Entidades ligadas à comunidade judaica brasileira manifestaram repúdio às declarações do ex-presidente do PT, José Genoino, que defendeu um boicote a empresas comandadas por judeus ou vinculadas ao estado de Israel, durante o final de semana. O petista fez as declarações durante uma live na qual também expressou apoio à interrupção das relações comerciais na área de segurança entre o Brasil e o Estado israelense.
A fala gerou imediata reação de deputados e senadores da oposição, que prometeram denunciar o dirigente petista por expressões “criminosas” que confrontam dispositivos da Lei Antirracismo de 1989.
A Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) veio a público lembrar que o antissemitismo “merece total reprovação” e manifestou a expectativa de uma retratação e “repúdio das pessoas que defendem os valores da paz e da democracia”.
A entidade afirmou repudiar as afirmações feitas por figuras importantes do PT que “exercem influência no governo federal” e que utilizam os “mesmos discursos que flertam com o nazismo e o fascismo e que foram condenados pelo próprio PT há poucos anos”.
“Ao evidenciar a origem judaica de empresas e defender seu boicote, Genoino revela sua covardia e seu viés antissemita. O que nos preocupa ainda mais é o silêncio dos dirigentes do partido que o acolhe”, declarou a entidade, ressaltando a relação de cerca de 450 empresas com contratos bilaterais.
O posicionamento foi endossado pelo presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), Alberto David Klein, que salientou que “antissemitismo é crime” e que a declaração de Genoino “é extremamente grave” e demonstra um comportamento “indigno [que] merece uma reprimenda e satisfações à sociedade”.
“E nada nos fará ficar calados, tampouco deixar de exercer nossos direitos de cidadania, nossos direitos fundamentais. […]
Lembrando que o Holocausto se iniciou pelo discurso de ódio aos judeus, a
discriminação, a perseguição, o isolamento, o confinamento, a morte moral e
física”, ressaltou a entidade.
A Fierj vai além e afirma que não permitirá que uma declaração como a de Genoino “fique sem apuração, sem que responda na forma da lei”. “Vamos nos defender desse e de qualquer ataque que coloque nossa comunidade em risco”, completou.
Ainda durante o final de semana, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) também destacou que antissemitismo é crime no Brasil e solicitou que as lideranças políticas brasileiras ajam com “moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio”. “Suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país”, concluiu a entidade em nota.
A menção ao Holocausto também foi feita pela StandWithUs, outra entidade vinculada à comunidade judaica brasileira, que lembrou dos eventos da “Noite dos Cristais” de 1938 que desencadearam a perseguição aos judeus.
“Precisamos lembrar que a crítica ao Estado e ao governo de Israel é absolutamente legítima e não constitui por si só antissemitismo, desde que seja feita da mesma forma e com os mesmos limites que quando qualquer outro país, inclusive o Brasil, é criticado, e sem negar seu
direito à existência ou demonizá-lo”, pontuou a entidade.
A StandWithUs ressaltou, no entanto, que a divulgação de preconceitos e teorias conspiratórias contra os judeus — no caso da declaração de Genoino — e a incitação ao ódio contra toda uma comunidade é um crime previsto na lei e um “gravíssimo atentado contra a convivência e a democracia”.
“Novamente, chamamos a esquerda brasileira, e especialmente ao Partido dos Trabalhadores, à reflexão. Declarações como a de Genoino, além da gravidade que elas tem em si, são também um ataque aos próprios valores desse partido e da esquerda democrática — que com certeza envergonha muita gente, tanto judeus quanto não judeus, que partilham deles”, completou.