terça-feira, 2 julho, 2024
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    Lula evita ministro das Relações Exteriores da Ucrânia por 6 meses, mas recebe ministro russo


    O representante diplomático da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, afirmou que espera há cerca de meio ano que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpra um acordo estabelecido no ano passado e convide o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba para visitar o Brasil. O convite é o primeiro passo para uma visita do presidente Volodymyr Zelensky. Já o governo Lula recebe o chanceler russo Sergei Lavrov nesta quinta-feira (22) pela segunda vez em menos de um ano.

    A falta de equilíbrio na atenção dedicada aos dois países contradiz o discurso de Lula de que deseja manter a imparcialidade do Brasil para tentar intermediar um acordo de paz e acabar com a invasão russa à Ucrânia.

    Lula e Zelensky se encontraram em setembro de 2023 na Assembleia Geral da ONU em Nova York. Na ocasião, ficou acordado entre os dois países que o Brasil convidaria o chanceler ucraniano para uma visita a Brasília, visando melhorar as relações diplomáticas entre os dois países. Posteriormente, seriam realizadas negociações para uma visita do presidente Zelensky ao Brasil.

    O embaixador Melnyk disse que fez diversos contatos com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), mas há seis meses recebe a resposta de que o Brasil ainda não está pronto.

    “Isso é surpreendente para mim como embaixador. Falando sinceramente, eu parei de questionar sobre a vinda do meu ministro de relações exteriores, pois isso não é educado e nós não estamos mendigando”, declarou Melnyk à Gazeta do Povo.

    “Obviamente, ainda estamos esperando, mas este não era o sinal que esperávamos do Brasil, se o país realmente quisesse abrir os braços e reiniciar nosso diálogo em outro nível”, afirmou o embaixador ucraniano.

    Enquanto Kyiv tem enfrentado dificuldades para manter contato com o Brasil, Lula recebe, pela segunda vez em menos de um ano, a visita do chanceler russo, Sergey Lavrov. O mandatário brasileiro e o ministro de relações exteriores da Rússia têm um encontro marcado nesta quinta-feira (22) no Palácio da Alvorada, em Brasília.

    A primeira visita de Sergey ao Brasil ocorreu em abril de 2023, quando ele esteve no país e se reuniu com Lula e com seu homólogo no Brasil, o ministro Mauro Vieira, que lidera o Ministério de Relações Exteriores. Na ocasião, Lavrov divulgou informações falsas sobre a guerra na Ucrânia e tentou persuadir o Brasil a aderir à “nova ordem mundial” que Moscou pretende liderar contra os Estados Unidos e seus aliados europeus.

    A reportagem procurou o Palácio do Itamaraty para se manifestar sobre as declarações dadas por Melnyk, mas não obteve retorno até o fechamento desta. O espaço permanece aberto para manifestações.

    Zelensky pediu duas vezes para ser recebido no Brasil, mas Lula mantém silêncio

    “Meu presidente [Volodymyr Zelensky] adoraria vir. Ele me telefonou duas vezes e me perguntou: quando eu posso ir [ao Brasil]? Isso foi em outubro, em novembro. Eu disse, bem, nós estamos tentando, estamos trabalhando. Então agora não há convite para o meu presidente também. Isso é uma pena”, disse o embaixador ucraniano no Brasil, Andrii Melnyk.

    Segundo o embaixador, o objetivo dessas visitas é melhorar as relações diplomáticas entre os dois países, que retrocederam muito após as declarações de Lula que apresentavam a Ucrânia como tão culpada pela guerra quanto a Rússia. Em fevereiro de 2022, dezenas de milhares de soldados do Kremlin invadiram a Ucrânia em uma invasão que já tirou a vida de mais de dez mil civis e deixou mais de 500 mil militares mortos ou feridos. A invasão completa dois anos no próximo sábado (24).

    Segundo Melnyk, a Ucrânia deseja deixar para trás as declarações de Lula e aumentar o comércio bilateral entre os dois países.

