segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Rodrigo Bueno: Aprovo a ‘invasão estrangeira’ no Campeonato Nacional

    Uma das alterações nas normativas do Torneio Nacional, após encontro dos times da Série A na CBF na última segunda-feira (5), é o ampliação do limite de forasteiros em campo. Agora, poderão ser utilizados nove “forasteiros” por equipe, algo que tem preocupado bastante algumas pessoas que lamentam o menor espaço para atletas nativos. Inclusive a Fenapaf (Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol) se posicionou contra essa mudança que restringiria o uso dos garotos provenientes das categorias de base nas equipes principais, o que resultaria em prejuízo para o futebol brasileiro.

    Eu sempre defendi a ampliação do limite de estrangeiros por clube, algo que até pouco tempo era reduzido a apenas três atletas. Antes de tudo, preciso recordar aqui que ninguém é obrigado a escalar nove estrangeiros em um jogo. Também ninguém precisa parar de utilizar atletas da base, não há nenhuma regra que impeça a montagem de um time apenas com pratas da casa. Esta é a liberdade do mercado.

    Defendo que um clube tenha o direito de fazer o que bem entender com seu elenco, com seu projeto, com sua SAF. Se o plano é revelar jovens atletas e fazer dinheiro no mercado, pode encher o time de guris. Se a ideia é contratar mão de obra estrangeira porque é mais barata ou porque oferece mais retorno técnico, que se invista mesmo em atletas de fora.

    Qual é o limite de estrangeiros na Liga Profissional de Basquetebol? Ter vários jogadores de outros países impediu a produção de grandes jogadores estadunidenses e o aproveitamento desses na principal liga de basquete do planeta? Qual é o limite de estrangeiros no futebol europeu? Este intercâmbio desenfreado de jogadores e treinadores “forasteiros” no Velho Continente causou um problema para as seleções de Alemanha, Espanha, França e Inglaterra? Ao contrário, todas essas seleções foram campeãs mundiais neste século, três delas com seu time principal e uma delas no sub-20 e no sub-17.

    A Inglaterra, pátria que pariu o futebol, possui a liga nacional mais badalada e mais globalizada do mundo. Antes da Liga Principal e da Lei Bosman, os ingleses relutavam em abrir suas portas para o mundo, havia muitas dificuldades e exigências para a chegada de estrangeiros na terra que era da rainha e que agora é do rei. Hoje, isso é um orgulho nacional e vemos uma série de talentos locais em diversas categorias.

    Os ingleses já voltaram a uma semifinal de Copa e já fizeram uma final de Eurocopa recentemente. Muitos estrangeiros ajudaram inclusive na mudança de alguns conceitos antiquados em várias equipes do Reino Unido. Ainda tem um ou outro time (principalmente os mais humildes que estão repletos de atletas ingleses de segunda linha) que praticam um futebol baseado em chutões, chuveirinhos, correria e imposição física, um estilo mais old school, o velho “kick and rush” que vinha da década de 50. Alemanha e França ainda triunfaram bastante neste século com as suas seleções nacionais importando alguns atletas cuja origem é de outras nações.

    Citei os exemplos acima para mostrar que não vejo motivo para tanta preocupação com a invasão de “forasteiros” aqui. Nos últimos meses, vimos alguns times tendo que descartar bons jogadores de algumas partidas para atender ao limite de estrangeiros em campo. Estávamos desfalcando os nossos times por conta dessa regra.

    Alguém pode dizer que na Europa a situação é diferente porque muitos jogadores que vêm de fora não são de fato estrangeiros por conta do Mercado Comum Europeu (grande parte do continente integra a União Europeia). Se fizermos esse paralelo, também não deveríamos contar como estrangeiros os atletas que chegam de outros países do Mercosul, o bloco da nossa região aqui. Metade das nações que integram a Conmebol estão unidas politicamente e comercialmente. Imagina se argentinos, bolivianos, paraguaios e uruguaiosnão fossem considerados como estrangeiros neste futebol brasileiro. A tal imigração certamente seria maior.

