Após mencionar que o mercado financeiro é um “monstro voraz”, o presidente Lula (PT) voltou a criticar o setor, na terça-feira, 23, em um evento no Palácio do Planalto. Ele defende a manutenção de déficits primários para assegurar os dispêndios do governo que ele considera “essenciais”, porém isso gera impactos negativos entre os investidores. Lula argumenta: “O mercado está lucrando muito com essa taxa de juros e precisa assumir sua responsabilidade com o país”.
Em seu editorial de opinião desta quinta-feira, 25, O Estado de S. Paulo abordou a postura do líder do Executivo. “Lula deseja gastar sem limites e acredita que os recursos públicos direcionados à saúde, educação e programas sociais não devem ser vistos como gastos, e sim como investimentos”, destacou o veículo impresso.
O texto também esclarece que é exatamente por meio do superávit, que é “criticado pelo político do Partido dos Trabalhadores”, que a economia se expande e a pobreza diminui. “Isso obriga o Banco Central (BC) a elevar a taxa básica de juros a um nível suficientemente alto para que os investidores aceitem financiar a dívida pública brasileira”, destaca o jornal.
O Estadão analisa que Lula não se importa com as reações negativas do mercado financeiro às determinações do governo, como a revisão das metas fiscais de 2025 e 2026. O presidente defende que deseja “o melhor” para o país em comparação a esses investidores que obtêm lucro com os juros elevados.
O político acredita que no Brasil tudo é considerado gasto. “Emprestar dinheiro para pessoas menos favorecidas é considerado gasto, destinar recursos à saúde é gasto, alocar verbas na educação é gasto, investir em qualquer área é gasto”, declarou. “O único tipo de investimento aparente é o superávit primário”, ele questionou.
O presidente assegurou que “tem mais apego ao Brasil do que o mercado”, que “deseja o melhor para o futuro deste país do que o mercado”.
“Com esse discurso, Lula da Silva tenta transferir responsabilidades, como se o mercado financeiro estivesse tentando sabotar o país e impedir o presidente de intensificar as ações em prol dos mais necessitados”, comentou o editorial, identificando diversas lacunas nessa manifestação. Entretanto, o principal problema é que tal postura é “totalmente contraproducente” para os propósitos defendidos por Lula.
Equilíbrio das receitas
Estadão analisa que as reações do mercado às medidas governamentais de Lula são baseadas no pragmatismo | Foto: Gerd Altmann/Pixabay
Para o jornal, com um superávit primário estrutural, ou seja, um equilíbrio entre receitas e despesas, a taxa básica de juros poderia ser consideravelmente mais baixa do que atualmente. “Esses mesmos investidores que lucram tanto com os títulos do Tesouro teriam que buscar outros ativos mais arriscados para obter maiores ganhos financeiros – como por exemplo, investimentos em infraestrutura”, exemplifica o veículo de comunicação.
O editorial ressalta que, com mais investimentos, a economia teria um crescimento mais expressivo, a arrecadação seria mais alta, e o Brasil poderia ampliar os dispêndios – não apenas investimentos – em saúde, educação e programas sociais sem impactar negativamente a inflação e a própria taxa básica de juros.
“As reações do mercado às medidas adotadas pelo governo Lula não são uma forma de retaliação ou punição, e sim reflexo do pragmatismo.”
“Lula da Silva prega o contrário, e é por essa razão que o país tem um nível de investimento tão baixo, insuficiente até mesmo para manter a estrutura existente, cresce abaixo de seu potencial, perde arrecadação e dispõe de menos recursos para destinar a saúde, educação e programas sociais”, afirmou o Estadão.