    “Um Brasil de êxito como um player global de amanhã e do dia depois não pode se dar ao luxo de desconsiderar o leste europeu, negligenciar a Ucrânia, ignorar o maior conflito da terra que está ocorrendo enquanto conversamos. Temos esperança que nossos colegas no Brasil vão compreender que eles não podem agir dessa maneira”, afirmou o embaixador.

    Ucrânia deseja oferecer tecnologia espacial e propor parceria no agronegócio

    A Ucrânia deseja estabelecer parcerias e acordos com o Brasil nas áreas de aviação, tecnologia espacial, no setor farmacêutico e na agricultura, mas não está recebendo atenção do governo Lula.

    Conforme a Gazeta do Povo, o embaixador enfatizou o desejo dos ucranianos de firmar parcerias no agronegócio e classificou o Brasil como a maior potência mundial no setor. A Ucrânia, por sua vez, é o maior exportador de grãos da Europa, porém teve sua produção bastante prejudicada devido ao bombardeio e mineração de campos agrícolas, além de um bloqueio naval que dificulta a exportação da produção.

    A proposta de Melnyk é que a Ucrânia possa participar do esforço brasileiro de apoiar a produção agrícola em países africanos, desejo que já foi manifestado pelo governo do presidente Lula. A Ucrânia contribuiria principalmente fornecendo alta tecnologia para a produção de milho e também de cereais que o Brasil produz em menor escala. O embaixador mencionou que pretende visitar zonas agrícolas no Brasil para avaliar possibilidades.

    Ele mencionou também o interesse da Ucrânia em restabelecer uma parceria na construção de foguetes para lançamento na Base de Alcântara (MA). A Ucrânia foi responsável pelos principais avanços do programa espacial da extinta União Soviética e manteve o controle sobre grande parte dos equipamentos e cientistas após a dissolução do bloco. Foi com essa tecnologia de foguetes que o exército ucraniano desenvolveu, por exemplo, mísseis Neptune utilizados para afundar o cruzador Moscou, o navio capitânia da esquadra russa no Mar Negro em 2022.

    O embaixador mencionou a intenção de restabelecer a parceria porque o próprio Lula havia estabelecido um programa espacial com a Ucrânia em 2003. A empresa binacional ACS (Alcântara Cyclone Space) foi criada para lançar o foguete ucraniano Cyclone-4, que colocaria satélites em órbita com lançamentos da base de Alcântara, no Maranhão. O Brasil investiu milhões no programa, mas nenhum foguete foi lançado. Em 2015, o governo Dilma deu início ao encerramento do contrato com a Ucrânia, o que levou dois anos para de fato se concretizar.

    Outra possibilidade levantada pelo embaixador foi a retomada das negociações para a construção de fábricas de aviões Antonov em São Paulo e no Paraná para reconstrução do maior avião do mundo, o Mryia (esperança, em ucraniano). O projeto envolveria bilhões de dólares em investimento externo no Brasil. As fábricas da Antonov foram bombardeadas na Ucrânia e o país busca uma nova nação sem conflitos armados para retomar as operações.

    Lula vem apoiando Moscou em declarações sobre a invasão da Ucrânia

    Quando iniciou seu terceiro mandato, Lula tentou se colocar internacionalmente como mediador de um cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia. O brasileiro chegou a sugerir a criação de um “Clube da Paz” para alcançar uma solução pacífica para a guerra, mas a ideia não passou disso: uma ideia.

    Antes mesmo de assumir a presidência, ele já havia minimizado a situação da Ucrânia como país invadido e entrou em uma lista negra de Kyiv. Em meio a isso, Lula fez diversas declarações contraditórias, chegou a fazer gestos em direção à Rússia sobre a guerra e tentou até boicotar na ONU uma declaração que identificava corretamente a Rússia como o país agressor.

    Em entrevista para a revista Time, em maio de 2023, Lula chegou a dizer que Rússia e Ucrânia seriam igualmente culpados pelo conflito.”Fico observando o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse comemorando, sendo ovacionado em pé por todos os parlamentos, entende? Ele é tão responsável quanto o Putin [líder russo Vladimir Putin]. Porque numa guerra não há apenas um culpado”, disse Lula à revista Times em maio.

