terça-feira, 2 julho, 2024
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    O Mundo Depois de Nós: detalhe relata narrativa do filme e não observou

    O enredo se divide em cinco partes e em variadas ocasiões o espectador é surpreendido com enigmas e conflitos relacionados ao apocalipse digital. A despeito das incertezas, existe um elemento específico do filme que narra bastante sobre a história. Relatamos, nos próximos parágrafos, mais sobre esse detalhe com base em informações exclusivas da Netflix. Confira, a seguir.

    A categoria como representação do tumulto

    O Mundo Depois de Nós conta com um grande aliado para revelar detalhes sobre os sentimentos dos personagens e do contexto onde estão inseridos: a categoria. Do início ao término do filme, percebemos como a pintura, o audiovisual e a música servem de suporte para o esclarecimento do espectador sobre o lado subjetivo do filme, apesar de alguns desses detalhes terem passado despercebidos.

    A parte mais marcante são as artes visuais, que estão presentes desde o começo da trama. Em uma informação exclusiva enviada pela Netflix, a diretora de arte do filme, Anastasia White, esclareceu que a palavra central para esse campo do filme era “colapso”. Segundo ela, “a primeira visão do colapso que vemos no filme é a rachadura na parede do apartamento de Amanda (Roberts) e Clay (Hawke)“. A diretora se refere à cena onde a personagem de Julia Roberts acorda o marido Clay para avisar que a família irá viajar de férias.o

    Além disso, os quadros com pintura e fotografia estão espalhados em diversos momentos do enredo. Eles foram elaborados por artistas não brancos, como Julie Mehretu, Torkwase Dyson, Barthélémy Toguo, Gary Simmons e Adam Pendleton. Todas as obras foram selecionadas pela curadora americana Racquel Chevremont, uma mulher negra. Vale lembrar que Rumaan Alam, escritor do livro original, é americano com ascendência bangladense e o diretor Sam Esmail possui ascendência egípcia. E na trama, essa escolha funciona como indicativos sutis de que a casa pertence a pessoas não-brancas.

    White aponta que um dos problemas iniciais do filme, a desconfiança de Amanda com G.H. Scott (Ali), poderia ter sido resolvido se a personagem tivesse se atentado aos quadros da casa. Eles representam a presença da esposa de G.H., que é uma marchand (negociadores de obras de arte). Ainda que ela não apareça, seu gosto refinado por arte abstrata reafirma a veracidade do relato do marido.

    Isso leva a outro aspecto artístico pouco observado pelos espectadores, que é a alteração de algumas das obras à medida que o filme avança como forma de demonstrar o colapso. É o caso das pinturas em preto e branco presentes na sala de estar. Inicialmente, pensamos se tratar de apenas um quadro, mas este vai mudando à medida que a situação dos personagens fica cada vez mais caótica.

    Segundo a Netflix, nesse ponto, foram utilizados três recortes de obras maiores do artista plástico Glenn Ligon, reconhecido por representar em seus trabalhos questões como solidão, raças, etnias, identidade e sexualidade. Anastacia White esclareceu que a decisão de utilizar quadros do artista levou em consideração a expressão sutil do que acontecia em cada momento. A chegada dos Sandford na casa, a visita repentina dos Scott e o drama das duas famílias com o ápice da catástrofe nos Estados Unidos.

    Outra imagem que muda a cada cena é o papel de parede com uma fotografia gigante de mar, que fica no quarto principal utilizado por Amanda e Clay. Aqui é representado o “afogamento” dos personagens, mas também pode representar o humor da protagonista Amanda, pois o ambiente é usado apenas por ela e seu marido. Quando o casal chega à residência e a esposa visita o quarto, percebe-se que o mar está calmo e extremamente horizontal. A luz do sol entra no quarto e o deixa bastante iluminado.

    Porém, Amanda fica chateada com a chegada repentina de G.H. e Ruth à residência. Na manhã seguinte, ela é acordada pela filha, que quer visualizar a série Friends. Quando a câmera abre para abranger todo o espaço do quarto, vemos o ambiente coberto de sombras e a fotografia desta vez mostra um mar agitado, diminuindo o tamanho do céu na imagem.

    Já nos momentos finais, Amanda descobre que seu filho Archie (Charlie Evans) está enfermo a ponto de perder os dentes. Quando a câmera foca em todo o quarto, já não vemos nada do céu no papel de parede, e só há apenas o mar revoltado e disforme, engolindo toda a linha do horizonte.

