terça-feira, 2 julho, 2024
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    5 motivos para Lula se preocupar com uma vitória de Milei na Argentina

     

    O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teme uma vitória do candidato libertário Javier Milei nas eleições argentinas deste domingo (22) por uma série de razões que podem afetar profundamente a relação entre o Brasil e a Argentina, além de induzir nova dinâmica política e econômica para a América do Sul.

    Essa eventual viradela na Argentina, com a volta de um governo de direita em meio à severa crise social e financeira, assusta o Planalto também pelo risco de ela enfraquecer a influência da esquerda no continente e da liderança regional brasileira e perante o cenário global.

    “É procedente que eu esteja preocupado (com a vitória de Milei)”, admitiu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na quinta-feira (19). Para ele, o candidato da Liberdade Avança (LLA), predileto nas pesquisas na corrida para a Morada Rosada, vai “ideologizar as relações internacionais” e labareda a atenção para a postura sátira dele em relação ao governo de Lula.

    Para analistas, os temores da esquerda brasileira, sobretudo do governo, vão aliás. Veja quais são os motivos.

    1. Prostração do Mercosul, com risco à sua ininterrupção

    Sabido pela postura sátira em relação a acordos de negócio regional e multilateral, um eleito Javier Milei poderia levar à revisão de compromissos da Argentina com o Mercosul e à procura de acordos comerciais individuais. Assim, uma nova orientação para a segunda maior economia do conjunto poderia enfraquecê-lo e colocar sua ininterrupção em risco. Sobre a relação com o Mercosul, a quem labareda de “união aduaneira imperfeita”, o candidato libertário já avisou que a Argentina “seguiria seu próprio caminho”, caso ele seja eleito. O Brasil exerce a presidência rotativa do conjunto em meio a tensões abertas com o governo uruguaio, de centro-direita, que pede flexibilização.

    2. Termo da parceria de Lula com o governo peronista

    Lula tentou, desde o primórdio de seu procuração, buscar caminhos para ajudar a Argentina a deixar a sua profunda crise econômica, propondo parceria estratégica entre os dois países e atuando junto a outros países e órgãos multilaterais para buscar fontes de financiamento e renegociar dívidas. A vitória de Milei poderia fechar de vez esses esforços. Lula tem relação pessoal de amizade com o hodierno presidente prateado, Alberto Fernández, que chegou a visitá-lo na prisão logo depois ser eleito em 2019.

    O Planalto foi duramente criticado pela oposição brasileira e pelo próprio candidato libertário por suas tentativas de, segundo eles, interferir no processo eleitoral prateado. As ações incluem concordar a ingresso da Argentina no Brics, conjunto formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; gesticular com empréstimos do BNDES; recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por novo tratamento ao país vizinho; firmar operações financeiras, incluindo concórdia de US$ 600 milhões; e um empréstimo de US$ 1 bilhão junto ao Banco de Desenvolvimento para a América Latina.

    A Argentina procurou assistência do Brasil para mourejar com desafios relacionados ao financiamento de importações. No entanto, as negociações não progrediram. Haddad reconheceu que o governo elaborou quatro propostas diferentes, todas destinadas a oferecer garantias que possibilitariam ao Brasil financiar as importações da Argentina. No entanto, nenhuma dessas propostas avançou devido à incapacidade ou falta de capacidade
    do governo prateado em atender às exigências estipuladas.

    Marqueteiros e estrategistas ligados ao PT participam da campanha do candidato governista Sergio Volume, hodierno ministro da economia, com quem Haddad tem buscado costurar formas de socorrer o país vizinho.

    3. Inflexão à direita na América do Sul já anima políticos no Brasil

    A vitória de um candidato libertário na Argentina enviaria um sinal simples de guia para a esquerda sul-americana, o que anima políticos de direita no Brasil e em outros países. Um grupo de 69 deputados de oposição a Lula assinaram uma epístola pública de esteio a Milei nas eleições, destacando que o direitista representa a “esperança de mudança e renovação para o povo prateado e para a América Latina”.

    A maioria dos países da América do Sul segue dominada por governos esquerdistas, mas já iniciou uma inflexão à centro-direita e direta depois as vitórias de Santiago Penã (Paraguai), de Luis Lacalle Pou (Uruguai) e, mais recentemente, de Daniel Noboa (Equador).

    A vitória de Milei representaria um duro golpe para a esquerda na América do Sul, que tem como o retrato mais trágico a Venezuela e que retomou nos últimos anos a liderança de países como Argentina, Brasil e Chile. A guinada à direita na Morada Rosada poderia enfraquecer a influência regional e global desse conjunto de países, prejudicando a agenda política do PT.

    4. Contraponto liberal à política econômica estatizante do Brasil

    Famoso por suas políticas econômicas radicalmente liberais, em contraste com a abordagem estatizante dos atuais governos prateado e brasílio, Milei pode implementar um novo e contrastante protótipo na América do Sul. Caso vença, ele pode erigir um contraponto significativo de iniciativas em obséquio da livre iniciativa e da retirada da presença do governo em vários setores da economia e da vida da população, estimulando debates e comparações com soluções apresentadas historicamente pelo PT.

