atividades físicas. Só que não foram encontrados benefícios em atletas ou em pessoas ativas.
Publicado na revista BMC Complementary Medicine and Therapies, outro estudo avaliou os efeitos do suplemento em idosos em relação à insônia. Os indivíduos que suplementaram chegaram a dormir 17 minutos antes dos que não receberam a dose de magnésio por via oral. No entanto, não foi identificada uma diferença no tempo de sono total durante à noite.
Um estudo também analisou os efeitos de pílulas de magnésio em pessoas com depressão. Os resultados publicados na revista Frontiers in Psychiatry mostraram uma discreta melhora nos questionários para depressão daqueles que tomaram o mineral. Contudo, mais pesquisas ainda são necessárias.
Formas de suplementar o magnésio
Quando há necessidade de suplementação, é possível fazer isso com o uso de comprimidos contendo quantidades padronizadas do mineral, conforme a indicação de um profissional.
Agora, se a ideia é fazer ajustes na alimentação,a pessoa pode ingerir alimentos com grande quantidade de magnésio, tais como:
- Castanhas-do-pará;
- Semente de linhaça;
- Amêndoas;
- Feijão;
- Soja;
- Amendoim.
Cuidado com soluções milagrosas
“Todos os componentes da alimentação, macro — proteínas, gorduras e carboidratos — e micronutrientes — vitaminas e elementos químicos — são essenciais para o bom funcionamento do corpo”, lembra a endocrinologista.
No entanto, “em pessoas saudáveis, acreditar que a suplementação possa melhorar sintomas inespecíficos é ilusório”, acrescenta a especialista.
Fonte: Frontiers in Psychiatry, Magnesium Research e BMC Complementary Medicine and Therapies