sexta-feira, 5 julho, 2024
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    Moraes atinge militares suspeitos de planejarem golpe contra Bolsonaro


    Na quinta-feira (8), a Operação Tempus Veritatis (“hora da verdade”) foi deflagrada por decisão do ministro Alexandre de Moraes e envolve militares próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, segundo a Polícia Federal, estavam envolvidos na preparação de um golpe de Estado em 2022 para mantê-lo no poder após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa eleitoral.

    As investigações também apontam que o ex-presidente, agora impedido de sair do país e se comunicar com outros investigados, teria participado da elaboração de um esboço de decreto que ordenaria a prisão de Moraes e a realização de uma nova eleição presidencial. Além disso, o ministro do STF teria sido monitorado no final de dezembro de 2022 por um coronel da reserva que assessorava Bolsonaro. Em nota, a defesa do ex-presidente manifestou “indignação e inconformismo” com a operação. (Leia mais abaixo sobre o que disseram Bolsonaro e seus advogados em relação à operação.)

    O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, também é alvo da investigação, a quem a PF atribui o papel de fornecer recursos e estrutura do partido para disseminar dúvidas sobre a integridade das urnas eletrônicas e questionar o resultado do segundo turno da eleição. Ele foi detido pela manhã porque guardava em casa uma arma sem registro, que disse ter herdado do pai.

    Outros envolvidos na operação incluem os generais Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil; Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, ex-comandante de Operações Terrestres (Coter) e Especiais (Coesp); Mário Fernandes, ex-chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência; Laércio Virgílio, general-de-brigada reformado; além do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha. Segundo a PF, todos eles, juntamente com outros oficiais, integrariam núcleos de uma organização criminosa envolvida na tentativa de golpe.

    As investigações e a hipótese criminal desenhada pelo delegado Fábio Shor, responsável pelo inquérito, estão amplamente embasadas na delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que forneceu relatos e mensagens de celular que confirmam as imputações. A PF também apontou o envolvimento de civis, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-assessor internacional Filipe Martins, o ex-assessor da Presidência Tércio Arnaud Tomaz, o economista e influenciador Paulo Figueiredo Filho; o padre José Eduardo de Oliveira e Silva; e o empresário Eder Balbino.

    Eles são investigados por disseminar suspeitas de falhas no funcionamento das urnas ou por incitar comandantes militares a aderir à suposta tentativa de golpe. Conversas de Mauro Cid reveladas na operação mostram que ele teria atuado nesses fronts e também na organização de manifestações em frente aos quartéis que reivindicavam uma intervenção militar.

    As investigações ainda não revelaram o motivo pelo qual Bolsonaro teria desistido de levar adiante uma tentativa de ruptura institucional no final de 2022. No dia 30 de dezembro daquele ano, o ex-presidente deixou o Brasil rumo aos Estados Unidos, onde passou os três primeiros meses de 2023. Uma das hipóteses para o abandono do suposto plano é a resistência, demonstrada em mensagens, que teria o então comandante do Exército Marco Antonio Freire Gomes em aderir ao movimento, que acabou frustrado.

    Ainda assim, as investigações mostram que, em janeiro do ano passado, Mauro Cid manteve contato com alguns outros investigados, especialmente após a descoberta, na casa de Anderson Torres, do esboço de um decreto presidencial para instalar um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e revisar o resultado eleitoral.

    As várias buscas realizadas na quinta-feira podem revelar mais informações sobre a possível participação de Bolsonaro. De acordo com as evidências entregues por Mauro Cid, além de redigir e alterar um esboço de decreto para prender Moraes, ele também teria tentado mobilizar ministros do governo, em julho de 2022, para reforçar a narrativa de que teria ocorrido fraude nas eleições a fim de garantir a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

    Um vídeo apreendido com o ex-assistente de ordens mostraria, segundo a PF, pressões de Bolsonaro, na ocasião, para que as Forças Armadas e órgãos do governo que participavam da Comissão de Transparência do TSE, afirmassem que seria impossível comprovar a lisura das eleições, devido ao controle do tribunal sobre a votação eletrônica e aos procedimentos de auditoria. Dessa reunião participaram Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres e Mario Fernandes.

