A Paper Excellence, do investidor indonésio Jacskon Widjaja, enviou uma notificação à Eldorado Brasil Celulose na semana passada, da qual detém 49,41% das ações. A alegação é que a empresa está agindo em defesa de “interesses questionáveis” da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que, com 50,59% das ações, compartilham a sociedade da Eldorado com a Paper.
De acordo com a fonte, isso é irregular, pois a Eldorado está negligenciando a necessária imparcialidade no conflito. A intenção da Paper é recorrer à Justiça para que a Eldorado deixe de tomar partido na disputa, conforme a empresa de Widjaja.
A última postura que incomodou a Paper ocorreu em 1° de janeiro de 2024. Na ocasião, a Eldorado divulgou um comunicado ao mercado afirmando que obedeceria à nota técnica do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
O Incra emitiu a nota em meados de dezembro, na qual recomendava a anulação do contrato que transferia todas as ações da Eldorado para a Paper. O argumento era que o contrato de venda da Eldorado a uma empresa estrangeira precisa receber a autorização prévia do Congresso Nacional e de outros órgãos competentes, o que não foi feito.
No documento divulgado pela Folha, a Paper também informou que tomaria “medidas adequadas” para a administração pública reformular o ato administrativo em que se baseou a nota técnica.
Disputa judicial
J&F e Paper Excellence estão em disputa pela Eldorado | Foto: Reprodução/YouTube/Paper
Em 2017, a Paper Excellence assinou um contrato com a J&F no qual se comprometia a adquirir 100% das ações da Eldorado em um ano. A transferência seria realizada por etapas e totalizaria R$ 15 bilhões.
Era um momento em que, com os irmãos Batista envolvidos em denúncias de corrupção, o grupo J&F precisava de capital, inclusive para o pagamento de multas.
Nas primeiras fases, a Paper comprou, por R$ 3,8 bilhões, parte das ações da J&F, que estavam em posse de fundos de pensão e bancos internacionais, e ficou com 49,41% da Eldorado.
Faltavam os 50,59% controlados pela J&F.
No entanto, o negócio não foi concluído. Na época, a J&F argumentou que a Paper não estava facilitando a liberação das garantias, algo que a empresa do indonésio negou. A Paper depositou em juízo R$ 11,5 bilhões (incluindo o restante e as garantias) em uma conta no Itaú.
A valorização da celulose foi outra questão levantada pela J&F. Em função disso, foi proposta, em 2018, na Califórnia, uma alteração do valor do contrato, pela qual a J&F receberia mais R$ 6,4 bilhões. A sugestão foi rejeitada pela Paper.
A situação dos irmãos Batista foi mudando, e a necessidade de capitalização diminuiu, com novas perspectivas para o andamento dos processos. Em dezembro último, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o pagamento da multa de R$ 10,3 bilhões aplicada contra a J&F anos antes.