domingo, 7 julho, 2024
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    Parto humanizado ganha cada vez mais espaço em hospitais

     

    É comum encontrar cada vez mais o parto humanizado sendo adotado em hospitais, em resposta ao aumento das cesáreas e da violência obstétrica.

    A relações públicas Natália Huvos, 36 anos, não estava familiarizada com o conceito de “parto humanizado” quando engravidou pela primeira vez, em 2020. Por outro lado, a publicitária Manuela Pontual, 34 anos, sempre teve a intenção de vivenciar um parto humanizado e dedicou-se a estudar sobre esse tema ao longo de sua gravidez.

    Ambas, no entanto, compartilhavam o mesmo desejo desde o início: serem respeitadas e ouvidas durante a gestação, o trabalho de parto e o puerpério. Isso é, de acordo com o obstetra Rômulo Negrini, a premissa fundamental do parto humanizado.

    “A ideia central do parto humanizado é proporcionar respeito, com a família no centro das atenções, e evitar intervenções desnecessárias”, esclarece Negrini, professor na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e coordenador médico de obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein.

    A expressão “parto humanizado” começou a ser difundida no Brasil no final dos anos 2000, em um contexto de aumento nas taxas de cesárea e nos relatos de violência obstétrica.

    “É um conceito que, teoricamente, deveria estar presente em todos os partos. Ele se baseia em dois princípios: respeito e embasamento em evidências científicas”, explica a obstetriz Paloma Ortolani, bacharel em Obstetrícia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (Universidade de São Paulo).

    Embora nem todas as gestantes estejam familiarizadas com o termo, o parto humanizado descreve uma condição almejada pela maioria das mulheres brasileiras durante o atendimento obstétrico.

    De acordo com o obstetra Negrini, o parto humanizado superou as barreiras que existiam no passado e ganhou popularidade nos últimos anos. Ele destaca a oferta de terapias como aromaterapia e musicoterapia durante o parto em hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde) como exemplo dessa tendência.

    “Acredito que é uma abordagem que veio para ficar, e acho que deve ser assim, porque cada família vive esse momento de forma única. Precisamos considerar essas particularidades, tanto no SUS, com terapias complementares, quanto em maternidades particulares. Quem não se alinhar a essa tendência não terá espaço no futuro”, avalia Negrini.

    Já a obstetriz Ortolani observa que ainda há um certo desconhecimento sobre o parto humanizado entre as famílias que buscam esse tipo de assistência. “A maioria das mulheres nos procura por recomendação, mas em geral elas não compreendem completamente o que é [o parto humanizado]. Na primeira consulta, explico a elas o que envolve e qual é o papel de cada profissional da equipe”, relata.

    Presentemente, o significado mais abrangente de parto humanizado é praticamente consensual no meio científico. Embora existam diversas definições, todas concordam que o procedimento deve priorizar a mãe e evitar intervenções médicas invasivas e desnecessárias.

    No entanto, nem sempre foi assim: no início do século 20, a “humanização” do parto era usada para justificar o uso de fórceps e anestesia geral, práticas que atualmente não são alinhadas com a concepção de parto humanizado, como explica a professora Carmen Simone Grilo Diniz, do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade na Faculdade de Saúde Pública da USP, em sua pesquisa científica.

    Uma das principais mudanças nesse olhar sobre o parto foi a criação da PNH (Política Nacional de Humanização) da atenção e da gestão no SUS, em 2003. Embora não seja exclusivamente dedicada ao parto e puerpério, essa política pública foi responsável por promover valores de maior acolhimento no sistema de saúde e de maior participação dos pacientes nas decisões.

    Muitas mulheres buscam profissionais e maternidades específicos em busca de um atendimento mais respeitoso e a oportunidade de participar e compreender as decisões médicas.

    “A primeira pergunta que ouvi do meu obstetra foi sobre como eu gostaria que fosse meu parto, se normal ou cesárea. Quando respondi que preferia um parto normal, ele se comprometeu a fazer o possível para que ocorresse dessa forma, e foi assim que aconteceu. Para mim, era importante poder questionar certas coisas e ser informada sobre o que estava acontecendo”, recorda Natália Huvos.

    Mesmo sendo indicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para a maioria das gestações, o parto normal, o parto cesárea também pode e deve ser tratado com humanização, de acordo com Linus Pauling Fascina, gerente do Departamento Materno Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein.