    Decisão de prender Alexandre de Moraes

    A operação revelou que, em novembro de 2018, Filipe Martins
    levou a Bolsonaro um documento que listava interferências do Judiciário no
    governo e que ao final decretava as prisões dos ministros Alexandre de Moraes e
    Gilmar Mendes, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

    Segundo a PF, o ex-presidente teria então pedido ao assessor
    que fizesse alterações para retirar Gilmar Mendes e Pacheco das ordens de
    prisão e, dias depois, com a nova versão em mãos, teria convocado uma reunião
    com os comandantes das Forças Armadas “para apresentar a minuta e pressioná-los
    a aderirem ao Golpe de Estado”.

    O delegado Fábio Shor narra que Filipe Martins esteve várias
    vezes no Palácio da Alvorada em novembro e dezembro de 2022, inclusive no encontro
    que teria sido realizado no dia 7 deste mês para apresentar a minuta ao general
    Freire Gomes, do Exército; ao almirante Almir Garnier Santos, comandante da
    Marinha; e a Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa.

    A PF também aponta a existência de documentos que circulavam
    entre Mauro Cid e outros militares – como os coronéis Sérgio Ricardo Cavaliere e
    Ronald Ferreira de Araújo Júnior – listando decisões do STF desfavoráveis ao
    governo e do TSE contra a campanha de Bolsonaro.

    Após o encontro de 7 de dezembro, Mauro Cid teria enviado mensagens de áudio a Freire Gomes falando de pressões que Bolsonaro estaria recebendo “para tomar uma medida mais pesada” e “utilizando as Forças”.

    “É cara do agro. São alguns deputados, né? É né… Então é a pressão que ele tem recebido é muito grande. E hoje o que que ele fez de manhã? Ele enxugou o decreto né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais, é, resumido, né?”, disse Mauro Cid ao comandante do Exército, conforme a transcrição do áudio, feita pela PF, no dia 9 de dezembro de 2022.

    Na mensagem, ele ainda menciona um suposto interesse do
    ex-presidente de conversar com o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante
    de Operações Terrestres (Coter) e Especiais (Coesp). Segundo a PF, o general
    teria “concordado em executar as medidas que culminariam na consumação do golpe
    de Estado, desde que o então Presidente Jair Messias Bolsonaro assinasse o
    decreto que vinha sendo debatido e ajustado, embora não se contasse com a
    adesão do General Freire Gomes”.

    “Além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa
    caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos
    apontam que caberiam as Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos)
    a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de
    Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado”, relata ainda a PF.

    O delegado Fábio Shor acrescenta que a concordância do Coter,
    unidade comandada pelo general Theophilo,seria essencial ter o maior contingente de tropas do Exército.

    No áudio a Freire Gomes, depois de mencionar a intenção de Bolsonaro em conversar com o general Mauro Cid fala algumas frases ainda não esclarecidas, porém destacadas pela PF. “Pois se isso não acontecer, se a força não incendiar, é o status quo mantém aí como o que estava previsto, que estava sendo feito, que estava sendo levado nas reuniões em consideração, tá?”

    Em outra mensagem de áudio, Mauro Cid repete ao comandante do Exército que Bolsonaro estava “sendo pressionado por vários atores a tomar uma medida mais radical”.

    “Mas ele ainda está naquela linha do que foi discutido, que foi conversado com os comandantes, né, e com o ministro da Defesa. Ele entende as consequências do que pode acontecer. É… hoje ele, ele… ele mexeu naquele decreto, né. Ele reduziu bastante. Fez algo muito mais direto, objetivo e curto, e limitado, né. É, e… acho que a ideia de falar com o general Theophilo é conversar. Como ele, né, ele está muito preso no, no Alvorada, então é uma maneira dele desabafar e falar um pouco o que ele está pensando e ouvir, né, alguém que… não que possa dar uma solução, mas que né. E eu acho que se num… é… se não botar pilha, digamos assim né, se não botar lenha na fogueira, né, ele mantém ali a… aquela linha que estava sendo, que está sendo tomada inicialmente”, disse Mauro Cid na mensagem, conforme a transcrição da PF.

    Por ordem de Moraes, Filipe Martins foi detido nesta quinta e o general Theophilo sofreu busca e apreensão, teve o passaporte retido, foi suspenso de sua função no Exército e está proibido de ter contato com outros investigados no caso.