    Existe um outro aspecto competitivo que beneficia bastante o Brasil nesse mercado aberto no continente: nós temos a maior economia da região, nossos clubes têm investido cada vez mais expressivamente em reforçar seus elencos e em enfraquecer os nossos vizinhos. Isso se reflete no domínio que temos testemunhado do nosso país nos torneios da Conmebol. Desde 2019 só tivemos brasileiros como campeões da América, muito com o auxílio de Arrascaeta, Gustavo Gómez, Cano, Jorge Jesus, Abel Ferreira etc. E os endinheirados times vencedores conquistaram a América também com João Gomes, Danilo e John Kennedy, não se encerraram as revelações porque há mais dinheiro para investir na mão de obra do exterior.

    Eu era pequeno e já ouvia sobre o sonho de o Campeonato Brasileiro ser uma NBA do futebol mundial. Como podemos ter essa liga que seja uma referência global se tivermos somente atletas brasileiros? Talvez isso fizesse sentido nos anos 50, 60 e 70, quando tínhamos de fato diversos dos melhores jogadores do mundo e ainda existia forte restrição de estrangeiros na Europa. Hoje, mesmo se tivéssemos aqui todos os brasileiros que estão no futebol europeu, já não seríamos essa Coca-Cola toda não.

    Nós presenciamos a primeira convocação de Dorival Júnior na seleção e, convenhamos, não é nada de outro mundo, não temos uma geração das mais empolgantes. O problema maior do futebol brasileiro, na minha mascarada opinião, não é dar mais espaço para os “gringos” nos nossos clubes, é sim a grande mudança da nossa mentalidade ao longo dos tempos.

    Estamos com conceitos mais europeus, e isso vem desde a base, o que está resultando na carência de grandes armadores, centroavantes e até dos nossos alas, o que tem gerado menos dribles e ousadia em campo, o que vem deixando nosso jogo mais robotizado, físico e cheio de passes para o lado e para trás, o que talvez explique por que um talento como James Rodríguez é pouco aproveitado pelo São Paulo, um dos tantos times da nossa elite repleto de “operários”. O Vasco também é uma equipe lutadora que compete quase o tempo todo, mas encontrou um espaço para aproveitar a qualidade técnica de um francês (Payet).

    A torcida do Inter está eufórica com a chegada de Borré para jogar ao lado de Valencia e Alario. Eu aprovo totalmente esse ataque e o esforço da diretoria colorada para implantar o limite de nove estrangeiros em campo no Brasileiro, campeonato que o Inter tem como prioridade neste ano porque não o vence desde 1979 e também porque não está na atual CONMEBOL Libertadores. O time gaúcho, que ainda conta em seu elenco com Rochet, Mallo, Bustos, Mercado, Aránguiz e De Pena, pode ser o campeão brasileiro mais “gringo” da história, ainda mais sendo treinado pelo argentino Eduardo Coudet.

    Se o Inter idolatrou de uma forma muito singular Don Elías Figueroa, lendário zagueiro chileno nos anos 70, agora teme a debandada de seus principais jogadores na Copa América, coisa que afeta também de maneira substancial o Flamengo, outro forte postulante ao título do Brasileiro (o meio-campo formado por Pulgar, De la Cruz e Arrascaeta pode entrar para a história do clube que já teve Andrade, Adílio e Zico e que se orgulhava bastante por formar craques em casa).

    Os tempos são outros, o Vinicius Jr. vai muito mais cedo para o Real Madrid do que Zico foi para a Udinese nos anos 80, então que o rubro-negro use seu grande poderio econômico para montar o melhor time possível, independentemente da nacionalidade de seus atletas. Um Flamengo mais internacional e um Campeonato Brasileiro mais global não é nada ruim a meu ver neste momento. Muito ao contrário, aliás.

    Podemos melhorar o nível de nossos torneios com mais qualidade vinda de fora (não é só quantidade), certamente aumentaremos mais a média de público (que já é crescente) em nossos estádios, passaremos a brigar mais com ligas periféricas como as do Oriente Médio e dos Estados Unidos, seremos cada vez mais vitrine e atração para outros mercados, venderemos melhor nosso produto, conquistaremos cada vez mais títulos internacionais e, assim, talvez tenhamos mais condições de manter os melhores jogadores brasileiros e ainda trazer mais e melhores astros “gringos” para o nosso país.

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