Artigo traduzido e ajustado do inglês, originalmente publicado pela matriz americana do Epoch Times.
Em meio a processos complexos de contratação, uma sombra se espalha no universo dos negócios nos EUA. Empresas estão utilizando vagas de emprego online falsas para projetar uma imagem de crescimento, manter os colaboradores existentes motivados e cultivar um grupo de potenciais futuros candidatos sem intenção de contratar, de acordo com estudos.
A prática é conhecida como “oportunidade sem efeito” e é responsável por 43% das vagas de emprego oferecidas online em diversos setores.
Uma pesquisa da Clarify Capital com mais de 1.000 gestores de contratação mostrou que, além de métricas falsas de crescimento e produtividade, um terço dos profissionais afirmou ter oferecido oportunidades sem efeito online para acalmar os ânimos de colaboradores sobrecarregados dentro de suas empresas, acreditando que receberiam apoio em suas funções.
O fenômeno tem gerado frustração generalizada tanto para o postulante quanto para o empregador. Em média, nos EUA, pode demorar até oito semanas para que um profissional em busca de emprego receba uma oferta após enviar sua candidatura a uma vaga online, segundo o site de anúncios de emprego Indeed. O procedimento frequentemente envolve a adaptação do currículo, formulários extensos e diversas etapas de entrevistas. Isso significa que os postulantes estão desperdiçando horas tentando ser contratados por empresas que não estão verdadeiramente buscando novos colaboradores.
Por consequência, não é surpreendente que 55% dos americanos declarem que estão “completamente esgotados” com a busca por emprego, segundo a firma de recrutamento Insight Global.
Muitos profissionais de contratação afirmam que as oportunidades sem efeito prejudicam as empresas que estão verdadeiramente tentando recrutar novos talentos. A constituição de um grupo pré-selecionado de candidatos para futuras vagas é a razão pela qual 37% dos gerentes de contratação pesquisados afirmam oferecer oportunidades sem efeito, porém alguns argumentam que o efeito é inverso.
“As oportunidades sem efeito são definitivamente problemáticas para as empresas que estão honestamente tentando contratar pessoas”, Ben Lamarche, gerente geral do Lock Search Group, disse ao Epoch Times.
“Esses anúncios não apenas sobrecarregam os quadros de vagas e dificultam para os candidatos encontrarem e se candidatarem a vagas genuínas, mas também geram frustração e desconfiança entre os candidatos”, acrescentou.
Trabalhando em uma agência de recrutamento e consultoria, o Sr. Lamarche testemunhou o aumento das oportunidades sem efeito. Um ex-recrutador, amigo dele, confessou que oferecia vagas inventadas para impressionar clientes e aumentar suas métricas de desempenho. O Sr. Lamarche observou que o recrutador não parecia preocupado com a qualidade ou o nível de interesse dos candidatos, ele estava apenas buscando informações de contato.
Ele também já presenciousituações em que postulantes profissionais com competências perfeitamente adequadas subitamente se deparam com o mutismo dos gestores de contratação e, em seguida, encontram o mesmo posto para o qual se candidataram, com o mesmo anúncio publicado repetidas vezes a cada poucas semanas.
Corporações de tecnologia, recrutadores e companhias de recrutamento estão entre os principais fornecedores de oportunidades “fantasmas”, de acordo com Stephen Greet, CEO da BeamJobs.
“Corporações de tecnologia são frequentemente apontadas como grandes usuárias de anúncios “fantasmas”, declarou. “Com a velocidade em que o setor se move, é crucial manter um grupo de possíveis candidatos prontos para o trabalho. Dessa forma, se surgir um novo projeto ou se alguém sair, eles já têm pessoas qualificadas para considerar.”
Encenação da produtividade
A tendência de ofertas de emprego fictícias não se restringe a postulantes com um vasto leque de conhecimentos. O Sr. Lamarche recordou o caso de um colega especializado em um único nicho que também caiu nessa cilada. O colega trabalhava com sistemas de raios X em máquinas para determinar fadiga de metais.
“A empresa marcou uma entrevista, mas depois cessou de responder, e o anúncio da vaga ainda está online mais de um ano depois”, relatou o Sr. Lamarche. “É possível que essas ofertas de emprego fictícias sejam utilizadas para fins internos, como manter o departamento de RH ocupado ou escapar de responsabilidades por discriminação.”
Há indícios que endossam essa alegação. Uma análise da Visier de 2023 com 1.000 colaboradores americanos em período integral revelou que quase metade dedica mais de 10 horas semanais tentando parecer ocupada ao invés de ser produtiva. Oitenta e três por cento dos entrevistados admitiram ter participado de atividades para parecerem ocupados nos últimos 12 meses. Isso é o que a Visier define como “encenação da produtividade”.