    Monitoramento de Moraes

    As investigações também apontaram que o coronel da reserva Marcelo Câmara, ex-assessor especial de Bolsonaro, vigiou o ministro Alexandre de Moraes em dezembro de 2022. Segundo a PF, o militar reformado “era responsável pelo núcleo de inteligência paralela, coletando informações sensíveis e estratégicas, com aptidão para auxiliar a tomada de decisões do ex-Presidente da República”. Trocas de mensagens revelaram que, em 16 de dezembro de 2022, ele “possuía o itinerário exato do deslocamento do Ministro pelos próximos quinze dias”.

    “Viajou para SP hoje, retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo”, diz uma mensagem encaminhada por Câmara a Mauro Cid no dia 16.

    No dia 21 dezembro, Mauro Cid questionou Câmara com a seguinte mensagem: “Por onde anda a professora?” Marcelo responde: “Informação que foi para uma escola em SP / Ontem”. “E tem previsão de volta?”, pergunta Cid. No dia seguinte, Marcelo Câmara escreve: “Somente para inicicio [sic] do ano letivo / Apesar ter a previsão do período de recuperação / Tem dúvida”.

    No dia 24 de dezembro, Cid pergunta novamente: “Onde a professora está?”. Marcelo Câmara responde: “Deixa eu verificar / Está em SP – volta dia 31 a noite para posse”. Cid faz outra pergunta: “Na capital ou interior?”. Marcelo responde: “Na residência em SP – eu não sei onde fica”.

    A PF diz que “professora” era o codinome para Alexandre de Moraes e que “a investigação constatou que os deslocamentos entre Brasília e São Paulo do ministro Alexandre de Moraes são coincidentes com os da pessoa que estava sendo monitorada e acompanhada pelo grupo”.

    “Considerando que a minuta do decreto que declarava o Golpe de Estado previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes, o acompanhamento e monitoramento da autoridade – inclusive durante o Natal (24/12/2022) – demonstra que o grupo criminoso tinha intenções reais de consumar a subversão do regime democrático,prosseguindo com a eventual captura e detenção do Líder do Poder Judiciário Eleitoral”, relata ainda o documento da investigação.

    Marcelo Câmara também foi detido nesta quinta-feira por decisão de Alexandre de Moraes.

    Gravação de reunião registra pressão de Bolsonaro sobre ministros

    A apuração da PF ainda encontrou no computador de Mauro
    Cid vídeo de um encontro ocorrido em 5 de julho de 2022 de Bolsonaro com
    Anderson Torres (naquela época, ministro da Justiça), Augusto Heleno (à época, chefe do
    GSI), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Mário Fernandes (então substituto
    da Secretaria-Geral da Presidência) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa
    Civil e naquele momento candidato a vice-presidente). Na reunião, de acordo com a PF, Bolsonaro
    teria exigido de seus ministros empenho na divulgação de fragilidades da
    urna eletrônica.

    “Hoje me reuni com o pessoal do WhatsApp, e outras também mídias do Brasil. Conversei com eles. Tem acordo ou não tem com o TSE? Se tem acordo, que acordo é esse que tá passando por cima da Constituição? Eu vou entrar em campo usando o meu exército, meus 23 ministros”, afirmou o ex-presidente, de acordo com a transcrição da PF (o vídeo ainda não foi divulgado).

    “E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia? Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outro façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês. E vocês também patinam sem o Executivo. Os poderes são independentes, mas nós dois somos irmãos. Temos um primo do outro lado da rua que tem que ser respeitado também. Mas todo mundo que quer ser respeitado tem que respeitar em primeiro lugar. E nós não abrimos mão disso”, declarou ainda Bolsonaro na reunião, segundo a PF.

    Mais adiante, em um momento posterior da reunião, o
    ex-presidente teria ainda afirmado:

    “Olhem pra minha cara, por favor. Todo mundo olhou pra minha cara? Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí? Mais claro … impossível! Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que … quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui… é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar… a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal … dizer … que até o presen … uma nota conjunta com vocês, com vocês todos … topam … que até o presente momento dadas as condições de … de … se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas. E o pessoal assina embaixo. Além de eu falar com os embaixadores e pagar a missão pro … já que o Célio tá coordenando aqui … Célio, missão Célio, cê vai ver todos que integram a comissão de… Comissão de Transparência Eleitoral. Convidar todos pra semana que vem. Todos. Pra gente fazer uma reunião como o pessoal e eles.”

