sexta-feira, 5 julho, 2024
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    Desafios a serem vencidos pela candidatura de Caiado à presidência


    Sendo o pioneiro a manifestar o desejo de concorrer à Presidência em 2026, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, enfrentará uma série de desafios para efetivar sua postulação como candidato de oposição, inclusive dentro de sua própria legenda, União Brasil.

    Com o intuito de se tornar a opção mais aceitável da direita no pleito, a ser definida por consenso, e alcançar o centro, Caiado tem buscado o apoio de Jair Bolsonaro (PL). Ele espera suceder o ex-presidente como o principal adversário da esquerda, liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Sua presença como um dos quatro governadores no evento político convocado pelo ex-presidente na Avenida Paulista, no último domingo (25), foi mais uma ação direcionada a esse objetivo.

    Paralelamente a essa missão, Caiado tem se posicionado como um político conservador, porém adepto ao diálogo com outras correntes políticas, até mesmo aquelas antagônicas. Ele tem sustentado que a população estaria “farta da polarização” que dominou os últimos pleitos, e que não seria mais viável “governar com extremos”.

    Seu discurso de potencial candidato tem se respaldado nos resultados de sua administração estadual, destacando o crescimento econômico de Goiás, impulsionado pelo setor rural, a diminuição da pobreza e, principalmente, o combate à criminalidade.

    No ano anterior, a secretaria de Segurança Pública do estado promoveu a divulgação do Atlas da Violência, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontou uma redução de 35% na taxa de homicídios em Goiás entre 2018 e 2021.

    O governador enxerga na segurança pública um dos pontos menos favoráveis do governo federal e uma das principais inquietações da população. Por isso, tem proposto uma mobilização nacional contra o crime organizado, em especial o narcotráfico, se posicionando como debatedor e formulador de soluções pautadas em um apoio mais sólido às forças policiais.

    Partindo da percepção de que facções corromperam uma ampla gama do poder público e dos meios de comunicação, exigindo um enfrentamento direto e corajoso da questão. Nesse sentido, expressou sua oposição às saídas temporárias de presos (saidinhas) e à implementação de câmeras nos uniformes dos policiais.

    Setor do Agronegócio começa a contribuir para a projeção nacional de Caiado

    Como representante do meio rural, Caiado também tem explorado sua ligação com o agronegócio, principal setor econômico em seu estado e que tem tido atritos com o Planalto. Ele espera receber o apoio de grandes produtores rurais para uma eventual campanha presidencial.

    Como antecipação a isso, obteve da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) a disponibilização de espaços para encontros em Brasília e São Paulo, o que se repetirá em outros estados por meio das federações do setor.

    Agenda de valores gera resistência entre seguidores de Bolsonaro

    Defendendo as bandeiras do campo e da segurança pública, resta ao governador angariar o apoio de partidos e blocos parlamentares conservadores, sobretudo dos filiados ao PL, avançando na chamada agenda de valores.

    Esse é o ponto de resistência mais evidente dentre os seguidores de Bolsonaro a Caiado, que destacaram nos últimos dias o desentendimento entre o governador e o ex-presidente no tocante ao enfrentamento da crise sanitária de Covid-19. Logo no início da pandemia, em março de 2020, o governador de Goiás afirmou que Bolsonaro foi “irresponsável” ao classificar a enfermidade respiratória como uma “gripezinha”.

    Caiado tenta quebrar essa resistência. Em um gesto de aproximação com a pauta dos fiéis evangélicos, o governador inaugurou em Goiânia um bosque com mais de mil árvores plantadas em memória das vítimas do Hamas em Israel.

    Para o líder de Goiás e os seus seguidores mais próximos esses contrastes com Bolsonaro estão superados, considerando as colaborações que os dois estabeleceram nos anos seguintes, incluindo o respaldo do líder reeleito em primeiro turno à reeleição do ex-presidente.

    Não à toa, Caiado endossou o pedido que Bolsonaro fez na Avenida Paulista em prol da aprovação de um projeto de anistia aos réus condenados pelo inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) relacionado aos atos do 8 de Janeiro.

    Caiado espera que a vivência seja credencial relevante para se tornar nome de consenso, conforme ficou demonstrado em entrevista na qual rebateu a fala de Zema em favor de uma candidatura única da direita. Ele considerou “ingenuidade” e “bobagem” a proposta do líder mineiro de união em torno de um só candidato direitista tão logo seja possível, por entender que essa estratégia ignora as limitações dos polos extremos da política e a dinâmica das negociações partidárias.

    Primeira batalha de Caiado será unificar seu partido contra Lula

    O primeiro e principal desafio de Caiado na sua caminhada até o Planalto está, contudo, em seu próprio partido, União Brasil, que integra o time de ministros e a base de apoio parlamentar de Lula.

    O governador tem dado indícios de que quer superar o quanto antes a divisão dos correligionários – entre os que defendem a reeleição do atual chefe do Executivo e os que querem um caminho próprio. Na série de entrevistas que Caiado vem concedendo desde o fim de 2023, ficou clara a sua intenção de compartilhar com os correligionários o sonho de protagonismo.

    Nesse sentido, a sua primeira batalha para unir o União Brasil foi direcionada à convenção nacional, para a escolha do novo presidente, no lugar do deputado Luciano Bivar (PE), em conflito aberto com outros líderes.