O grupo de pesquisa e análise classifica como “encenação da produtividade” o fato de os colaboradores priorizarem o trabalho “performativo” em detrimento das tarefas verdadeiramente produtivas. A Visier afirma que o intuito do trabalho performativo é “criar a aparência de que o colaborador está ocupado com a geração de produtos e valores, ao invés de contribuir para resultados comerciais significativos”.
O tempo gasto com isso pode crescer rapidamente para profissionais que atuam nas contratações. Uma estimativa aponta que as empresas dedicam cerca de 30 horas ao longo de um período de quatro semanas para recrutar.um único empregado. Esse valor é muito maior para cargos superiores, que é de aproximadamente 40 horas em um intervalo de 6 a 8 semanas.
“Durante minha atuação como consultor em diversos setores de Recursos Humanos, ouvi relatos diretos de gestores de contratação admitindo que mantiveram as oportunidades divulgadas online mesmo após terem sido preenchidas”, afirmou Conor Hughes, consultor de RH, ao Epoch Times. “Apenas para transmitir a ideia de que essas empresas estavam contratando e expandindo constantemente.”
Conforme Hughes, os anúncios de trabalho falsos não se restringem aos grandes portais de emprego. Recentemente, um gestor de contratação revelou a ele que manteve as mesmas vagas de emprego publicadas no portal de carreiras de sua empresa por quase oito meses, sem intenção de entrevistar ninguém.
“Parece que, para alguns, o preenchimento de métricas falsas e a criação de uma imagem enganosa da atividade comercial tornaram-se mais relevantes do que apoiar candidatos legítimos a emprego”, comentou ele.
Ele acredita que, com tantas divulgações fantasmas inflando o número real de oportunidades, os candidatos a emprego inevitavelmente ficam desanimados após investirem um tempo considerável em becos sem saída.
“Isso quase certamente prolonga os ciclos de busca, à medida que a confiança diminui”, disse Hughes, acrescentando: “Equipes de RH sobrecarregadas também correm o risco de desperdiçar recursos valiosos filtrando candidatos não qualificados atraídos por anúncios que não representam necessidades reais”.
Assim como o Sr. Lamarche, o Sr. Hughes também tem amigos e colegas que foram afetados por prováveis publicações fantasmas.
“Já consolei vários colegas desanimados que passaram horas elaborando formulários e currículos personalizados, mas as oportunidades desapareceram sem explicação”, contou ele.
O Sr. Greet, da BeamJob, também tem clientes afetados pelo que provavelmente são anúncios de trabalho falsos. Um cliente em especial enfrentou um silêncio repentino enquanto estava no meio de uma rodada de entrevistas para uma vaga de coordenador de marketing.
“Ele chegou à última rodada de entrevistas, mas o processo foi interrompido abruptamente sem nenhuma explicação”, relatou Greet ao Epoch Times. “Quando ele buscou informações novamente, meses depois, a mesma vaga de emprego ainda estava publicada online.”
O Sr. Greet relembrou outro incidente com um cliente com Ph.D. que ficou sabendo que, meses após se candidatar a uma posição que não se concretizou, a empresa nunca teve a intenção de contratar para o cargo.
“Do ponto de vista da empresa, a publicação de vagas que não estão realmente disponíveis pode acarretar problemas ao inundar a companhia com muitas inscrições de pessoas que talvez não sejam as mais adequadas. Isso pode dificultar para os empregadores encontrarem candidatos que realmente correspondam às suas necessidades. Isso pode prejudicar a reputação da empresa”, apontou Greet.
“Um emprego que foipublicado há 48 horas tem mais chance de estar recrutando ativamente do que um emprego que foi publicado há 3 meses.” – Joe Mercurio, líder de projetos da Clarify Capital
Apenas 39% dos gestores de contratação pesquisados informaram que suas oportunidades de trabalho divulgadas foram preenchidas, conforme uma pesquisa da Clarify Capital de 2023. Outros 27% afirmaram que simplesmente se esqueceram de retirar o anúncio do ar.
Normalmente, propagandas de emprego on-line ficam disponíveis por aproximadamente 30 dias, de acordo com o Indeed. Contudo, a companhia destacou que, mesmo com uma oferta de emprego ativa, existe a possibilidade de a posição já ter sido preenchida e o gestor de contratação não ter atualizado a publicação.