    Em outro trecho transcrito, Bolsonaro teria dito: “A Câmara deve votar hoje o … a PEC da Bondade, como é chamada, né? E não tem como, né, depois dessa PEC da Bondade, a gente … a gente não tá pensando nisso, manter 70% dos votos, ok? Mas a gente vai ter 49% dos votos, vou explicar por que, né?”.

    Depois, teria dito que Lula seria financiado pelo narcotráfico. “É … Nós estamos vendo aqui a … não é toda a imprensa, uma outra TV e as mídias sociais sobre a delação do Marcos Valério. A questão da … da execução do Celso Daniel. Né? É … O envolvimento com o narcotráfico. É … Temos informações do General Carvajal lá da Venezuela que tá preso na Espanha. Ele … já fez a delação premiada dele lá. É… Por 10 anos abasteceu com o dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales. Né? Essa turma toda que cês conhecem.”

    Bolsonaro, em seguida, teria abordado as pesquisas de
    intenção de voto, sugerindo, de forma irônica, que elas apresentariam números falsos para
    corresponder a uma conclusão que já estaria predefinida no TSE
    para dar o triunfo a Lula.

    “E é notório que o Data Folha continua … é … mantendo a posição de 45% e, por vezes, dizendo que o Lula vence no primeiro turno. Eu acredito que ele vence, sim. As pesquisas estão exatamente corretas. De acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE. Né? E … Eu estou … Eu tenho que ter bastante calma, tranquilidade, e vou entrar em detalhes com vocês em breve”, declarou o ex-presidente, de acordo com a transcrição do vídeo.

    “Nós vamos esperar chegar 23, 24, para se f***r? Depois perguntar: por que não tomei providência lá atrás? E não é providência de força não, c*****o! Não é dar tiro. Ô Paulo Sérgio, vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar. Não é isso, p***a!”, afirmou ainda.

    “Daqui para frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar ele vai vir falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento para me convencer do que vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar , o cara está no lugar errado”, disse Bolsonaro, no registro da PF.

    “Porque os cara estão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Alguém acredita? Se acreditar levanta o braço! Acredita que eles são pessoas isentas, preocupadas em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo que são … Estão vendo acontecer?”, enfatizou o presidente aos ministros.

    Em seguida, ele teria mencionado a reunião que faria com
    embaixadores para lançar dúvidas sobre as urnas, com base numa investigação da
    PF sobre uma invasão hacker ao TSE em 2018, e sobre a imparcialidade dos
    ministros da Corte Eleitoral – por causa desse encontro, Bolsonaro foi
    declarado inelegível até 2030.

    “Vou fazer uma reunião quinta-feira com embaixadores, semana que vem com mais, vou convidar autoridades do… do judiciário, para outra reunião, para mostrar o que está acontecendo. (…) Não tem como esse cara ganhar a eleição no voto. Não tem como ganhar no voto. também, eu não vou passar aqui, em 2014 foi aprovado o voto impresso no Congresso, está fora do foco, né, fora da … do radar nosso, nem lembrava disso, que depois também o nosso Supremo derrubou. O nosso Supremo aqui é um poder à parte. É um super Supremo. Eles decidem tudo. Fora … Muitas vezes fora das quatro linhas”, relatou.

    Em outro momento, mais adiante, Bolsonaro teria feito a
    seguinte declaração:

    “Pessoal, perder uma eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a Democracia numa eleição fraudada! Olha o Fachin. Os cara não têm limite. Eu não vou dizer que o Fachin está recebendo 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. O … que o Barroso está recebendo 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes está recebendo 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Não vou levar para esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo.”

    Em reunião, Anderson Torres falou sobre como seria na vitória do PT

    Na reunião, de acordo com a PF, Anderson Torres delineou um cenário
    de triunfo do PT na eleição.

    “E o exemplo da Bolívia é o grande exemplo para todos nós. Senhores, todos vão se f***r! Eu quero deixar bem claro isso. Porque se … eu não estou dizendo que … eu quero queCada pessoa deve considerar previamente suas ações, pois todos enfrentarão problemas”, declarou o então ministro da Justiça. Ele também teria ressaltado que a PF vinha alertando há anos para melhorias nas urnas, as quais deveriam ser realizadas, mas eram ignoradas pelo TSE.

