Já faz algum tempo que as histórias apresentadas nas produções televisivas do Brasil chamam a atenção, não apenas do público nacional, como também de telespectadores ao redor do planeta. Apesar disso, ainda existem aqueles que torcem o nariz, mesmo diante de produções inegavelmente de alta qualidade, como é o caso de Renascer, uma releitura da telenovela de 1993, atualmente em exibição na Rede Globo.
No entanto, com um pouco de esforço, ou talvez apenas uma dose de completa loucura, é possível afirmar que a trama e os personagens da novela criada por Benedito Ruy Barbosa estabelecem um paralelo com outra obra amplamente conhecida em todo o mundo: Star Wars.
Em um contexto semelhante ao que afirmou que “Kubanacan é a versão brasileira de Dark” (isso é uma discussão para outro momento), a trajetória de Zé Inocêncio, interpretado por Humberto Carrão na primeira fase e por Marcos Palmeira na segunda, assemelha-se à de Anakin Skywalker. No entanto, ao invés de empunhar um sabre de luz, ele utiliza um facão no pé de um jequitibá-rei.
A trajetória dos heróis Zé Inocêncio e Anakin Skywalker
O pesquisador Joseph Campbell, em sua obra O Herói das Mil Faces, realizou uma análise aprofundada sobre o padrão narrativo comum em mitos, lendas e histórias épicas, como é o caso de Star Wars e Renascer.
Nessa jornada, o herói é apresentado, recebe o seu chamado, encontra um mentor, atravessa o limiar rumo ao desconhecido, passa por testes, encontra inimigos e aliados. Aproximando-se do seu objetivo, ele precisa passar por uma provação suprema, alcança a sua recompensa, se renova e retorna ao mundo inicial como uma nova pessoa.
Este é um resumo simplificado, porém abrange exatamente a estrutura desse tipo de narrativa epopeica e como os protagonistas da novela da Rede Globo e o personagem principal da saga da Disney compartilham características semelhantes.
O sofrimento no início e no final
Renascer inicia-se com a história de José Inocêncio, um jovem que almeja conquistar a grandeza, estabelecendo um pacto com um jequitibá-rei. Marca a majestosa árvore com seu facão nos pés, demonstrando sua reverência e ligando sua vida à do Jequitibá. Pactua que enquanto a árvore permanecer em pé, ele não morrerá “de morte matada e nem de morte morrida”.
Pode parecer um pacto tolo, embora as palavras sejam intensas e fundamentadas em uma religiosidade que parece desmedida, porém é imediatamente testado quando um grupo de capangas do proprietário das terras onde o jequitibá está localizado se depara com Zé Inocêncio.
Mostrando que a vida não é um mar de rosas, ele é atacado e tem sua pele arrancada. Na nova versão, ele tem apenas as costas esfoladas. A versão original era muito mais chocante, com Zé Inocêncio tendo toda a pele removida, enquanto agoniza suspenso de cabeça para baixo.
Neste ponto, já estabelecemos um paralelo com o sofrimento de Anakin Skywalker, que tem braços e pernas decepados e é deixado à beira de um rio de lava, em Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith.
São sofrimentos tão intensos e a sobrevivência de ambos é praticamente um milagre. No entanto, existem paralelos que fazem mais sentido (pelo menos em minha mente perturbada).
Um amor, uma perda e a queda do herói
Assim como em Star Wars, Renascer abrange duas fases, mostrando diferentes momentos na vida de seus personagens. Na primeira fase, eles são jovens sonhadores, tentando encontrar seu lugar no mundo, e enfrentam grandes desafios.
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As situações começam a se tornar bastante semelhantes ao analisarmos como Zé Inocêncio e Anakin tiveram suas vidas alteradas ao conhecer uma jovem que cativa o seu afeto. Enquanto o personagem da novela se apaixona por Santinha, interpretada por Duda Santos, o jedi vê em Padmé, interpretada por Natalie Portman, o seu grande amor.
Enquanto Zé Inocêncio ama livremente sua mulher, Anakin vive uma vida de mistérios devido aos Jedi, porém encontra no seu amor uma motivação para suas batalhas. Em ambas as histórias, eles encontram o mentor, na figura de Obi Wan Kenobi ou de Jacutinga, que tentam trazer sabedoria para os heróis, nem sempre sendo ouvidos.
Eles vivem felizes, até que uma gestação complicada leva os dois à sua ruína. Tanto Santinha quanto Padmé morrem no parto de seus filhos, João Pedro e Luke Skywalker.
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Zé Inocêncio e Anakin se tornam uma sombra do que um dia foram, renegando completamente os filhos, que precisam ser criado por outras pessoas, Deocleciano e Morena, praticamente o Tio Owen e Tia Beru de Renascer.
É possível até mesmo relacionar a religiosidade de Zé Inocêncio à Força e o lado sombrio ao Cramunhão na Garrafa. As coisas fazem tanto sentido que eu não sei se estou ficando louco ou alcançando a iluminação suprema do conhecimento com essas ideias.
A redenção pelas mãos do filho
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A estreia da segunda fase de Renascer mostra outro paralelo com Star Wars, que é na redenção dos “vilões”. Falando um pouco de spoilers da novela, apesar de ela ser um remake e ter o seu final pela internet, se baseando na versão original, Zé Inocêncio fica entre a vida e a morte, sofrendo por conta de seu pacto com o jequitibá-rei.
Depois de uma vida renegando seu filho João Pedro, é ele que encontra a árvore onde seu pai deixou o facão, retirando-o e colocando o seu no lugar. Ao retornar para o leito de morte do seu pai, eles se reconciliam, com o velho Zé Inocêncio falando que ama seu filho antes de morrer.
Sabe quem salva o pai de uma vida nas sombras e no final, com ele todo esculhambado, confessa o amor ao filho e morre do lado da luz? Ele mesmo, Anakin Skywalker.
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Só resta saber quem é o Jar Jar Binks na novela.
Renascer está em exibição na Rede Globo e no Globoplay. Toda a saga Star Wars está disponível no Disney+.