    A Argentina é o terceiro maior parceiro mercantil do Brasil, detrás só da China e dos Estados Unidos. Uma vitória de Milei poderia afetar o negócio entre os dois países em tese, embora o candidato tenha dito que não interferirá nas iniciativas de cada importador ou exportador.

    Chamado de “Bolsonaro prateado”, ele afirmou durante a campanha que pretendia limitar iniciativas de governo para promover o negócio com o Brasil, classificando Lula de “comunista raivoso” e “socialista com vocação totalitária”.

    5. Termo da integração sul-americana, incluindo uma moeda geral

    A esquerda na América do Sul historicamente defendeu uma profunda integração regional nos planos político e econômico, incluindo a geração de uma moeda geral para seus países, semelhante ao euro. A vitória de Milei, que se opõe claramente aos projetos nessa direção, poderia valer o término desse sonho dos governos esquerdistas e retardar algumas ações em curso em obséquio da cooperação multilateral.

    Além da aversão ao Brics e ao Mercosul, o libertário também pode sepultar as iniciativas de Lula para retomar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), organismos regionais criados durante governos petistas e com viés de esquerda.

    Especialistas veem Congresso como maior
    repto de Milei

    Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria, vê a corrida presidencial argentina como ruptura da tradição bipartidária de 40 anos. “A emergência de uma terceira força, distinta da centro-esquerda peronista e da centro-direita tradicional, reflete o colapso do sistema político incapaz de enfrentar as crises. O candidato libertário é um exemplo notável desse cenário, mas o seu porvir ainda é incerto”, avaliou. Milei conquistou 30% dos votos nas primárias argentinas (obrigatórias) e tem chances, ainda que pequenas, de vencer no primeiro vez, considerando que há murado de 20% de eleitores indecisos.

    Caso não conquiste a presidência no domingo (22), o predileto nas pesquisas poderá ser beneficiado se o seu opositor nas urnas em 19 de novembro for Sergio Volume, representante do impopular governo Alberto Fernández, quando o libido reinante é de mudança. Se disputar com Patricia Bullrich, o eleitorado avesso ao peronismo se dividirá.

    “De toda maneira, a governabilidade de um eventual governo Milei dependerá da formação do Congresso, que será só parcialmente renovado no pleito, para legalizar as mudanças que propõe. Ele poderá ceder ao pragmatismo e buscar alianças com o grupo de Patricia, sendo que já foram iniciadas conversas com o ex-presidente centro-direita Maurício Macri”, acrescentou.

    Segundo o investigador político prateado, uma vitória de Milei não deve gerar efeito de contágio nas próximas eleições de outros países da América do Sul, uma vez que “cada dinâmica própria”. No entanto, ele admite que a direita brasileira poderá se beneficiar, capitalizando seu oração com uma guia expressiva da esquerda no país vizinho, enquanto procura candidato competitivo em 2026 e aguarda o saldo da gestão Lula.

    Natália Fingermann, professora de relações internacionais do Ibmec-SP, enxerga a chance de Patricia Bullrich concordar Milei contra Volume, caso ela não seja a desafiante e apesar do perfil antissistema dele. Tal concórdia é, segundo a crítico, precípuo também para preparar o terreno para um governo do libertário.

    “A capacidade dele de implementar qualquer uma das suas agendas polêmicas, como a dolarização e as reformas dos modelos públicos de saúde e ensino, depende da aprovação de larga maioria parlamentar, por envolver questões de natureza constitucional”, avaliou.

    A professora prevê a premência de Milei moderar posturas para não suportar críticas da população caso as suas propostas sejam barradas dentro de um quadro social reptador, com inflação mensal na mansão de dois dígitos, rumo à uma terceira hiperinflação, depois as das décadas de 1980 e 1990. A decisão de trespassar do Mercosul, por exemplo, já sofreu alguma inflexão, pois grande seção do empresariado prateado se beneficia desse
    espaço mercantil.

    “Mas o conjunto sofrerá grandes dificuldades em um governo dele, com recuo dos esforços liderados pelo governo brasílio para fortalecer alianças e ampliar número de membros”, observou. As relações bilaterais também deverão suportar prejuízos na questão ambiental,
    considerada estratégica por Lula, mas irrelevante por Milei.

    Para o consultor de empresas e palestrante Ismar Becker, Milei é “uma das poucas novidades na política na América do Sul”. Segundo ele, o economista e político prateado labareda a atenção não só por sua cabeleira despenteada, mas pela capacidade única de explicar como a macroeconomia afeta o dia a dia das pessoas, sobretudo quando a Argentina “afunda cada vez mais e clama por soluções corajosas para tirá-la da permanente crise”.

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