O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, reduziu a importância da determinação do Banco Central de manter a taxa primária de juros em 10,5% ao ano, apesar das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. A decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta (19) põe fim à série de reduções da Selic que vinha sendo observada desde agosto do ano passado.
Haddad demonstrou confiança nos dirigentes do Banco Central e afirmou que examinará a ata da reunião do Copom para compreender melhor a resolução. Segundo ele, a manutenção da taxa ainda em um nível elevado não vai impedir o desenvolvimento da economia.
“Tenho confiança nas pessoas selecionadas [para o Copom]. Na semana que vem será divulgada a ata, eu a examinarei detalhadamente. A economia vai crescer, vai gerar empregos. Isso não será um empecilho”, disse o ministro de forma otimista.
Ele terá uma reunião com Lula ainda esta semana para decidir como será elaborado o Orçamento de 2025, que deve ser apresentado ao Congresso em agosto e que será impactado pela taxa de juros. “Começa um procedimento orçamentário normal, iremos ajustando”, ressaltou.
A determinação do Copom de manter a Selic inalterada ocorreu apesar das pressões do governo Lula, que busca uma redução maior da taxa de juros para estimular a economia. O Banco Central justificou a medida mencionando um cenário global incerto e a necessidade de precaução diante da resistência na atividade econômica e aumento das projeções de inflação.
“O Comitê, por unanimidade, optou por interromper a queda dos juros, destacando que o cenário global incerto, juntamente com o cenário nacional de resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desreguladas demandam mais cautela”, afirmou a autarquia em comunicado oficial.
O Copom indicou que permanecerá atento e que futuros ajustes na taxa de juros dependerão do compromisso com a convergência da inflação à meta. “Possíveis ajustes na taxa de juros no futuro serão determinados pelo firme compromisso com a convergência da inflação à meta”, reforçou.
A resolução de manter a Selic em 10,5% surge em meio a críticas do presidente Lula, que questionou a postura de Campos Neto. Em entrevista à rádio CBN, Lula criticou o que considera como falta de independência do presidente do BC e sugeriu que Campos Neto está mais inclinado a prejudicar do que a ajudar o país.
“Um presidente do BC que não demonstra qualquer capacidade de independência, que possui posicionamento político e que, na minha visão, atua muito mais para prejudicar o país do que auxiliar, pois não há explicação para a taxa de juros no patamar atual”, declarou Lula.
Horas antes da resolução do BC, o PT protocolou uma ação judicial contra Campos Neto, acusando-o de atuação “político-partidária”. A Executiva Nacional do PT também classificou a liderança do BC como “bolsonarista” e acusou a cúpula do banco de praticar “clara sabotagem ao crédito, aos investimentos e às finanças públicas”.