Parece que o maior vendaval solar da história foi ainda mais enérgico do que considerávamos até o momento. Em um estudo liderado por Ciaran Beggan, do Serviço Geológico Britânico (BGS), pesquisadores analisaram registros do campo magnético da Terra feitos durante o Acontecimento de Carrington, em 1859, e descobriram que a intensidade e velocidade de mutações no campo indicam que o acontecimento foi duas vezes mais potente.
Muito do que se sabe sobre o Acontecimento de Carrington vem de descrições de astrônomos contemporâneos ou de registros magnéticos. O problema destes dados, no entanto, é que eles não têm os números que detalham a intensidade da tempestade magnética, o que impede que os pesquisadores determinem o quão forte foi.
É aqui que entra o novo estudo. Beggan e seus colegas trabalharam com registros do Acontecimento feitos por dois observatórios em Londres, e concluíram que a intensidade e velocidade de mutação do campo magnético da Terra indicam que o Acontecimento de Carrington teve potência observada uma vez a cada 100 anos, ou até uma vez a cada mil anos.
Os resultados deixam a tempestade solar mais próxima das estimativas descritas em um artigo científico publicado em 1861; contudo, os dados da publicação foram revisados por físicos e a intensidade deles foi diminuída, porque cientistas consideraram que os registros não eram precisos. “Observando a taxa de alteração [da intensidade do campo magnético] calculada a partir dos magnetogramas, são pelo menos 500 nanotesla por minuto, o que corrobora o que os documentos originais de 1861 sugeriam”, explicou Beggan.
Isso significa que o Acontecimento de Carrington foi quase duas vezes maior (em potência) do que o esperado para um evento observado uma vez a cada século, de 250 nanoteslas. Os autores também identificaram algumas leituras de uma aparente tempestade geomagnética, que teria ocorrido alguns dias antes da de Carrington e contribuído para sua força.
O artigo que descreve as descobertas foi publicado na revista Space Weather.
Acontecimento de Carrington, a maior tempestade solar
E, afinal, o que foi o Acontecimento de Carrington? O nome descreve uma grande tempestade solar ocorrida no começo de setembro de 1859, quando faltavam poucos meses para o máximo solar (etapa em que o Sol fica mais ativo em seu ciclo de 11 anos). Em agosto, Richard Carrington, astrônomo amador, percebeu que a quantidade de manchas solares estava aumentando, e as desenhou em seu caderno.
Enquanto desenhava, ele viu um flash de luz repentino que durou cerca de cinco minutos. Hoje, sabemos que a luz veio de uma ejeção de massa coronal (CME), uma explosão de plasma magnetizado da atmosfera superior do Sol. Normalmente, as CMEs levam alguns dias para chegar à Terra, mas aquela nos alcançou em menos de 18 horas.
No dia seguinte após a observação do acontecimento, a Terra sofreu uma tempestade geomagnética sem precedentes: a comunicação via telégrafo falhou em todo o mundo, operadores dos aparelhos sentiram choques elétricos, e auroras boreais, que costumam acontecer só em latitudes polares, foram visíveis nos trópicos.
Se uma tempestade solar da escala do Acontecimento de Carrington acontecesse hoje, os problemas seriam ainda maiores: tal fenômeno certamente afetaria a internet, suspendendo temporariamente operações e diferentes serviços essenciais para nossa vida.
Fonte: Space Weather; Via: NewScientist