Artigo traduzido e ajustado do inglês, publicado pela matriz americana do Epoch Times.
O microbiota tem se mostrado complexo de estudar, se tornando uma área de grande interesse entre os pesquisadores. Estudos frequentemente apresentam contradições ou são difíceis de replicar, e variáveis confusas dificultam a generalização dos resultados.
Agora, uma nova pesquisa descobriu que até o momento do dia em que os pesquisadores analisam o microbiota pode modificar significativamente sua composição.
Cientistas que observaram flutuações nos micro-organismos intestinais, os quais podem ser drasticamente distintos durante o mesmo período, estão alertando que essa constatação necessita de diretrizes para auxiliar na interpretação de estudos futuros.
Publicado hoje na Nature Metabolism, a revisão observou uma série de fatores que conseguem modificar a composição do microbiota intestinal, o qual foi percebido como mutável conforme a coleta das amostras ocorreu pela manhã ou à noite.
O microbiota é o conjunto de todas as bactérias, vírus e fungos habitando em uma região específica do corpo. Trata-se de um campo emergente de estudo no qual diversas “assinaturas” microbianas têm sido associadas a doenças e sintomas.
Apesar de suas complexidades, o microbiota também apresenta grande potencial, o que levou ao que o Stanford Report descreveu como “uma explosão de pesquisa”.
Nova influência relevante
Estudos já observaram que nosso modo de vida – incluindo nossa alimentação, prática de exercícios, estrutura familiar, uso de antibióticos e níveis de estresse – pode afetar a composição microbiana de nosso intestino. A nova pesquisa revela que até o momento da coleta das amostras parece ser uma variável importante.
“Observamos que o instante em que uma amostra é coletada pode impactar consideravelmente quais micro-organismos estão presentes e as conclusões que os cientistas elaboram sobre a condição que estão pesquisando”, afirmou o Dr. Amir Zarrinpar, gastroenterologista e docente associado de medicina na Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, em um comunicado de imprensa.
Autor sênior da pesquisa, o Dr. Zarrinpar prosseguiu mencionando que essa variação provavelmente é o motivo pelo qual os cientistas do microbiota enfrentam desafios na reprodução das pesquisas. Uma análise mais minuciosa do estudo, englobando alguns estudos ainda não divulgados, constatou que o “microbiota oscila ao longo do dia, com diferentes populações de micro-organismos predominando em momentos distintos”.
De fato, a pesquisa teve sua inspiração em uma conversa que o Dr. Zarrinpar teve com um colega sobre a complexidade de reproduzir descobertas do microbiota, o que originou a descoberta acerca dos diferentes horários de coleta de amostras pelos pesquisadores no mesmo laboratório. Um deles optava por coletar amostras de fezes logo pela manhã, enquanto o outro as coletava antes de sair para casa no final do dia.
Amostras de fezes são utilizadas tanto em estudos animais quanto em seres humanos para analisar os micro-organismos e metabólitos que se supõe serem provenientes do cólon.
A
Tempo exato importa
Os co-participantes da revisão acreditam que a precisão temporal é um fator tão crucial em amostras de microbioma fecal que estão solicitando ao National Institutes of Health (NIH) que exija essa informação em seus artigos.
O Dr. Zarrinpar observou que outros cientistas, especialmente pesquisadores do ritmo circadiano, têm pedido ao NIH padrões mais rigorosos para a coleta de amostras.
Josiane Broussard, professora assistente no Departamento de Ciência da Saúde e do Exercício da Universidade do Estado do Colorado e líder de seu laboratório de sono e metabolismo, mencionou ao Epoch Times em uma entrevista que a abordagem da biologia do ritmo circadiano é frequentemente benéfica para muitos indicadores biológicos, como pressão sanguínea, lipídios e análises de glicose.
Medir os níveis de glicose no sangue, por exemplo, pode ser útil para orientar o momento de se alimentar, se exercitar e dormir, conforme a Cleveland Clinic.
“A temporalidade é crucial para tudo”, afirmou a Sra. Broussard. “Quase todos os processos seguem um padrão circadiano, então é totalmente compreensível que toda uma comunidade de organismos siga um ritmo circadiano.”
Um fator frequentemente negligenciado
A área do microbioma não tem dado atenção especial ao timing da coleta de amostras. De fato, a nova pesquisa analisou mais de 550 artigos publicados em importantes periódicos desde 2019 e constatou que apenas 0,32% deles mencionavam o horário específico de coleta das amostras.
Por essa razão, os pesquisadores precisaram ampliar sua investigação para investigar se o momento é relevante. Isso envolveu analisar seis conjuntos de dados pré-clínicos previamente divulgados que puderam ser avaliados, além de duas coletas circadianas de um estudo não publicado.
Uma amostra de microbioma que apresentava uma diferença de quase 80% quatro horas após a alimentação de um rato com o café da manhã foi um dos resultados encontrados.
“Uma das complicações com o microbioma é que ele é fortemente influenciado pela alimentação”, ponderou a Sra. Broussard. “Será que conseguimos separar os efeitos da dieta e da alimentação da intervenção ou manipulação que as pessoas estão interessadas?”
Atenção ao consumidor
A Dra. Sabine Hazan, gastroenterologista e diretora executiva da Progenabiome, afirmou que os produtos de consumo que prometem análises do microbioma provavelmente ainda não são confiáveis, uma vez que a pesquisa está em seus estágios iniciais.
Por exemplo, embora o momento possa impactar os resultados, isso realmente depende da qualidade dos testes e da amostragem, conforme mencionado em entrevista ao Epoch Times.
“Concordo que o microbioma pode variar se estiver sendo feito um sequenciamento superficial… especialmente se os métodos de análise do microbioma forem deficientes”, explicou. “Se os procedimentos operacionais padrão forem perfeitos, não importa o momento do dia em que as fezes forem coletadas, não haverá grande variação.”
Sequenciamento é uma técnica que permite aos pesquisadores estudar o DNA de microorganismos. O sequenciamento profundo pode identificar as espécies de micróbios presentes no microbioma. Os experimentos podem ser planejados de diversas formas, incluindo a quantidade de células analisadas e o nível de profundidade taxonômica, conforme mencionado em
um texto científico de 2020 na Nature Communications.
“Infelizmente, a maior parte dos exames de microbioma disponíveis tenta apresentar um produto de consumo econômico, mas não é preciso. Não revela muito”, afirmou a Dra. Hazan. “A dificuldade é que 80% dos dados registrados desde 2017 são deficientes. Por esse motivo, a tecnologia do microbioma é estritamente um produto de investigação.”
O Dr. Zarrinpar está solicitando diretrizes padronizadas para os horários e métodos de coleta – um esforço que demandará uma ampla colaboração.
Os Drs. Zarrinpar e Hazan destacaram que conseguir reproduzir descobertas é o que valida resultados fundamentais na pesquisa. Sem isso, a pesquisa do microbioma enfrenta uma “crise de replicabilidade” que poderia prejudicar descobertas interdisciplinares, como aquelas que conectam o microbioma a enfermidades como colite, esclerose múltipla, mal de Alzheimer, câncer e diversas outras.
“Se vamos conseguir comunicar de maneira eficiente sobre nossa ciência e o que acreditamos estar acontecendo, então é imprescindível compreender que se você obteve desfechos distintos dos meus, talvez isso possa ser devido ao momento em que estamos coletando as amostras ou não. Neste momento, sequer podemos afirmar”, declarou ele.
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