sexta-feira, 5 julho, 2024
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    De acordo com Andrea Illy, a cafeicultura regenerativa tem aprimorado a qualidade do café brasileiro

     

    A São Mateus Agropecuária, localizada em Varjão de Minas (MG), é responsável pela produção do melhor café do mundo, de acordo com a illy. Neste ano, pela primeira vez, a empresa concedeu o prêmio Best of the Best a um produtor brasileiro, durante a 8ª edição do Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy.

    Nove especialistas avaliaram os melhores lotes da colheita de 2022/23 por meio de uma avaliação às cegas de nove tipos de café dos países finalistas: Brasil, Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Honduras, Índia, Nicarágua e Ruanda. Os resultados agradaram a ninguém menos que o próprio idealizador do prêmio: Andrea Illy, CEO da tradicional empresa familiar italiana.

    Em uma entrevista, ele atribuiu a conquista inédita do Brasil ao investimento em agricultura regenerativa, que contribui para a saúde do ecossistema através do aumento da biodiversidade das plantações de cobertura e da melhoria da dinâmica do solo, entre outros benefícios. Ele afirmou que a adoção desse tipo de prática traz apenas vantagens: os produtores que fizeram a transição da agricultura convencional para a regenerativa tendem a se recuperar mais rapidamente de possíveis impactos das mudanças climáticas na safra, além de verem o valor de suas propriedades aumentar.

    O executivo destacou na entrevista o empenho de seu pai, Ernesto, que em 1991 instituiu no Brasil um prêmio pioneiro de qualidade, o qual a cada ano atrai mais participantes e ganha reconhecimento de organizações ligadas ao setor. Ele afirmou: “É muito gratificante ver a transformação no mercado brasileiro, que agora produz cafés de altíssima qualidade, enquanto anteriormente era reconhecido apenas como líder na produção de café commodity.”

    Em sua opinião, o prêmio Best of the Best conquistado pelo Brasil na 8ª edição do Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy possui que importância para o País?

    Essa realização foi uma surpresa positiva e deriva da prática sustentável de agricultura regenerativa, que promove a regeneração natural do solo e a redução das emissões de dióxido de carbono. Vale ressaltar que, cerca de um mês atrás, lançamos o primeiro café certificado proveniente da agricultura regenerativa. Esse tipo de cultivo também contribui para aprimorar a saúde do ecossistema graças ao aumento da biodiversidade das plantas de cobertura e à dinâmica do solo. A certificação comprovou um aumento dos compostos orgânicos no solo, além de melhorias na biodiversidade, equilíbrio das funções naturais do ecossistema, captura de dióxido de carbono e aprimoramento dos ciclos de água, carbono e nutrientes. A máxima que defendo é que “se você pode sonhar, você pode realizar”, e os cafeicultores brasileiros demonstraram que é viável alcançar isso.

    A São Mateus Agropecuária fez a transição para a produção de cafés especiais há 15 anos, sempre priorizando os princípios da sustentabilidade. Atualmente, adotou a cafeicultura regenerativa, que preserva a vitalidade do solo e a saúde de todo o ecossistema. É possível conciliar a atividade agrícola com a preservação ambiental?

    Com certeza. Existem constatações, embora não validadas cientificamente, mas observadas empiricamente: a cafeicultura regenerativa pode resultar em um saldo de carbono negativo, graças à gestão adequada da propriedade, assim como o uso racional do solo e da água. A propriedade vencedora do prêmio Best of the Best tem 353 hectares, dos quais apenas 76 são dedicados à cafeicultura, enquanto o restante é preservado como reserva florestal. Os produtores também afirmam que a produtividade é a mesma, ou até maior, do que na agricultura convencional. Além disso, os produtos colhidos são deliciosos e contribuem para a saúde das pessoas, dado que, nesse sistema, com menos resíduos de agroquímicos, as plantas podem produzir mais fitoquímicos benéficos, como antioxidantes, ou seja, trata-se de uma atividade agrícola virtuosa.

    Nesse contexto, como motivar os produtores de café convencional, que ainda não tiveram recursos ou oportunidade para fazer a transição para a produção regenerativa?

    Os produtores que migraram da agricultura convencional para a regenerativa tendem a ser mais resilientes às variações climáticas. Além disso, o valor econômico da propriedade pode aumentar, tornando-se um empreendimento lucrativo. Com cafés de melhor qualidade, é possível vislumbrar preços mais elevados para o produto.

    Quanto ao mercado global de cafés commodity, como o senhor avalia o balanço entre oferta e demanda na última safra, 2022/23 (de outubro a setembro), e na atual safra, 2023/24?

    O ciclo bienal do café arábica provavelmente se inverteu no Brasil depois da grande geada de 2021, o que pode resultar em maior produção em 2024. Os produtores têm adotado práticas sustentáveis e reduzido custos, tendências que devem persistir. O consumo não apresentou crescimento em 2022/23, mas esperamos uma retomada em 2023/24, embora não tenhamos dados concretos para confirmar isso. Em 2022/23, a inflação nos Estados Unidos e na Europa freou a demanda de modo geral. Esperamos que a inflação se estabilize um pouco, evitando uma recessão, e que o consumo retome seu crescimento em 2024. A China, em particular, após a crise da covid-19, reabriu o mercado, mas a economia ainda apresenta fragilidades.

    Quais são as perspectivas para as cotações do café arábica em 2024, levando em conta o panorama global de oferta e demanda?

    É complicado explicar e prever quais são os fatores que podem influenciar o mercado de café, cuja tendência parece não estar relacionada com fundamentos, apesar dos estoques mundiais estarem em níveis muito baixos. Temos a expectativa de uma crise climática, provocada pelo fenômeno El Niño. Eventuais problemas com outras commodities alimentares, como o cacau, que estão com cotações muito altas, também podem impactar outros mercados agrícolas.

    Quanto à illycaffè, uma empresa familiar tradicional, os resultados de 2023 estão segundo o esperado?

    O crescimento da empresa em 2023 está em linha com as expectativas do trimestre anterior. No entanto, temos o desafio de absorver os aumentos nos custos do café e a inflação, ao mesmo tempo em que racionalizamos os custos operacionais. Realizamos reajustes nos preços dos produtos vendidos, mas ainda aquém dos custos.

    Quais são os planos para 2024?

    Estamos planejando grandes investimentos, já que precisamos duplicar a capacidade produtiva (a empresa não divulga certas informações que considera estratégicas). Temos a intenção de investir cerca de 20 milhões de euros nos próximos três anos apenas para expandir a capacidade produtiva. Nossa meta é lançar mais produtos, investir em marketing e digitalização da empresa.

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