O governo do Brasil anunciou que deslocará 16 veículos 4×4 blindados (modelo Guaicuru) para as cidades de Pacaraima e Boa Vista, localizadas em Roraima, fronteiras com a Guiana e Venezuela. Nos últimos meses, têm sido relatados momentos de tensão entre os dois países, após o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, planejar uma possível invasão à Guiana para anexar a região do Essequibo ao território da Venezuela.
Os veículos em questão são uma espécie de jipe blindado que oferece proteção para tropas leves contra disparos e minas terrestres, embora não possuam capacidade ofensiva para dissuadir grandes formações militares blindadas da Venezuela de adentrarem o território brasileiro sem autorização.
José Múcio Monteiro, Ministro da Defesa, tem afirmado que Roraima não será utilizada por tropas venezuelanas para invadir a Guiana. A imprensa brasileira erroneamente os tem descrito como “tanques de guerra” e apontado a medida como uma forma de manter a fronteira segura.
Além disso, como parte das ações preventivas, aproximadamente 60 combatentes de infantaria foram enviados para reforçar o Pelotão Especial de Fronteira em Pacaraima, resultando em um efetivo de cerca de 130 homens. O objetivo da ação é melhorar o monitoramento da região e não confrontar o exército venezuelano. Os pelotões especiais de fronteira são pequenas unidades designadas para realizar patrulhas na selva e “dar o alarme” em caso de ameaça maior.
Segundo o Exército, têm sido mantidas alertas constantes de monitoramento para garantir a “inviolabilidade de nossas fronteiras”. Os veículos blindados multitarefa Guaicuru estão sendo enviados de bases no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso e devem levar aproximadamente 20 dias para chegar a Roraima.
Conforme o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, a região já estaria reforçada militarmente com o intuito de coibir o tráfico de drogas na fronteira brasileira. Múcio também afirmou que não permitirá que o Brasil seja utilizado como rota para uma invasão à Guiana. “Precisamos ter cautela. É como se seu vizinho quisesse invadir outra casa usando a sua. O que não podemos permitir é que a Venezuela, ao tentar entrar na Guiana, utilize nosso território. Estamos atentos. A Defesa não permitirá que se utilize o território brasileiro para que outro país entre em conflito”, disse.
A 1ª Brigada de Infantaria de Selva, localizada em Roraima, também aumentou sua presença na região fronteiriça, conforme nota divulgada pelo Exército. O efetivo conta com quase dois mil militares e será responsável por monitorar o território brasileiro que interliga Guiana e Venezuela. Segundo a força, “o movimento na fronteira tem sido normal” do lado brasileiro. Além disso, a região de Boa Vista conta com veículos de combate Guarani e Cascavel, que também não são “tanques de guerra”. O Guarani é um tipo de veículo blindado para transporte de tropas e o Cascavel é um veículo blindado leve de reconhecimento.
Apesar dos interesses de Maduro, especialistas apontam que as chances de um conflito armado entre os dois países são reduzidas. Além da escassez de recursos e efetivo militar limitado, a decisão do ditador venezuelano de invadir outro país pode gerar intervenções de outros países, como os Estados Unidos e nações europeias, na política interna do país — o que poderia resultar na queda de Maduro do poder.
Para Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Geopolítica pela Universidade Nacional de Defesa de Pequim e em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército, as ações do autocrata têm motivações políticas. “Ao planejar o referendo sobre uma questão que tem ampla aceitação no país, com um grande apelo patriótico e nacionalista, Maduro conseguiu tirar o foco das ‘eleições'”, destaca.