quarta-feira, 3 julho, 2024
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    Análise Anatomia de uma Queda | O falecimento como elemento de algo maior e mais grave


    Anatomia de uma Queda inicia com o óbito de um pai, cujos primeiros observadores são seu filho cego e um cachorro; um acontecimento digno de grandes mistérios de assassinato e tribunal. Entretanto, pouco depois, percebemos que a película de Justine Triet (Sibyl) trata de algo muito mais abrangente que isso, a ponto de o suposto crime, em si, ficar em segundo plano.

    São poucos os aspectos da produção que não assumem mais de um significado, aliás. Dessa forma, não é possível classificá-la como suspense, trama jurídica ou até mesmo um drama isolado. Ela pode ser todas essas coisas ao mesmo tempo, mas também nada disso em cada nova cena. É exatamente assim que a obra se destaca, consolidando sua posição como uma das melhores do ano.

    Meio real, um cachorro e muito mais

    Nada é o que parece em Anatomia de uma Queda, além disso, tudo é incrivelmente complexo. Começamos com uma entrevista da protagonista, Sandra (Sandra Hüller, em uma das melhores atuações do ano) e acompanhamos o garoto Daniel (Milo Machado Graner, também excelente) em um passeio corriqueiro com o cachorro Snoop (Messi, igualmente impressionante), em uma manhã que aparenta ser comum, mas que antecede uma grande perturbação.

    O ruído de uma obra misturado a uma versão quase surreal do sucesso de 50 Cent, interpretado pelo grupo alemão Bacao Rhythm & Steel Band, é prenúncio do caos. O falecimento de Samuel (Samuel Theis) é um momento que revela muito sobre essas pessoas, mas o espectador, naturalmente, só compreende isso depois de se deixar envolver pela possível tragédia, assassinato ou outra situação do tipo.

    É exatamente onde Triet deseja nos posicionar, e seguimos por esse caminho quase sem perceber. À medida que Sandra é acusada de um crime que pode ou não ter cometido, também começamos a buscar indícios do bem e do mal. Principalmente quando percebemos, aos poucos, que as pessoas por trás da tela apresentam conflitos, desejos e desígnios complexos, conflitantes e absolutamente humanos. Isso, na verdade, aumenta nosso envolvimento com a narrativa.

    Culpada ou inocente? Importa?

    Assim como algumas das outras escolhas do Oscar 2024, Anatomia de uma Queda também é um filme que utiliza situações dramáticas para contar uma história próxima dos espectadores. Todos são seres humanos que, agora, terão suas vidas expostas em um tribunal, diante do júri e da imprensa local, em um caso daqueles que ganham tons espetaculares, como ocorrem de tempos em tempos no Brasil.

    Um casamento em ruínas e uma família com abismos entre seus membros acabam servindo como argumento para um sistema judiciário altamente parcial e machista. O tribunal parece tentar mais confirmar uma visão preconcebida do que representar parte do processo legal, enquanto quem assiste discorda, concorda ou se sente provocado pelo que ocorre no fórum.

    Presenciamos longas conversas que levam ao clímax ou momentos retirados do contexto em um julgamento midiático e altamente parcial. Ao mesmo tempo, Anatomia de uma Queda utiliza longas cenas de câmera parada, focos nos olhos, trilha sonora pontual e uma sensação de quase tranquilidade para tratar de absurdos e traumas. É um contraste que incomoda e impulsiona a trama, mesmo nos momentos mais lentos.

    Atuações intensas do trio principal contribuem para levar a obra adiante nesses platôs, que não devem ser confundidos com barrigas. Sandra, Daniel e Snoop, aliás, demonstram alguns dos melhores trabalhos do ano e o cachorro poderia facilmente receber um prêmio para sua atuação. Mãe e filho, principalmente, motivam o espectador a assumir uma postura de investigador e jurado, apenas para,No momento subsequente, você percebe que há muito mais em jogo.

    O ponto crucial de Anatomia de uma Queda, afinal, é a cilada perspicaz criada pela trama de Triet. Para muitas pessoas, o filme pode até mesmo terminar com mais questionamentos do que começou. Se desejar assistir novamente, faça isso, pois uma segunda exibição fará com que a produção destaque ainda mais suas subtilezas.

    Vale a pena assistir Anatomia de uma Queda?

    No meio da popularidade do crime real, Anatomia de uma Queda apresenta o julgamento de um homicídio como contraponto. Por trás da morte, existem indivíduos reais e motivos igualmente comuns e complexos. Em duas horas e meia de exibição, nada é absoluto como o batimento da música ou o martelo de uma juíza sobre a clara ruína de um casal, por mais que tentem fazer parecer que sim.

    Uma das poucas certezas que o novo longa de Justine Triet nos traz é que ele será tema de rodas de conversa, discussões acaloradas nas redes sociais e até teses de cinema. Acima de conclusões sobre o que provocou a morte de Samuel ou a responsabilidade ou não de Sandra, estão discursos que podem impactar de maneira diferente cada espectador. O caráter magistral do filme, porém, é indiscutível e sua complexidade narrativa e emocional mais do que justifica sua presença nas listas de melhores do ano.

    Anatomia de uma Queda estreia nos cinemas brasileiros em 22 de fevereiro.

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