    “Essas melhorias foram implementadas no sistema? Agora, as Forças Armadas fazem uma série de observações, e a PF continua fazendo observações. É evidente que, da nossa parte, não vamos pressionar ninguém e dizer ‘façam isso’. No entanto, estamos há seis anos nesse processo. O outro lado joga duro, senhores. Acredito que todos aqui devem ter essa consciência”, disse o então ministro da Justiça.

    Anderson Torres teria mencionado também “depoimentos” que ligavam o PT ao PCC – o partido sempre negou qualquer ligação com a facção criminosa e, no ano passado, a campanha de Bolsonaro foi proibida de associá-los nas propagandas eleitorais.

    “Estamos aqui, Presidente, desvendando a antiga ligação do PT com o PCC. A antiga ligação do PT com o PCC. Essas informações estão vindo à tona por meio de depoimentos que estavam guardados por muito tempo… isso aí… foi exposto. Certo? Todas essas revelações estão vindo à tona. Isso não é mentira. Isso não é mentira. Portanto, muitas coisas… estão vindo à tona. Muita coisa que a população… sabe, mas tudo precisa ser relembrado. Certo?”, disse ele.

    Ele também teria afirmado que “iremos atuar de maneira mais incisiva, já estamos atuando” e que o diretor da Polícia Federal teria um grupo composto por delegados e peritos “para acompanhar efetivamente, passo a passo, as eleições a fim de fazer os questionamentos necessários que devem ser feitos e não apenas observações”.

    Anderson Torres também foi alvo da operação, com busca e apreensão, retenção do passaporte e proibição de contato com outros investigados.

    Ministro da Defesa disse que comissão do TSE era ‘meramente representativa’

    Na reunião, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, também teria comentado sobre as sugestões que as Forças Armadas fizeram ao TSE. “Muito bem, o TSE possui o sistema e o controle do Processo Eleitoral. Como o Presidente mencionou, eles decidem o que pode interessar ou não, e não possuem instância superior. Ficamos, de certa forma, limitados, aguardando que demonstrem boa vontade ao aceitar isso ou aquilo”.

    Em seguida, mencionou que a Comissão de Transparência, composta por diversos órgãos para fiscalizar o processo eleitoral era “meramente representativa”. “Vou ser bem claro aqui. Senhores! A comissão é meramente representativa. Essa comissão nunca se sentou à mesa para discutir uma proposta. É apenas retórica, discurso, um ataque à Democracia”.

    “O que sinto neste momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja… na guerra, a gente… linha de contato, linha de partida. Eu vou romper aqui e iniciar minha operação. Vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Precisamos intensificar e contribuir nesse sentido para que não fiquemos isolados no processo”, afirmou o ministro da Defesa na reunião, segundo a PF.

    Paulo Sérgio Nogueira também teria dito que estava “realizando reuniões com os Comandantes de Força quase semanalmente”. “Nós estudamos essa situação, estamos trabalhando nisso. Temos reuniões pela frente, decisivas para decidir quais ações podem ser tomadas para assegurar transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições transcorram da forma como almejamos! E o senhor, com tudo o que vemos no dia a dia, desejo-lhe êxito em sua reeleição e este é o desejo de todos nós”.

    Paulo Sérgio foi alvo de busca e apreensão, teve o passaporte confiscado pela PF e está proibido de se comunicar com outros investigados.

    Augusto Heleno: ‘agir contra certas instituições’

    Durante a mesma reunião, a PF registrou que Augusto Heleno, na época chefe do GSI, defendeu uma ação antes das eleições e relatou que teria conversado com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais.

    “Não vai haver revisão do VAR. Portanto, o que tiver que ser executado tem que ser realizado antes das eleições. Se precisar manifestar indignação é antes das eleições. Se precisar tomar uma atitude drástica é antes das eleições”, teria dito o general, de acordo com a transcrição da PF.

    “Eu acredito que as coisas precisam ser feitas antes das eleições. E vai chegar um momento em que nós não poderemos mais dialogar. Nós teremos que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim está muito claro”, afirmou Heleno, de acordo com a PF.

