sexta-feira, 5 julho, 2024
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    Mudança na relação de Lula com a Argentina após as eleições

    A vitória de Sérgio Massa na Argentina não garante a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a mesma proximidade que o petista manteve com o país durante o último ano e em seus mandatos anteriores. Apesar de ser o nome atual da esquerda, Massa já foi opositor do peronismo e não deverá ter uma relação tão estreita com Lula como teve Alberto Fernández.

    As pesquisas sobre as eleições do próximo domingo (19) na Argentina indicam um empate técnico entre Massa e o libertário Javier Milei, que defende o fim do peronismo e do Estado inchado e ineficiente.

    “Massa é uma figura politicamente pragmática. Ele já fez críticas ao peronismo e ao kirchnerismo e age conforme seus interesses. Há diversas críticas sobre ele em relação a isso, inclusive. Mas a avaliação que podemos fazer é de que ele é pragmático por essência”, avalia o cientista político argentino Leandro Gabiati.

    Quando voltou a assumir a presidência do Brasil neste ano, o primeiro destino internacional de Lula foi Buenos Aires, em uma visita ao presidente do país e seu amigo de longa data, Alberto Fernández. Lula e Fernández possuem uma proximidade para além da diplomacia. O argentino, inclusive, chegou a visitar Lula na prisão em 2019.

    Foi essa relação pessoal — motivada pela identificação ideológica entre os dois presidentes — que possibilitou a Fernández a abertura para pedir ajuda de Lula em uma tentativa de superar a crise econômica em seu país.

    Nos últimos meses, entre as tentativas de Lula para auxiliar o amigo argentino, o governo convidou a Argentina para entrar nos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul); tentou negociar o acesso do país ao Novo Bando de Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos Brics; financiou importações e tentou viabilizar por meio de financiamento do BNDES a conclusão da construção do gasoduto Néstor Kirchner.

    Mais recentemente, Lula ainda foi acusado de ter pressionado o Brasil, através de sua ministra do Planejamento, Simone Tebet, e países vizinhos a autorizar um empréstimo bilionário à Argentina pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Lula e Tebet negaram que tenham interferido no crédito de US$ 1 bilhão liberado para a Argentina. O empréstimo viabilizou a rolagem da dívida do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional)

    Para Gabiati, essa relação tão próximo e pessoal entre os presidentes não será mais observada entre os dois países, mesmo que Massa seja o candidato eleito. Sérgio Massa é ministro da economia de Alberto Fenández desde 2022 e foi o candidato escolhido pelo governo para disputar o pleito eleitoral deste ano. Apoiado também por Cristina Kirchner, atual vice-presidente argentina, Massa é a aposta da esquerda para derrotar o libertário Javier Milei.

    Giabati diz que Milei terá uma relação fria com o Brasil e Massa, se for eleito, não deve explorar uma amizade com o mandatário brasileiro. “O Lula tem uma aproximação com o kirchnerismo, mas não com o Massa, necessariamente. Óbvio que há uma proximidade natural, mas o que foi visto com Fernández não deve se repetir” avalia o especialista.

    Lula não deve encontrar respaldo em pautas do Foro de São Paulo para se aproximar de Massa

    A convergência de Lula com presidentes argentinos partiu, na maioria das vezes, da pauta ideológica de esquerda. A amizade com Fernández e com o falecido ex-presidente Néstor Kirchner, partiram dessa proximidade que une, por exemplo, o Foro de São Paulo na América do Sul a outras regiões do mundo. A organização reúne partidos de esquerda dos mais variados países para discutir ideias e métodos para angariar apoiadores.

    Apesar de ser o nome escolhido para representar a esquerda no pleito presidencial do próximo domingo (22), Sérgio Massa não possui um DNA peronista e já foi um crítico da esquerda, conforme pontua Giabati. “Sérgio Massa não possui uma raiz peronista, mas, neste caso e por situações específicas, foi a figura escolhida para representar a esquerda e o peronismo nas eleições”, relembra o cientista político.

    O pragmatismo de Massa o levou à atual posição, segundo Giabati. “Ainda que ele não seja uma figura de esquerda, como o Gabriel Boric no Chile e outros presidentes na América Latina, ele representa a oposição ao candidato mais ideológico da direita na Argentina atualmente, que é o Milei. Aqui vale aquela premissa do ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo'”, avalia.