    Devido ao racha interno, o encontro que estava agendado para esta quinta-feira (29), acabou sendo adiado, em uma jogada de Bivar. A cúpula ignorou e elegeu Antônio de Rueda para liderar a legenda. Caiado é um dos articuladores dessa mudança na direção partidária, juntamente com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, eleito agora vice-presidente.

    O governador também tem buscado entendimentos até com os ministros do União Brasil Juscelino Filho (Comunicações) e Celso Sabino (Turismo), tendo já se reunido com este último para discutir eleição presidencial. Sabino havia rebatido pela imprensa a tese do governador goiano, mas Juscelino, embora também não a apoie, admite que o partido pode não respaldar Lula em 2026.

    A obstinação de Caiado para se tornar candidato em 2026 está seguindo um cronograma estruturado e planejamento com metas definidas. Essa investida pessoal dele remonta a 1989, quando foi o mais jovem presidenciável da primeira eleição direta após o período militar.

    A diferença agora é que o médico e fazendeiro Caiado, de 74 anos, percorreu longa trajetória na política, como deputado, senador e governador no segundo mandato. Essa experiência acumulada e a coleção de feitos e posturas defendidas são os elementos que pretende explorar nessa fase atual, que busca a nacionalização de seu nome.

    Largada precoce pode ser útil para Caiado, dizem especialistas

    Com as pesquisas de opinião apontando o melhor nível de aprovação entre os governadores, na casa de 80%, Caiado se sente confortável para fazer da busca da Presidência uma marca do seu segundo mandato no Palácio das Esmeraldas.

    Com um programa a ser moldado pelos princípios do liberalismo econômico,da eficácia da máquina estatal e do papel do Estado em assegurar a soberania do território, afastando a dominação do crime, ele já está angariando os primeiros apoios, como o da ex-deputada estadual paulista, Janaína Paschoal, docente de direito penal da Universidade de São Paulo (USP). “Caiado é uma excelente alternativa para a direita”, afirmou ela nas mídias sociais.

    De acordo com especialistas consultados pela Gazeta do Povo, o governador de Goiás não iniciou a possível candidatura presidencial de maneira apressada, contrariando o receio que paira sobre outros possíveis postulantes, como os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).

    Apesar de ser considerado o “primeiro da fila”, Tarcísio aparenta estar inclinado para a busca pela reeleição, enquanto Zema e Ratinho têm a eleição praticamente garantida para o Senado.

    Caiado, reconhecendo que “candidatura de oposição precisa ser construída com antecedência”, pode apresentar vantagem posteriormente. Ele fez o ressalva de que não se candidatará, caso Tarcísio, com quem mantém boas relações, se lance. Porém, há uma novidade: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) já figura como figura em ascensão nas pesquisas para 2026, caso seu esposo permaneça inelegível.

    O cientista político Luiz Filipe Freitas avalia que Caiado tem condições de se tornar uma alternativa competitiva na direita, destacando sua aceitação em setores cruciais, como o agronegócio e o empresariado em geral.

    Apesar de possíveis resistências devido à sua origem, vinda de um estado do interior do país e com apenas 3% do eleitorado nacional, seu perfil é propício para conquistar apoio no centro. “Ele é o mais experiente e bem-avaliado entre os cogitados da direita, o que o credencia para a Presidência”, declarou.

    Caiado terá inicialmente que nacionalizar seu nome

    Entre os competidores na arena da direita, Zema e Tarcísio, apesar da inexperiência, têm a seu favor o comando dos dois maiores colégios eleitorais, o que impõe a Caiado um esforço adicional na busca por popularidade nacional.

    O momento atual, faltando dois anos para o início da pré-campanha, é considerado crucial para que Caiado ganhe visibilidade e se consolide como uma opção. Contudo, a adesão à sua candidatura pelo União Brasil, partido com acesso considerável a fundos eleitorais e partidários e uma estrutura nacional, desempenha um papel crucial nesse processo.

    Quanto ao eleitorado mais alinhado a Bolsonaro, Freitas acredita que os governadores de São Paulo e Minas já conquistaram maior identificação. O perfil de Caiado, representando a direita tradicional e moderada, apresenta desafios específicos para um avanço mais expressivo.

    Embora sua abordagem enfática na segurança pública atraia os seguidores mais fiéis de Bolsonaro, questões como saúde e meio ambiente revelam discordâncias. A postura mais ponderada de Caiado é evidenciada, por exemplo, ao ter se abstido do debate sobre a vacinação obrigatória nas escolas, diferenciando-se de outros governantes de direita, como Zema e Jorginho Mello (PL-SC).

    Para o cientista político Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria, Caiado é “um bom nome para a direita, que atualmente carece de candidatos competitivos, com exceção de Tarcísio, que tudo indica que irá buscar a reeleição”.

    “É inegável que o governador goiano tem considerável experiência política e de gestão. Porém, ele é pouco conhecido nacionalmente, uma situação que poderá ser revertida até 2026. Entendo que ele não foi precipitado ao antecipar sua intenção de concorrer. Ele precisa se antecipar pois está testando seu nome e buscando a projeção nacional necessária”, resumiu.

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