quarta-feira, 3 julho, 2024
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    setor leiteiro do Vale do Taquari enfrenta crise após enchentes de maio


    Leiteiro do Vale do Taquari

    A lactose é um dos produtos mais vitais na economia do Rio Grande do Sul, um dos três maiores fabricantes do país. Todavia, as precipitações de maio podem instigar uma nova crise no setor, que já sofreu uma queda de 64% no quantitativo de produtores na derradeira década. A escassez de alimentos para o gado e a perda de rebanhos integrais podem impactar imediatamente a economia de pequenas localidades do Vale do Taquari.

    Pode parecer um dia comum na rotina de cada produtor de leite riograndense, porém tudo mudou posteriormente à inundações de maio. A família Franz, de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, fabrica leite há 60 anos. Atualmente, a propriedade é gerenciada pelo jovem Leonardo, com o auxílio dos pais, Normélio e Lori. Nossa equipe de reportagem visitou a fazenda e trouxe especificações da situação:

    Normélio Franz, fabricante de leite:
    “Foram três dias consecutivos de inundação. A derradeira foi a mais elevada que eu já vi. Derrubou tudo aqui na região. Foi árduo, efetivamente foi difícil. Eu pensei: o que nós iremos realizar aqui?”

    Lori Bolikenhagen Franz, fabricante de leite:
    “Como eu irei expressar? Como se eu não possuísse mais solo. Só enxergava água. Apenas isso. Água e as vacas berrando de fome e não possuíamos mais bóia para as vacas.”

    A propriedade possui 180 vacas, 70 em lactação. Os animais permaneceram sete dias sem alimentos e com silagem racionada. O desfecho: a produção decaiu de dois mil litros de leite por dia para a metade. Aproximadamente 26 hectares de milho silagem, em época de corte, foram perdidos com a inundação e no presente apodrecem na plantação. A única comida acessível veio de donativos, suficientes apenas para um mês.

    Leonardo Franz, fabricante de leite:
    “O nosso rebanho possui uma média de 35 litros por vaca por dia e, com tudo isso, caiu para 10 litros. Até doações possuem muitas, o pessoal está auxiliando bastante. Se não fosse isso, não sei. Porém o problema é a logística. Necessita vir de longe, de SC, do PR.”

    A situação é mais crítica em algumas localidades. Em Estrela, um significativo fabricante de leite, muitos perderam completamente tudo. O leite é uma aptidão frequentemente transmitida por gerações e, mesmo não possuindo animais, galpões ou alimentos para as vacas, ainda existe a disposição de continuar.

    Seu Elói e Dona Dulce vivenciaram o pior dia de suas vidas há um mês. 130 vacas faleceram afogadas. No galpão de produção, restou apenas lama nas estruturas e um silêncio que anteriormente era preenchido pelo som dos animais. A residência deles também foi perdida. A proposta é recomeçar no leite, mas não naquele lugar.

    Elói Wermann, fabricante de leite:
    “A gente viveu aqui, vamos declarar, em três gerações. Apostamos em genética das vacas. Presentemente estávamos em um patamar onde desejaríamos atingir e, repentinamente, sentados em cima da laje de uma residência, vendo aquilo seguir embora sem poder realizar nada, mãos atadas. Foi o pior cenário para mim. Não vou esquecer. Foi muito cruel.”

    Dulce Wermann, fabricante de leite:
    “A hora que a gente saiu foi quando observei que elas estavam perecendo afogadas. Foi o pior momento. Algumas estavam penduradas, tentando sobreviver, não perecer afogadas.”

    Social e economicamente, a fabricação de leite no Rio Grande do Sul é de grande importância e está presente em praticamente todos os municípios. Aproximadamente 40 mil propriedades têm a atividade leiteira como fonte de renda. A maior produção está no Noroeste, seguida da Serra e, em terceiro lugar, no Vale do Taquari. O estado reúne um rebanho de 1 milhão de bovinos e produz 4,3 bilhões de litros de leite por ano.

    Segundo a Emater, 2.451 vacas faleceram e 7 mil fabricantes foram prejudicados pelas inundações, com mais de 9,6 milhões de litros não coletados. Este impacto será percebido na economia das localidades.

    Cristiano Laste, diretor regional da Emater Lajeado/RS:
    “O

    O leite é um meio de troca que chega rapidamente, circula com muita agilidade. Ele apresenta muita oscilação na cidade. O criador recebe a remuneração do leite na metade do mês e já realiza aquisições, quita despesas com combustível e isso tem impacto na economia das cidades. Além de sofrer com a diminuição da produção, ele acabou perdendo grande parte do capital investido na propriedade.

    Conforme a Radiografia da Agropecuária Gaúcha, o leite é o 5º artigo de maior relevância no valor bruto da produção, totalizando 7,6 bilhões de reais no VBP. O estado efetua exportações para 45 nações, se tornando o terceiro mais destacado exportador do Brasil. A produção de leite é primordialmente executada por pequenas famílias que dependem diretamente desse ofício para subsistir no meio rural. No entanto, diante das crises reiteradas enfrentadas pelo setor, a continuidade tem se tornado cada vez mais complicada.

    Rogério Heemann, líder do Sindicato Rural de Estrela/RS:
    “Vários criadores encerraram as operações porque a atividade não é mais rentável. O leite sempre teve relevância para nosso produtor rural. É uma fonte de receita mensal. Em algumas ocasiões, mesmo produzindo a um custo mais elevado, ele permaneceu na zona rural. Neste momento, isso resulta em uma redução da lucratividade do criador e, consequentemente, a cidade também sentirá esses impactos.”

    Nas fazendas, além da escassez de alimentos para os animais e o cenário de devastação, traumas poderão se repetir por vários anos.

    Leonardo Franz, criador de leite:
    “Arroio do Meio, Estrela, Lajeado e toda a região dependem do leite. Portanto, isso se tornará desafiador.”

    Elói Wermann, criador de leite:
    “A resolução que optamos foi de não continuar aqui. Contudo, o interesse persiste. Caso consigamos uma área viável, talvez possamos recomeçar.”

    Dulce Wermann, criadora de leite:
    “Essas imagens jamais serão esquecidas. É terrível.”

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