segunda-feira, 8 julho, 2024
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    Técnicas combinadas de produção elevam substância orgânica em solos da Caatinga


    Pesquisa conduzida pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) e Embrapa Meio-Norte (PI) demonstrou que métodos agroflorestais incrementam o acúmulo de carbono orgânico no solo em até 50% mais do que uma região de vegetação nativa.

    No sistema que adotou consórcio de milheto ou sorgo com capim massai, a concentração de nitrogênio no solo foi 60% superior em comparação com a mata de Caatinga. Os dados apontam que técnicas integradas de produção podem reter carbono no solo e recuperar perdas causadas por emissões de gases de efeito estufa na agropecuária.

    Os desfechos da pesquisa foram divulgados na Revista Brasileira de Ciências do Solo e oferecem indícios de que é viável, em métodos integrados, adotar um manejo sustentável da Caatinga que concilie a vegetação nativa e a formação de novas áreas de produção agrícola, trazendo benefícios como aumento da produção de forragem e assegurando a segurança alimentar dos rebanhos.

    Essa alternativa é relevante, pois, no bioma, as atividades agrícolas ainda são marcadas por questões como queimadas e superpastejo, que resultam na diminuição da fertilidade do solo. No Semiárido brasileiro, a reserva de carbono orgânico pode ser reduzida entre 12% a 27%, em razão de fatores como as condições climáticas e manejos inadequados.

    De acordo com o pesquisador da Embrapa Rafael Tonucci, o principal motivo para esses resultados é que os métodos combinados de produção favorecem a chamada “produção primária líquida” [ampliação da produção de forragem e da vegetação herbácea] e a decomposição de substância orgânica, a partir das culturas agrícolas e das árvores, promovendo tanto a cobertura quanto o incremento de carbono no solo.

    “Esse carbono deriva, essencialmente, da decomposição de raízes e das folhas que caem – a chamada serrapilheira, do capim e da cultura agrícola implementados nas faixas do sistema. Uma substância orgânica de qualidade”, destaca ele.

    No caso específico do sistema consorciado, Tonucci acrescenta que o acréscimo de nitrogênio se deve, principalmente, ao plantio consorciado com leguminosa e com a adubação utilizada. “Houve um aporte expressivo de nitrogênio pela entrada do feijão guandu e pela adubação em plantio convencional”, explica o pesquisador.

    A pesquisa

    Nos testes, realizados no campo experimental da Embrapa em Sobral (CE), foram analisadas amostras de solo em quatro diferentes áreas: vegetação nativa de Caatinga; sistema com cultivo de planta forrageira (milho ou sorgo) consorciado com capim Massai; dois métodos agroflorestais (AFS 10 e AFS 20), com diferentes proporções de áreas de floresta nativa preservada e áreas agrícolas, compostos por remoção da madeira de interesse comercial e área agrícola com cultivo de sorgo (ou milheto), feijão e capim Massai.

    Foto: Adilson Nóbrega

    Os dois métodos agroflorestais demonstraram melhor desempenho em relação ao acúmulo de carbono orgânico no solo: as análises sobre o AFS 20 revelaram um indicador de 50% a mais que o solo da vegetação nativa, enquanto no caso AFS 10, esse valor foi superior a 26% na comparação com a área de Caatinga. Já o sistema consorciado apresentou bons indicadores para o nitrogênio, em proporção 60% melhor que a área da Caatinga nativa.

    Esses dados foram considerados interessantes para a equipe responsável pela pesquisa, pois a conversão da Caatinga em áreas agrícolas e de pastagens, em geral, reduz os estoques de carbono e nitrogênio no solo. A implementação de culturas com alta produção de biomassa, porém, pode promover aumento dos teores dessescomponentes, proporcionando, adicionalmente, um ambiente propício ao crescimento de micróbios no terreno.

    A pesquisa destaca também que, com a viabilidade de práticas de manejo apropriadas é possível reabilitar pastos e a fertilidade dos terrenos, além de fomentar plantação e área de pasto de plantas forrageiras, proporcionando mais autonomia para a alimentação de animais.

    Tudo isso promove o aprisionamento de carbono no solo em quantidades que podem ser satisfatórias para recuperar as perdas por emissões de gases de efeito estufa nos sistemas de produção pecuária. Entre essas, a emissão de metano entérico por animais ruminantes (como bovinos, caprinos, ovinos) e a emissão de óxido nitroso originada do uso de fertilizantes.

    “Sempre que a gente fala de redução de gases, entramos em uma lógica de equilíbrio, de emissões e diminuições. E o solo entra nesse equilíbrio como o principal componente: é termos árvores, elas têm sua relevância para o aprisionamento de carbono, mas o maior estoque, o maior reservatório de carbono é o solo, não é a floresta”, frisa Tonucci.

