Qual a temperatura mais apropriada para os seres vivos no planeta Terra? De acordo com diversos estudos recentes realizados por equipes de pesquisadores de vários países, a resposta seria 20 ºC, que é bastante confortável aos humanos. Embora muitos animais consigam sobreviver em temperaturas mais altas ou mais baixas, a eficiência dos processos biológicos é menor — especialmente no calor excessivo.
Não apenas animais, mas plantas e micróbios, dos terrestres aos aquáticos, vivem melhor a 20 ºC. À medida que a temperatura aumenta, os processos biológicos tornam-se mais eficientes, atingindo um máximo e depois diminuindo a eficiência com temperaturas mais elevadas.
Tudo começou quando pesquisadores da Nova Zelândia notaram que o número de espécies marinhas não atingia seu máximo na Linha do Equador, como era esperado anteriormente pela ciência — o número era maior nas regiões subtropicais. A redução na diversidade nessa faixa de calor tem se acentuado desde o fim da última Era do Gelo, há 20.000 anos, e continua piorando com o aquecimento do oceano. Temperaturas mais baixas podem, afinal, contribuir para uma vida mais longa.
Por que 20 ºC é a temperatura indicada para a vida?
Outros pesquisadores, desta vez da Tasmânia, descobriram que a taxa de crescimento de micróbios e organismos multicelulares também era mais estável nos processos biológicos a 20 ºC. Equipes científicas da Alemanha, Canadá, Escócia, Hong Kong e Taiwan se uniram ao corpo de pesquisa para investigar mais de perto a questão da temperatura, e continuaram a encontrar os 20 ºC como padrão.
Vários processos cruciais de espécies, tanto terrestres como marinhas, tornam-se menos eficientes após temperaturas mais quentes do que essa, como por exemplo:
- Tolerância a baixos níveis de oxigênio por espécies de água doce e salgada;
- Produtividade de algas pelágicas (de águas rasas) e bentônicas (do leito marinho) e taxas de predação dos peixes em iscas;
- Riqueza global em peixes pelágicos, plâncton, invertebrados bentônicos e moluscos (inclusive fósseis);
- Diversidade genética.
Além disso, descobriu-se que o número de extinções nos registros fósseis era maior quando as temperaturas ultrapassavam os 20 ºC. À medida que as espécies evoluem e conseguem viver em temperaturas mais altas ou mais baixas do que essa, seu nicho térmico se expande, ou seja, a maioria delas consegue viver tanto em uma média de 20 ºC quanto em outras temperaturas.
Um modelo matemático chamado Corkrey foi elaborado pelos cientistas, mostrando que os processos biológicos são mais estáveis e eficientes a 20 ºC, e que a temperatura ainda maximiza a riqueza de espécies. Segundo os achados, a centralização da vida nessa temperatura geraria obstáculos fundamentais à adaptação de espécies tropicais a climas mais quentes.
Espécies que consigam se adaptar ao aquecimento global ao mudar sua distribuição geográfica, migrando para outros lugares, provavelmente não entrarão em extinção, algo que criaturas marinhas conseguem fazer melhor — as terrestres, no entanto, acabam sendo impedidas pelas mudanças na paisagem causadas pelas cidades, pela agricultura e por outras infraestruturas humanas.
O efeito dos 20 ºC é o que melhor explica fenômenos como a riqueza de espécies e diversidade genética relacionada à temperatura, bem como taxas de extinção mostradas pelos fósseis.
Apesar de seres multicelulares serem complexos, as células ainda funcionam melhor em uma temperatura próxima, algo que se deve, provavelmente, às propriedades da água que as forma, o que também coloca um limite absoluto de aproximadamente 42 ºC à maioria das espécies.
Fonte: Frontiers of Biogeography, Ecography, PLOS One, Food Control, Biological Sciences, Nature via The Conversation
