sexta-feira, 5 julho, 2024
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    A iniciativa Brasil para voar não sai do chão mesmo com empresas aéreas pedindo socorro


    Quase um ano após as primeiras promessas de implementação do “A iniciativa Brasil para voar”, que propõe passagens aéreas a R$ 200 por trecho para certos grupos de passageiros, o programa ainda não decolou. E sua execução ficou ainda mais complicada com a piora da crise do setor aéreo.

    A ideia surgiu no início do governo, quando o ministro dos Portos e Aeroportos era Márcio França (PSB). Com o novo ministro, Sílvio Costa Filho (Republicanos), a pasta continuou com a rotina de promessas, mas o programa permanece apenas no papel.

    Os lançamentos do programa estavam previstos para agosto, setembro e, mais recentemente, fevereiro. Segundo a assessoria do ministério, o anúncio do programa será feito em nova data a ser definida após o carnaval. “Estamos buscando uma data que seja compatível com a agenda de todos os envolvidos”, informou a pasta à Gazeta do Povo.

    O programa deve ser direcionado a aposentados do INSS que recebam até dois salários mínimos e estudantes do Programa Universidade para Todos (ProUni). Costa Filho disse, em janeiro, que, dependendo dos resultados, buscará expandi-lo em colaboração com as empresas aéreas.

    O objetivo da iniciativa Brasil para voar é incluir de 2,5 a 3 milhões de novos passageiros no mercado da aviação brasileira, abrangendo aqueles que não viajam há mais de um ano ou nunca utilizaram a aviação comercial. No ano passado, foram transportados 112 milhões de passageiros.

    Especialistas são críticos em relação ao programa. A tentativa de “democratizar” o setor aéreo implica em riscos: ao beneficiar alguns grupos de consumidores, pode levar a aumento de preços para os demais passageiros.

    Cenário desfavorável para o setor aéreo

    O adiamento da iniciativa “Brasil para voar” coincide com um momento desfavorável para a aviação. No quarto trimestre de 2023, a plataforma Consumidor.gov.br registrou 82,5 reclamações para cada 100 mil passageiros transportados, um aumento de quase 10% em relação ao mesmo período do ano anterior.

    Outro problema foi a forte elevação dos preços das passagens aéreas. Em um ano, elas subiram em média 26%, segundo a última medição do IBGE, em janeiro.

    A Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) aponta que o preço médio da tarifa aérea doméstica estava, em novembro, em R$ 702,70. Na ocasião, mais da metade (51,7%) dos bilhetes comercializados em 12 meses custou até R$ 500. E 7% acima de R$ 1,500 mil.

    Um dos “vilões”, segundo as empresas aéreas, é o combustível. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o querosene de aviação (QAV) responde por 41% dos custos e despesas operacionais.

    Segundo a base de dados da Anac, o preço médio do QAV era de R$ 5,37 por litro em novembro de 2022. Baixou a R$ 3,41 por litro em julho de 2023. E depois chegou a R$ 4,40 em novembro.

    No entanto, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, sustenta que o QAV não é fator preponderante para a crise das áreas. Dias atrás, ele disse que a estatal baixou o preço em 41% ao longo de um ano, até o início de fevereiro.

    A questão é tratada como relevante do governo. Apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer que não haverá recursos do Tesouro para as empresas aéreas e a Petrobras afirmar que não vai baixar o preço de combustível para ajudar o segmento, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou na terça (6), a criação de um grupo de trabalho junto ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) para estudar formas de reduzir o custo do QAV.

    Outro problema enfrentado pelas empresas aéreas é a judicialização das reclamações dos passageiros. Segundo o ministro Sílvio Costa Filho, 8% dos processos judiciais do mundo contra companhias de aviação ocorrem no Brasil. As demandas absorveriamcerca de R$ 1 bilhão por ano do setor.

    No final de janeiro, Costa Filho comunicou que o governo federal planeja estabelecer um fundo de financiamento de até R$ 6 bilhões para a aviação. A criação estaria sendo coordenada com Haddad e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.

    Empresas aéreas afirmam que fundo de resgate não é adequado

    De acordo com o colunista Lauro Jardim, de “O Globo”, em conversas privadas as empresas aéreas afirmam que não têm condições de participar do Voa Brasil enquanto não receberem ajuda do governo – a começar pelo pacote financeiro de R$ 6 bilhões para que possam se capitalizar e renegociar dívidas.

    Mesmo o pacote é considerado insuficiente pelas companhias. Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, Jerome Cadier, presidente da Latam, a maior companhia aérea brasileira em participação de mercado, afirmou que a medida não vai resolver os problemas estruturais que encarecem a passagem. Ele cobra medidas para reduzir custos operacionais – como, por exemplo, o combustível.

    A situação mais delicada é a da Gol, a segunda maior do Brasil em participação de mercado, que tinha no terceiro trimestre um passivo de R$ 33,3 bilhões e um patrimônio líquido (diferença entre o que tem e o que deve) negativo em R$ 17 bilhões, segundo demonstrações contábeis encaminhadas à Anac.

    A empresa entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, em 25 de janeiro, para poder renegociar as suas dívidas. Foi a mesma estratégia adotada pela Latam, no primeiro semestre de 2020, em decorrência dos efeitos da pandemia. O processo foi concluído em novembro de 2022.

    A Azul, a terceira maior empresa aérea brasileira, optou por reestruturar sua dívida. A divulgação da conclusão das negociações foi feita em outubro de 2022. Segundo a agência de notícias Reuters, apenas com arrendamento de aeronaves houve uma redução de pagamentos de R$ 1 bilhão por ano.

    Um levantamento feito pelo presidente da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (Alta), José Ricardo Botelho, mostra que entre 2010 e 2022 as empresas aéreas brasileiras acumularam um prejuízo de R$ 54 bilhões, com apenas três anos de lucro líquido (2010, 2017 e 2019).

    Nos três primeiros trimestres do ano passado, segundo a Anac, os prejuízos somaram R$ 1,5 bilhão. “Estamos diante de uma realidade que exige ação imediata para reverter o quadro. E todos estão emitindo os mesmos sinais de alerta: os custos operacionais, judicialização, segurança jurídica para investimento e a ausência de uma visão estratégica para um serviço público essencial em um país continental como o Brasil”, diz Botelho.

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