O chefe do Poder Executivo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), declarou nesta terça-feira (2) que o Brasil está passando por uma “manobra especulativa” com as constantes elevações do dólar após suas manifestações contrárias ao Banco Central nas entrevistas que tem concedido nas últimas semanas. A moeda norte-americana encerrou o dia dois de junho a R$ 5,65 e renovou o recorde de mais de dois anos.
Lula tem criticado a entidade responsável pela política monetária praticamente diariamente em entrevistas e discursos devido à manutenção da taxa básica de juros a 10,5%, interrompendo uma sequência de reduções que vinha ocorrendo desde agosto do ano passado. Ele atribui a decisão ao presidente do órgão, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao qual ele acusa de agir de forma política.
“É evidente que me preocupa esse aumento [do dólar], há uma manobra especulativa. Estamos debatendo sobre o que fazer, pois não é comum o que está acontecendo”, afirmou Lula em entrevista à Rádio Sociedade de Salvador, onde anunciou investimentos do governo federal.
Lula enfatizou que crises como essa escala do dólar estão sendo fabricadas e que estão atribuindo a culpa a ele. O aumento da moeda passou a ser imputado a ele em uma entrevista concedida ao UOL na semana anterior, algo que, conforme ele disse, teria começado 15 minutos antes de sua fala, relatou.
Banco Central dominado pelo mercado
Ainda durante a entrevista, Lula afirmou que, apesar das críticas recentes, considera que o Banco Central precisa operar de maneira “apropriada e autônoma” para que o presidente não fique suscetível a pressões políticas.
“Se você é um presidente democrático, você permite que isso ocorra sem problemas. Porém, quando você é autoritário, acaba por permitir que o mercado se aposse de uma instituição que deveria pertencer ao Estado. O Banco Central não pode estar a serviço do sistema financeiro”, disparou o presidente.
Lula reiterou sua posição a favor da autonomia do Banco Central, tal como conduzida durante seus primeiros oito anos de governo, momento em que Henrique Meirelles exercia uma gestão independente alinhada com o Palácio do Planalto.
Segundo o presidente, a entidade deve cuidar da política monetária do país, atingir a meta de inflação – estabelecida em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Lula ressaltou que não pode permitir que “alguém conduza [o BC] com viés político”.
Além disso, salientou que não pode tomar nenhuma ação enquanto o mandato de Roberto Campos Neto não chegar ao fim, uma vez que ele foi indicado e aprovado pelo Congresso. Contudo, destacou que “temos que adotar alguma medida”.
“Não posso revelar aqui o que [deve ser feito], do contrário estaria alertando meus oponentes”, pontuou, questionando as decisões da entidade mesmo diante dos indicadores econômicos positivos, como o crescimento do PIB acima das projeções do mercado, redução do desemprego, aumento da renda dos trabalhadores, entre outros fatores.
Para ele, “as pessoas não precisam se preocupar” com a condução da política econômica, sendo que ele compreende a necessidade de controlar os gastos públicos. Lula, contudo, frisou que o controle de despesas não pode ser feito à custa do “benefício dos mais necessitados, do salário mínimo”, nem dos investimentos em áreas como educação e saúde.
“Vamos tentar encontrar soluções. Pedi ao [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda] para apresentar possíveis excessos de gastos, pois se houver um volume maior do que o necessário, interromperemos, pois não irei desperdiçar recursos. Vamos resolver essa questão”, concluiu Lula.
