Bryan Lee O’Malley apresentou o primeiro volume dos quadrinhos de Scott Pilgrim em agosto de 2004 e agora, quase duas décadas depois, a sua obra recebe sua segunda transformação na forma de Scott Pilgrim: A Série. Antes dela, em 2010, foi lançado Scott Pilgrim Contra o Mundo, filme live action dirigido por Edgar Wright (Todo Mundo Quase Morto), o que nos leva à indagação: qual das adaptações de Scott Pilgrim se sobressai?
Definir qual é a melhor adaptação pode parecer uma tarefa desafiadora, já que fatores como nostalgia e até mesmo o histórico que cada pessoa tem com a obra pode influenciar a discussão para um lado ou outro. Ainda assim, as disparidades existentes entre as duas obras possibilitam essa comparação, especialmente se considerarmos aspectos específicos do filme e da animação, como fidelidade à história original e a profundidade dada a certos personagens.
Para isso, vamos analisar cinco categorias: adaptação adequada, elenco, trilha sonora, confrontos e humor.
Adaptação adequada
Scott Pilgrim Contra o Mundo segue a narrativa da HQ, contando a jornada de Scott Pilgrim (Michael Cera), um jovem canadense de 23 anos que não tem muitas perspectivas. Ele toca em uma banda de rock sem grande futuro, namora uma adolescente e vive em um pequeno apartamento com um amigo.
Tudo muda quando ele conhece Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead), uma enigmática mulher com cabelo colorido e franja que desperta muita atenção. Ele tenta conquistá-la, mas descobre que precisa enfrentar a Liga dos Ex-Namorados do Mal para ter o caminho livre para o seu amor.
O filme consegue adaptar relativamente bem todos os seis volumes dos quadrinhos, considerando que foi lançado praticamente junto da última edição.
Já Scott Pilgrim: A Série é uma animação que começa bem fiel aos quadrinhos, mas eventualmente segue um caminho completamente inédito, preservando os personagens e a própria trama principal, mas apresentando diferenças marcantes em relação à obra original.
Apesar do filme ser uma adaptação mais fiel, pois acompanha o início, meio e fim das HQs, a série consegue ir um pouco além, sem perder a essência do que torna a história realmente cativante. É uma outra visão dessa trama que pode surpreender os fãs mais conservadores, mas que demonstra o quanto esse universo é eficaz mesmo quando encarado sob outras perspectivas. Sendo assim, vamos declarar um empate.
Elenco
O elenco de Scott Pilgrim Contra o Mundo é uma verdadeira constelação de futuras estrelas, incluindo Michael Cera (Barbie), Mary Elizabeth Winstead (Ahsoka), Chris Evans (Vingadores: Ultimato), Brie Larson (As Marvels), Brandon Routh (Legends of Tomorrow), Kieran Culkin (Succession), Aubrey Plaza (Parks and Recreation) e Jason Schwartzman (Asteroid City).
Na época em que o filme foi lançado, a maioria desses atores estava prestes a receber seus grandes papéis no cinema — Chris Evans se tornou o Capitão América no ano seguinte e, em 2016, Brie Larson ganhou o Oscar de Melhor Atriz por O Quarto de Jack — , representando uma aposta que deu certo. Após o lançamento do longa, todos mantiveram a amizade, chegando a fazer uma leitura do roteiro do filme durante os anos de pandemia.
Toda essa amizade contribuiu para a animação, já que quando a Netflix propôs transformar a HQ em anime, envolvendo Bryan Lee O’Malley e Edgar Wright, todo o elenco foi consultado sobre a possibilidade de retornar. Assim, todos os atores do filme reprisaram seus papéis na série animada.
Dessa forma, um elenco incrível repetido leva a um empate entre filme e anime. Aliás, é essa reapresentação que torna o anime tão cativante.
Trilha sonora
A trilha sonora da série é incrível, com contribuições da banda Anamanaguchi, também responsável pela trilha sonora do jogo baseado em Scott Pilgrim. Além de usar músicas que estavam na HQ, a série ainda inclui canções licenciadas, como a magnífica versão de Black Sheep, do Metric, e Police Truck, dos Dead Kennedys.
No entanto, a versão de Black Sheep cantada por Brie Larson no filme foi verdadeiramente magnífica e se tornou mais famosa. Além disso, com os atores cantando e tocando os instrumentos, a trilha foi produzida por Nigel Godrich, produtor que colaborou com bandas como Radiohead, U2, R.E.M., Paul McCartney e Roger Waters, em parceria com o cantor Beck.
A animação pode ter ótimas músicas, mas a trilha sonora do filme permanece imbatível até hoje, conquistando essa categoria com facilidade.
Confrontos
Scott Pilgrim é conhecido por alguns elementos bem definidos, incluindo música, cultura nerd, romance e confrontos. A ação da série ganha vários pontos por usar a animação para ir além do que normalmente seria possível em live action. No entanto, Scott Pilgrim Contra o Mundo consegue exatamente isso, traduzindo muito bem as extravagâncias baseadas em videogame para o mundo real.
Embora ambos funcionem muito bem, espera-se algo mais espetacular vindo de uma animação, enquanto o filme de Edgar Wright conseguiu fazer isso com os atores lutando e com efeitos especiais verdadeiramente eficazes, sem se tornar caricato ou cafona. Eles conseguiram fazer Michael Certa lutar usando música e um macaco gigante, e Mary Elizabeth Winstead usar um martelo gigante. É preciso reconhecer e o filme prevalece nessa categoria.
Humor
O humor já mencionado está bastante presente nas duas adaptações, embora funcione de maneiras distintas. Enquanto a animação apresenta situações e diálogos engraçados, o filme incorpora isso e ainda adiciona um tom quase pastelão em algumas cenas.
Ao tentar criar esse tom de fantasia, a versão cinematográfica da história deixa os personagens mais exagerados em suas reações em várias cenas, como se fossem, veja só, personagens de desenhos animados. No entanto, devido ao contraste entre as duas mídias, essas situações se tornam mais engraçadas, como as expressões faciais de Scott e Stephen Stills ao descobrirem que vão tocar contra uma banda que também tem uma garota na bateria.
Embora as duas adaptações sejam bastante hilárias de maneiras diferentes, o filme consegue ser um pouco mais, ganhando mais essa categoria.
Na pontuação geral, considerando dois empates e três pontos avaliados de forma completamente subjetiva, o filme pode ser considerado a melhor adaptação.
No entanto, como mencionamos em nossa crítica sobre a série, o anime não tenta em momento algum seguir os mesmos passos do longa, trilhando sua própria trajetória e sendo praticamente uma sequência ou um “New Game+” dos quadrinhos. Sendo assim, é tudo muito envolvente e, se você gostou de um, provavelmente vai gostar do outro.
Scott Pilgrim: A Série está disponível na Netflix, enquanto o filme está disponível para locação e compra no iTunes, Amazon e Google Play Store.