    Na reunião, o general Mário Fernandes também teria defendido uma ação antes das eleições. “Então, precisa ser antes. Precisa acontecer antes. Do jeito que nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de provocar uma agitação no País pensando assim, para que ocorra antes, do que assumir um risco muito maior de agitação no ‘the day after’, não é mesmo? Quando a situação lá estiver de acordo com o que a fraude determinar”, disse, conforme a transcrição da PF.

    Sobre a infiltração de agentes nas campanhas, a PF relata que, nesse momento, Bolsonaro “possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, interrompe a fala do Ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente ‘conversem em particular’ sobre o que a Abin estaria realizando”.

    Augusto Heleno e Mário Fernandes também foram alvos da operação Tempus Veritatis com busca e apreensão em seus endereços. Eles também estão proibidos de deixar o país e de ter contato com outros investigados.

    Braga Netto critica comandantes do Exército e Aeronáutica

    Contra o general Braga Netto pesam mensagens que teria enviado em 14 e 15 de dezembro de 2022 ao capitão reformado do Exército Ailton Barros, que, segundo as investigações, buscava apoio de militares para a tentativa de golpe.

    A PF afirma que Braga Netto encaminhou a ele uma afirmação que teria recebido de um oficial das Forças Especiais (FE): “Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”.

    Em resposta, Ailton Barros escreveu: .

    Ao que Braga Netto responde: “Oferece a cabeça dele. Covarde”. E depois escreve: “Em frente à residência do general Freire Gomes agora”, enviando em seguida uma foto.

    No dia seguinte, 15 de dezembro, Ailton envia um áudio a Braga Netto seguido da seguinte mensagem: “Se FG tiver fora mesmo. Será devidamente destruído e conhecerá o inferno astral”.

    Neste mesmo dia, a PF apresenta uma mensagem atribuída a Braga Netto com o seguinte teor, relacionadas ao então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior: “Criticar o Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. A partir de agora, infernizar a vida dele e da família”. “Elogia o Garnier e prejudica o BJ”, mencionava a mensagem seguinte, numa referência ao então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos e a Baptista Junior.

    Para Moraes, “as referidas mensagens vão ao encontro, conforme aponta a Polícia Federal, dos fatos descritos pelo colaborador Mauro Cid, que confirmou que o então Comandante daMarinha, o Almirante Almir Garnier,
    em encontro com o então Presidente Jair Bolsonaro, consentiu com o Golpe de Estado, disponibilizando
    suas tropas ao Presidente, conforme as imagens acima
    apresentadas”, escreveu o ministro, citando capturas de tela das mensagens.

    Braga Netto, Garnier e Ailton foram alvo de busca e apreensão,
    tiveram os passaportes retidos e estão proibidos de entrar em contato com
    os investigados.

    Bolsonaro e defesa do ex-presidente contestam alegações de Moraes e da PF

    O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou a operação da Polícia Federal e afirmou que não sente medo de ser preso, e que “tudo pode acontecer” com qualquer pessoa no Brasil. Moraes determinou a apreensão do passaporte do ex-presidente e proibiu Bolsonaro de se comunicar com os outros investigados pela Operação Tempus Veritatis.

    “Hoje em dia não é medo. Hoje tudo pode acontecer com qualquer pessoa no Brasil. Em nome de salvar a democracia estão fazendo barbaridades”, disse em entrevista ao site Metrópoles emendando que está vendo “colega” ser preso, em referência aos militares presos na operação. “É muito ruim”, completou.

    Bolsonaro disse “não entender” a acusação de tentativa de um suposto golpe de Estado e que fez uma transição de governo para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “sem problemas”.

    “Não entendo (acusação de) tentativa de golpe. Fizemos uma transição sem problemas. A pedido do Lula, nomeei os três comandantes de Força escolhidos por ele em dezembro. Como vou nomear comandante de Força dele e dar um golpe depois”, questionou enfatizando sobre a tentativa “sem que um soldado fosse movimentado”.

    O ex-presidente ainda falou em “coincidência” sobre o fato de a operação ter sido realizada um dia depois da live que promoveu na cidade de São Sebastião (SP), em que disse que “o atual mandatário [Lula] quer censurar as redes sociais […] eu só estou aqui com vocês graças às redes sociais”.