    Em outro momento, acusou o G7 (Grupo formado pelas sete maiores economias do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Itália França, Japão e Reino Unido) de serem os responsáveis pelo conflito na Europa por fornecerem armas para a Ucrânia se defender da invasão. Ainda na Assembleia Geral da ONU, o petista criticou em seu discurso as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia. O país tem enfrentado uma série de embargos dos Estados Unidos e países europeus desde que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.

    Por outro lado, Lula tem se alinhado com o bloco de regimes formado por Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Esses países tentam formar um grupo político antiocidental e estão usando para esse fim o bloco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que antes de 2022 tinha um caráter econômico e não político. A Rússia já ofereceu a Lula fertilizantes e óleo diesel subsidiados, mas há negociações para expandir os acordos para a área militar.

    “Estamos em uma fase muito complicada. A Ucrânia quer melhorar essas relações porque no nível bilateral nos regredimos 200 anos e agora estamos tentando reviver essa relação organizando visitas”, disse Melnyk à Gazeta do Povo.

    Encontro de chanceleres do G20 no Brasil

    A visita de Lavrov ao Brasil acontece às margens do Encontro de Chanceleres do G20. O grupo, que Brasil e Rússia fazem parte, é formado pelas 20 maiores economias do mundo, pela União Europeia e, desde este ano, pela União Africana. O Brasil preside o G20 pelos próximos meses e é responsável por pautar os temas em discussão no organismo.

    A cúpula, que acontece no Rio de Janeiro, foi o que motivou a visita de Lavrov ao país, que aproveitou a vinda para tentar se encontrar com Lula. Além dos países que integram o G20, o Brasil também fez convites para que outras nações participassem do encontro na condição de convidados, mesmo não sendo membros do G20. Entre elas, estão: Angola, Bolívia, Egito, Nigéria, Noruega, Paraguai, Portugal, Singapura, Espanha, Emirados Árabes Unidos e Uruguai.

    A Gazeta do Povo também questionou ao Itamaraty os critérios para escolha dos países convidados e se a Ucrânia chegou a ser considerada para participar do evento, mas também não teve retorno.

    Lula teve marcados encontros bilaterais com apenas dois chanceleres: Antony Blinken, dos Estados Unidos; e Sergey Lavrov, da Rússia.

    Embaixador diz que Lula tem direito a opinar sobre Israel, mas Holocausto foi singular

    Para especialistas, o Encontro de Chanceleres no Rio de Janeiro foi ofuscado pela crise diplomática entre Brasil e Israel. No último domingo, Lula comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza contra o grupo terrorista Hamas ao Holocausto da Segunda Guerra Mundial. As afirmações do petista causaram uma grande crise com o governo israelense.

    Ao longo desta semana, embaixadores de ambos os países foram chamados para prestar esclarecimentos, o que é considerado um esfriamento severo nas relações diplomáticas entre países. O Brasil, inclusive, convocou a presença do embaixador do país em Israel. Desde então, Lula foi considerado persona non grata por Israel e tem sido alvo de uma série de críticas pelo primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, e pelo chanceler, Israel Katz.

    Apenas as ditaduras de Cuba e da Rússia apoiaram diplomaticamente as declarações de Lula comparando os judeus a nazistas. Questionado se Lula errou, o embaixador ucraniano disse: “O Presidente do Brasil tem direito soberano de fazer comentários, mas para nós ucranianos o Holocausto foi um genocídio único, um crime singular na história. Judeus são parte da comunidade ucraniana. Esperamos que as vitimas do Holocausto, inclusive as vitimas ucranianas do Holocausto, sejam lembradas isso é o que importa para nós”, disse o diplomata.

    “A memória do Holocausto é parte do nosso DNA porque é parte da nossa história, não é algo distante que podemos comentar. Para os ucranianos essa é uma memória vívida”, disse.

    A embaixada da Ucrânia inaugurou no Senado Federal na quarta-feira (21) a exposição “Dois anos da invasão russa na Ucrânia, retratos da dor e sofrimento” em memória à efeméride de dois anos de guerra.

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