    “Tanto o parto vaginal quanto a cesárea devem ser humanizados. Recentemente, foi introduzido o conceito de ‘parto adequado’, que abrange a cesárea também. É o tipo de parto que oferece o que há de melhor em termos científicos, com ênfase no parto vaginal, buscando atingir a taxa recomendada pela OMS, que é de 90 a 95% de partos normais, reduzindo assim a mortalidade materna e neonatal”, afirma.

    “Entretanto, dentro do parto adequado, também é crucial respeitar a escolha da mulher. Mesmo quando informada sobre os riscos desse procedimento, a gestante, aconselhada pelo médico, ainda pode optar por uma cesárea”, acrescenta Fascina.

    O pediatra também destaca que a segurança da gestante e do feto deve ser sempre a prioridade. “Portanto, a melhor abordagem para essa escolha deve ser uma decisão compartilhada entre a gestante e o médico que a acompanha”, completa.

    Em suma, o parto humanizado hoje em dia é caracterizado pelo maior envolvimento da família e pela menor probabilidade de intervenções médicas.São espaços mais acolhedores. Podem incluir salas mais amplas, com iluminação natural, banheira ou preparadas para que as mulheres escolham entre diferentes posições para o parto normal.

    Além disso, o parto humanizado também implica que a mulher possa optar por diferentes métodos não farmacológicos de alívio da dor, como massagem, uso de água morna e até recorrer a uma analgesia, e que ela seja consultada antes de qualquer intervenção.

    A presença de acompanhante durante o parto, especialmente nos casos de baixa complexidade, também é um aspecto importante do parto humanizado. Esse acompanhante pode ser o parceiro ou parceira da escolha da gestante, conforme previsto em lei federal. Além da presença do acompanhante, a gestante pode ter na equipe outros profissionais, como doulas e/ou obstetrizes.

    Equipes multidisciplinares

    Doulas, enfermeiras obstétricas, obstetrizes, médicos ou médicas obstetras: profissionais diferentes têm papéis diferentes nas diversas fases da gestação e do parto humanizado. No caso da publicitária, a presença do marido, da doula e da obstetriz foi fundamental para deixá-la mais tranquila durante os momentos mais tensos do trabalho de parto.

    A obstetriz Paloma Ortolani explica que o acompanhamento deste tipo de profissional envolve a criação de um plano de parto com a gestante que contemple suas intenções e desejos.

    “Durante a gestação vamos elaborando o parto ideal para essa mulher, pois entendemos que parto humanizado não é necessariamente igual sempre. Cada gestante tem um plano diferente”, afirma Ortolani, que monitorou o trabalho de parto da publicitária desde as primeiras contrações, em casa, e a acompanhou no hospital.

    Já a doula fica responsável por oferecer apoio psicológico e auxiliar a gestante na busca por informações e profissionais. Diferentemente da obstetriz, a doula não exerce função técnica, ou seja, não é responsável por realizar exames de toque, verificar os batimentos do bebê ou a dilatação cervical.

    No caso da publicitária, a doula enviou uma lista de perguntas sobre as preferências da família que levou o casal a fazer uma extensa pesquisa sobre parto humanizado.

    “A doula nos entregou uma longa lista de perguntas sobre preferências logo no nosso 1º encontro, e como eram coisas muito específicas, ficamos desde o 3º mês estudando sobre parto humanizado para estabelecer tudo”, explica Manuela Pontual.

    Outra atribuição da doula é agir como uma representante da mulher durante o trabalho de parto, especialmente quando este se intensifica. Dessa forma, a doula atua em conjunto com o obstetra para orientar a gestante na tomada de decisões. Já o médico obstetra é quem tem a responsabilidade médica. É ele quem decide a necessidade de intervenções urgentes e cuida de eventuais complicações, mas sempre atento às demandas e desejos da mulher.

    Nem todo parto humanizado precisa contar com a presença de doula e obstetriz, como explicam os médicos obstetras consultados: a humanização do atendimento pressupõe que o médico deve respeitar os desejos da mãe mesmo que ela não tenha esse acompanhamento.  No entanto, em alguns casos, a atuação dessas profissionais pode ajudar a gestante a se sentir mais confortável.

    A relações-públicas Natália Huvos, que não contou com doula ou obstetriz no parto de seus dois filhos, em 2020 e 2022, acredita que teria se beneficiado desse acompanhamento.

    “Seria proveitoso ter uma pessoa que conseguisse responder algumas coisas por mim, porque chegou um momento no parto do meu 1º filho em que eu já estava com tanta dor das contrações que nem sabia o que estava respondendo”, lembra.

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