    Além de Bolsonaro, a defesa do ex-presidente se manifestou por meio de nota. “O ex-presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam. A despeito disso, desde março vem sendo alvo de repetidos procedimentos, que insistem em uma narrativa divorciada de quaisquer elementos que amparassem as graves suspeitas que repetidamente lhe vem sendo impingidas”, afirmaram seus advogados.

    Eles afirmaram que a apreensão do passaporte do ex-mandatário foi “desnecessária e afastada dos requisitos legais e fáticos que visam garantir a ordem pública e o regular andamento da investigação”. O passaporte do ex-presidente foi retido a mando de Moraes.

    Os advogados do ex-presidente também realçaram que Bolsonaro sempre demonstrou “absoluta voluntariedade e disponibilidade em comparecer a todas as convocações feitas por determinação do Supremo Tribunal Federal”. A nota é assinada pelos advogados Daniel Bettamio, Paulo Amador e Fabio Wajngarten.

    Oposição critica Operação Tempus Veritatis

    Parlamentares oposicionistas classificaram a Operação da Polícia Federal Tempus Veritatis como perseguição política contra Bolsonaro e seus aliados.

    “É um contorcionismo jurídico para inibir a oposição brasileira”, afirmou Rogério Marinho, líder da oposição no Senado. Ele chamou a atenção para o fato de o ministro Alexandre de Moraes investigar o caso e ao mesmo tempo se colocar como vítima – o que na opinião de Marinho o impediria de julgar o caso.

    Ao comentar a operação da Polícia Federal, o deputado Messias Donato (Republicanos-ES) afirmou que “segue a busca implacável para intimidar a oposição” e desejou força ao ex-presidente. “Bolsonaro também foi alvo da perseguição. Seja forte, meu presidente.”@jairbolsonaro! A apreensão de sua popularidade é clara. Primeiramente, ocorreu após uma live de grande êxito. Agora, após um ato pacífico lotado de patriotas. A democracia relativa está em pleno funcionamento”.

    Além de rotular a ação da PF como perseguição política, a deputada Carol de Toni (PL-SC) declarou “a perseguição contra a direita não tem limites” e afirmou que, “após as operações contra Carlos Jordy, Carlos Bolsonaro, a parte III da tentativa para incriminar Bolsonaro e aliados, por qualquer razão que seja, continua”.

    Em sua conta no X, o deputado Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP) ressaltou que a operação foi deflagrada apenas 24 horas após Bolsonaro reunir-se com milhares de pessoas em São Sebastião, no litoral de São Paulo.

    Lula afirma que “tentativa de golpe em 8/1 é fato concreto”

    Ao comentar sobre a operação da Polícia Federal contra Bolsonaro e aliados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou seu posicionamento de que houve uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. O petista ainda disse que querem saber quem financiou os atos, os acampamentos em frente aos quartéis para que nunca mais se repita o que aconteceu no dia 8 de janeiro.

    “Obviamente que tem muita gente envolvida, tem muita gente que vai ser investigada, porque um fato concreto é que houve uma tentativa de golpe, houve uma política de desrespeito à democracia, houve uma tentativa de destruir uma coisa que nós construímos há tantos anos que é o processo democrático e essa gente tem que ser investigada”, disse Lula em entrevista à rádio Itatiaia pouco depois da deflagração da operação Tempus Veritatis.

    Lula se referiu a Bolsonaro como “o cidadão que estava no governo” e disse que ele “não estava preparado para ganhar, não estava preparado para perder, não estava preparado para sair, tanto é que não teve nem coragem de me dar posse, foi embora chorando para os Estados Unidos, porque ele deve ter participado da construção dessa tentativa de golpe”.

    De acordo com o presidente, o 8 de janeiro não teria ocorrido sem Bolsonaro. Lula destacou que o comportamento do ex-presidente foi “muito diferente”, por ele ter passado o período pré-eleitoral “mentindo sobre as eleições, sobre as urnas e criando a “suspensão de uma urna que foi responsável pela eleição dele em 2018”.

    O presidente argumentou que, se as urnas realmente fossem fraudulentas, Bolsonaro deveria pedir que todos os deputados e senadores renunciassem, já que todos foram eleitos no “mesmo processo eleitoral com a mesma urna”.

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