    Diminuição de degradação dos terrenos

    Os pesquisadores apontam que outro ganho do aumento da matéria orgânica no solo, por meio de sistemas integrados de produção, é a possibilidade de reduzir processos de erosão e degradação do terreno na Caatinga. Tonucci destaca que a matéria orgânica atua como um “cimento” para fornecer coesão às partículas que compõem o solo.

    No caso da Caatinga, além do solo ser naturalmente escasso em matéria orgânica, prevalece uma precipitação de pancadas de chuvas intensas em curto período de tempo, que pode ocasionar processos de degradação.

    “O principal benefício do sistema integrado é que temos cobertura de solo quase o ano todo. Isso minimiza muito a erosão, é como se tivéssemos um ‘cimento’ mais resistente para que as partículas fiquem próximas umas das outras e reduza o impacto das chuvas: a água vai infiltrar lentamente, o solo terá tempo para absorvê-la”, explica Tonucci, que acrescenta que a cobertura vegetal também diminui a temperatura do solo, favorecendo a sobrevivência de micróbios e nutrientes para as espécies vegetais.

    O pesquisador Henrique Antunes, da Embrapa Meio-Norte, explica que para reduzir a degradação dos terrenos, a principal medida é utilizar práticas conservacionistas, como o cultivo em consórcio, a exemplo do milho consorciado com alguma gramínea forrageira.

    “Essa medida ajuda, por exemplo, a aumentar em médio e longo prazo a matéria orgânica no solo e, inclusive, abafar plantas daninhas que irão aparecer durante o cultivo do milho”, comenta. Essas estratégias são acessíveis ao agricultor que pode também plantar espécies florestais, contribuindo para o bem-estar animal, caso tenha animais na área.

    Antunes ressalta que a própria ciclagem de nutrientes pela geração de serrapilheira do componente florestal também é um ponto crucial para a melhoria de matéria orgânica. O pesquisador recomenda que o agricultor procure utilizar plantas de cobertura e palhada para proteger o solo, além de procurar implantar algum sistema de integração ou agrossilvipastoril em algum grau.

    “A ideia é que sempre que possível, o agricultor possa adotar algum sistema que proporcione ou que possibilite, se não um aumento, pelo menos a manutenção dos patamares de matéria orgânica em ambientes extremamente frágeis, como em áreas degradadas, por exemplo”.

    Vantagens do aumento da matéria orgânica no solo

    Entre as vantagens do acréscimo de matéria orgânica no solo estão as melhorias em termos de nutrientes e de atividade biológica no solo. No caso da Caatinga, o pesquisador Henrique Antunes explica que nos sistemas mais conservacionistas, como os agroflorestais, o uso de consórcio de cultura promove uma heterogeneidade de raízes (das diferentes culturas agrícolas)

    Dentro do sistema produtivo.

    “Em ambientes um pouco menos flexíveis, é crucial a inserção de matéria orgânica. A estratégia a ser empregada para acréscimo de matéria orgânica precisa ser diversificada e, principalmente, aquelas mais acessíveis ao agricultor”, esclarece Antunes.

    A utilização de cobertura morta, plantas de cobertura, implementação de sistemas agroflorestais ou Integração Lavoura, Pecuária, Floresta (ILPF) ou até mesmo a utilização de consórcios com deposição de cobertura na área, ou seja, o emprego de uma pastagem bem montada e bem administrada são maneiras de aumentar a matéria orgânica. 

    “A relevância do aumento de matéria orgânica se manifesta, a médio ou longo prazo, em estabilidade de sistemas. E isso consequentemente contribui para maior produtividade das culturas. Mas principalmente, não apenas a produtividade, mas uma melhoria do ambiente edáfico [da saúde do solo], com avanço na química, física, biologia e, consequentemente, também maior resistência a pressões abióticas como o estresse hídrico”, complementa Antunes.

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    Foto: Rafael Tonucci

    O aumento de matéria orgânica no solo também ajuda a reduzir a emissão de gases de efeito estufa na agropecuária, mas de acordo com o pesquisador essa diminuição não é imediata, é um processo que requer o empenho do produtor e a adoção de práticas conservacionistas e de uso de sistemas biodiversificados com presença de componente florestal, presença de gramíneas forrageiras, de culturas distintas, de raízes diversas.

    “Os sistemas agrossilvipastoris auxiliam a minimizar a emissão de gases de efeito estufa, entretanto, acima de tudo, eles colaboram para aumentar a qualidade e a quantidade de matéria orgânica nos sistemas.

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