    A categoria como uma salvação no tumulto

    Partindo para o campo da interpretação, outra coisa que pode ser entendida no decorrer do filme é como a categoria contribuiu não apenas no entendimento de certos momentos de tensão dos personagens, mas também atua como consolação e até salvação em meio à realidade distópica. Para além das artes plásticas, o filme aborda a música como principal suporte dentro desse cenário.

    Assim como na questão dos quadros e fotografia, os artistas musicais são, em sua maioria, negros (com exceção do duo The Rembrandts, que toca nos créditos finais). Estão na trilha sonora os cantores e grupos afro-americanos Joey Bada$$, Kool and The Gang, Blackstreet, TV On Radio, Lil Yatchy e Next. A música serve como pano de fundo em dois momentos de aproximação entre as duas famílias.

    Archie, longe de sua residência, não desvia o olhar de Ruth enquanto ela veste um biquíni para nadar na piscina, ao mesmo tempo em que sintoniza a música “Winter”, da banda de rock alternativo TV On Radio, uma faixa romântica com uma conotação mais atraente. Não surpreendentemente, o adolescente acaba tirando fotos dela secretamente. Por outro lado, Ruth está ciente das intenções do jovem e deseja mantê-lo afastado.

    Outra situação ocorre quando G.H. tenta se aproximar de Amanda usando jazz, um gênero musical mais sofisticado. No entanto, o consultor de negócios não tem conhecimento do fato de que a personagem é uma admiradora de artistas negros do rap e R&B, como já apresentado em momentos anteriores do filme. Em um momento privado, eles dançam juntos ao som de “Too Close”, interpretada pelo trio de hip hop Next. Eles acabam ficando “muito próximos”, mas G.H. e Amanda seguem caminhos opostos em relação a isso.

    No entanto, o exemplo mais simples, mas que tem um grande impacto no desfecho do filme, é a paixão da personagem Rose (Farrah Mackenzie) pela série Friends. Inicialmente, esse interesse é totalmente ignorado pelos outros personagens, talvez devido ao fato de que a série já havia sido encerrada há anos. Ela assiste a produção em um tablet, mas quando ocorre uma queda na conexão de Internet, a garota fica impossibilitada de assistir ao último episódio.

    Por fim, Rose consegue finalmente assistir ao episódio, ao encontrar um abrigo mantido por uma família vizinha que está repleto de DVDs de filmes e séries. No entanto, é importante ressaltar que isso acontece após dois eventos traumáticos. Durante a busca por sua filha, Amanda salva Ruth de uma manada de cervos. Isso é muito simbólico, pois anteriormente a relação entre as duas era de discordância mútua. Agora, elas permanecem unidas em um momento de dificuldade, segurando as mãos enquanto presenciam um bombardeio na cidade.

    Outro exemplo de união entre pessoas em conflito acontece quando G.H. e Clay conseguem obter remédios para Archie na residência de Danny (Kevin Bacon), construtor da casa do consultor financeiro. Danny se revela um sobrevivencialista extremamente antissocial e individualista, recusando-se a fornecer qualquer tipo de assistência a estranhos. Isso provoca a ira de G.H., que chega a apontar uma arma para o construtor. No entanto, quando Clay suplica por ajuda, os dois baixam as armas e Danny os auxilia com os medicamentos necessários.

    Após a reconciliação entre os dois grupos, Rose coloca o DVD de Friends no aparelho do abrigo. A canção “I’ll Be There For You” (Eu Estarei Lá Por Você, em português) começa a tocar em seguida. A inclusão dessa faixa é irônica, pois demonstra que agora todos que antes estavam em conflito estão unidos pela empatia e, ao mesmo tempo, pode evidenciar como a arte esteve presente para expressar sentimentos e contribuir para a reconciliação entre as duas famílias.

    Antes dessa cena, Rose havia explicado ao irmão o motivo de seu fanatismo por Friends, alegando se importar bastante com o desfecho da sitcom. “Se ainda há esperança neste mundo, eu quero saber como as coisas terminam para eles”, declara a jovem, referindo-se aos protagonistas de Friends, mas que parece se aplicar tanto às famílias Sandford e Scott.

    Confira o trailer de O Mundo Depois de Nós

    Fonte: Decider, IMDb, Netflix

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