    O candidato começou sua carreira política durante o governo de Cristina Kirchner e em 2009, após dois anos ocupando o cargo de chefe de Gabinete de Ministros, Massa rompeu com o Kirchnerismo e fez diversas críticas a Cristina e seu esposo, o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner. Informações da imprensa à época revelaram um desentendimento entre os dois após Sérgio ter chamado Néstor de “psicopata, monstro e covarde” durante um jantar no Estados Unidos.

    Em 2013, Massa chegou a fundar seu próprio partido e se tornou um “anti-Kirchner”, fazendo diversas críticas à então presidente do país. Dois anos mais tarde, Massa lançou sua candidatura como presidente e fez uma campanha com diversas críticas à Cristina e ao seu partido. Após a derrota, Massa chegou a apoiar, de forma velada, o ex-presidente Mauricio Macri, que foi eleito naquele ano.

    A figura de crítico ao Kirchnerismo durou até 2019, quando o atual candidato à presidência argentina anunciou que faria parte da coalizão peronista Frente de Todos, liderada por Alberto Fernández e a própria Cristina Kirchner. À época, Massa disse que era preciso “unir forças” para derrotar a tentativa de Macri para se reeleger — o que funcionou. Fernández foi eleito com Kichner como sua vice-líder em 2019 e, três anos depois, Massa foi indicado ao Ministério da Economia.

    Apesar do apoio ao Kirchnerismo, Massa tem tentado afastar sua imagem de Fernández e da própria Cristina, com temor que a presença das duas figuras, que já são amplamente desgastadas para o eleitorado argentino, sabote sua candidatura.

    Esse distanciamento entre Lula e o candidato argentino, pode afetar os planos do brasileiro para o país vizinho. Caso Massa seja eleito, a relação de amizade que o petista pretende perpetuar com a Argentina pode ser substituída por um relacionamento pragmático e distante.

    Apesar de não ser o candidato de esquerda ideal para Lula, Massa ainda é a esperança do Palácio do Planalto para a permanência da esquerda na Casa Rosada. A vitória de Milei, o candidato libertário da Argentina, é sinal de uma relação ainda mais estremecida com o Brasil. Recentemente, o libertário chamou Lula de “comunista raivoso” e prometeu que seu governo será marcado pelo esfriamento de relações com governos de esquerda, como o Brasil e o da China. Mas disse que o setor privado terá toda a liberdade para continuar fazendo negócios com os países.

    Milei ainda é visto como uma ameaça para Lula no que diz respeito a política externa do mandatário brasileiro. Desde que assumiu para seu terceiro mandato, Lula tem tentado tirar do papel o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, mas sem muito sucesso. Dentro do bloco, o petista já tem encontrado resistência por parte do presidente uruguaio de direita, Luis Lacalle Pou. Caso Milei seja eleito, a oposição à Lula dentro da organização ganha ainda mais força.

    Lula tem sido cauteloso ao falar sobre as eleições na Argentina

    Fora revelado anteriormente que Lula iria apostar no silêncio para as eleições na Argentina, com o intuito de evitar um ruído na relação diplomática entre os dois países caso o candidato apoiado por ele não seja eleito. Nesta semana, contudo, o petista comentou o pleito eleitoral do país vizinho durante sua live semanal.

    “Eu não posso falar de eleição na Argentina, porque é um direito soberano do povo da Argentina. Mas, eu queria lembrar para vocês que o Brasil precisa da Argentina e de que a Argentina precisa do Brasil. É preciso ter um presidente que goste de democracia, que respeite as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul e que pense na criação de um bloco importante”, disse Lula.

    Para apoiadores do presidente, a fala foi uma alfinetada à Milei. Giabati pontua, contudo, que o comentário de Lula foi pragmático. “Ele não citou nome de nenhum candidato, apesar de sabermos qual sua preferência. Mas o comentário dele pode servir para os dois. Se você perguntar para o eleitor do Milei quem é o candidato mais democrático ele vai dizer que o Milei, o mesmo serve para quem vai votar no Massa. É uma questão subjetiva”.

    Apesar da tentativa de manter o pragmatismo, Lula não deve se esforçar para manter um canal aberto com o candidato da oposição na Argentina, que já afirmou que vai cortar laços com o brasileiro. De acordo com informações reveladas, o petista ainda estuda não ligar para Javier Milei e parabenizá-lo caso ele seja eleito, como de praxe faz o petista. Lula deve se manifestar através das redes sociais e por meio de uma nota divulgada pelo Itamaraty.

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