Joe Mercurio, líder de projetos da Clarify Capital, escreveu em uma declaração on-line que, para evitar cair em um vazio temporal, é crucial garantir que a oferta seja muito recente. “Um emprego que foi publicado há 48 horas tem mais chance de estar recrutando ativamente do que um emprego que foi publicado há 3 meses.”
A Revelio Labs, companhia de inteligência sobre força de trabalho, registrou um “declínio acentuado” no número de contratações por anúncio de emprego em 2023, “questionando se os anúncios de emprego são um indicador confiável para a situação do mercado de trabalho”.
Também observou que os postulantes a emprego estão reportando “taxas cada vez maiores de serem vítimas de oportunidades fantasma por parte dos recrutadores”.
Desde o surgimento da pandemia da COVID-19, a relação entre contratações e vagas de trabalho está em queda livre, notado pela Revelio Labs. A escassez genuína de mão de obra pode estar contribuindo para esse problema, porém a Revelio apontou que setores não suscetíveis à escassez, como administração e finanças, também fazem parte dessa tendência de queda.
“Empresas que utilizam anúncios de emprego autênticos correm o risco de perder candidatos qualificados se seu anúncio de emprego estiver escondido entre propagandas falsas” – Ben Lamarche, diretor geral da Lock Search Group
Ele também declarou que a ausência de resposta de candidatosmais do que duplicou nos últimos cinco anos.
“As empresas que utilizam divlgações de empregos autênticos podem perder candidatos qualificados se seu anúncio de emprego estiver oculto entre anúncios falsos. Isso pode resultar em um processo de contratação mais prolongado e em custos de recrutamento mais elevados”, afirmou Lamarche.
Publicidade de atrativos
Na região do meio-oeste dos EUA, mais um dia de procura frustrada por emprego se inicia para John Marsden.
“A maior parte da minha experiência recente em busca de trabalho é me candidatar a vagas para as quais sou ideal e jamais obter retorno. Então, o anúncio de emprego permanece lá meses após”, relatou Marsden, que solicitou ser identificado por um pseudônimo, ao Epoch Times.
Atuando como redator técnico e editor, Marsden está ativamente em busca de uma nova colocação há um ano devido a uma alteração significativa na atmosfera de trabalho em seu emprego atual. Quando questionado quantas vezes ele pleiteou por uma colocação nos últimos 12 meses, Marsden riu. “Aproximadamente 200, mais ou menos. E isso apenas em meio período”.
Nas fases iniciais de sua busca por emprego, ele mencionou ter se comunicado com diversos gestores de recrutamento que sumiram repentinamente durante o processo de entrevistas. “Consegui quatro etapas [de entrevistas] e em seguida, simplesmente, silêncio”, disse ele.
Preocupado com a ausência de feedback, as tentativas de Marsden de entrar em contato com os gestores de recrutamento foram, em sua maioria, ignoradas, porém alguns responderam. Ele declarou que os que retornaram deram-lhe desculpas peculiares.
“Às vezes, respondiam com argumentos como: ‘Você não tem experiência com tal software exclusivo’, porém ninguém tem. Ele está disponível somente em sua empresa. Você estava ciente disso ao me chamar para a entrevista. Então, por que entrou em contato comigo?”
No entanto, Marsden afirmou ter aprendido a identificar facilmente uma oportunidade fantasma nos dias de hoje, o que ele compara a “publicidade de atração”. Conforme ele, os buscadores de emprego precisam ficar atentos a trabalhos temporários que anunciam “seis meses ou mais”, que empregam slogans empresariais ou que são vagos sobre a descrição do trabalho. Ele evita anúncios de emprego que priorizam mais a venda do negócio do que a explicação do cargo em si. “Se houver três ou quatro parágrafos sobre a empresa ou slogans como ‘trabalhe sério, divirta-se sério’, a resposta é não. Sigo em frente.”
O Sr. Hughes ressaltou que as oportunidades fantasma podem prejudicar gravemente o ânimo dos candidatos e fazer com que a procura por um emprego satisfatório pareça um “jogo de números sem sentido, com pouca consideração pelas metas de carreira ou pelo tempo das pessoas”.
Ele comenta que os confrontos com anúncios de emprego falsos ocorrem em variados setores e em qualquer empresa que enfoque em uma imagem de crescimento em detrimento do tratamento justo das pessoas.
“Nenhuma empresa ou departamento está imune a pressões que possam incentivar o cumprimento de métricas de contratação em detrimento das vivências dos candidatos a emprego. É fundamental uma cultura mais transparente e focada na integridade em todos os setores que se utilizam do recrutamento online”, comunicou Hughes.
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