O secretário de Estado das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, condenou a decisão do governo Bolsonaro de fechar os laços diplomáticos com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, classificando-a como “inaceitável”.
Sem mencionar a perseguição a opositores perpetrada por Maduro, assim como as alegações de violações dos direitos humanos atribuídas ao ditador, o chanceler de Lula afirmou que o fechamento da Missão diplomática brasileira na Venezuela pelo governo anterior foi motivado por divergências ideológicas.
“Foi inaceitável fechar as portas por divergências ideológica. Não se pode recusar relações com um país que possui 2.200 km de fronteira seca na Amazônia e onde residem 20 mil brasileiros. Um país que possui a maior reserva de petróleo, enfim, não se pode deixar de se relacionar com um país dessa natureza. Tomamos a iniciativa de reabrir a Missão e agora vamos trabalhar para garantir assistência consular aos cidadãos brasileiros”, afirmou Mauro Vieira em entrevista concedida ao periódico Metrópoles, nesta terça-feira (26).
A Missão do Brasil na Venezuela encerrou suas atividades em 16 de abril de 2020. Dias antes, o Consulado-Geral em Caracas e os três vice-consulados em terras venezuelanas também encerraram suas atividades. Segundo declarações do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na época, o governo Bolsonaro fechou as missões diplomáticas para reduzir despesas, tornar o Ministério das Relações Exteriores mais eficiente e cortar laços com países ditatoriais.
Em fevereiro de 2023, Lula reabriu a Missão na Venezuela e passou a advogar pela construção de uma “narrativa” em apoio ao regime de Maduro.
Sem enxergar problemas na relação com o regime venezuelano, Mauro Vieira afirmou que o governo Lula está confiante na promessa de Maduro de permitir eleições democráticas no próximo ano.
“Estamos trabalhando com esse objetivo. As eleições estão, em princípio, agendadas para dezembro do próximo ano. Conforme a legislação venezuelana, elas devem ser estabelecidas e a data anunciada formalmente seis meses antes. Estamos trabalhando com esse objetivo. Houve um grande acordo entre o governo e a oposição, que foi assinado em Barbados há dois ou três meses. O presidente Lula designou o embaixador Celso Amorim para representá-lo nessa assinatura, que é um passo importante para as eleições. Tudo está progredindo bem”, garantiu.
Ao abordar o novo presidente da Argentina, Javier Milei, o chanceler expressou otimismo em relação à relação entre os dois países, mas evitou comentar as críticas feitas por Milei a Lula durante as eleições, motivo pelo qual Lula não telefonou para parabenizar o argentino após a divulgação do resultado das urnas.
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta, chegou a afirmar que as relações diplomáticas com a Argentina só deveriam ser retomadas após um pedido oficial de desculpas de Milei.
Mauro Vieira se absteve de comentar a declaração do colega de governo: “Não sei, temos que tratar. Não tenho nada a acrescentar”.
Em relação a um eventual retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, Mauro Vieira afirmou que a relação entre os países deve permanecer inalterada.
“A relação com os Estados Unidos é de extrema importância e prioridade. No próximo ano vamos celebrar 200 anos de relações bilaterais, durante os quais teremos diversas iniciativas para comemorar esta marca. Temos um comércio de grande relevância, os Estados Unidos têm o maior investimento acumulado no Brasil, esta é uma relação muito significativa. Aquele que o povo americano escolher sairá vencedor, e nós continuaremos a dialogar com o novo governo ou a reeleição do presidente Biden, pois os interesses entre os dois países são muito significativos e importantes, e a conversa continuará”, afirmou o chanceler.
