A Intel liberou a nova série de processadores Intel Core Ultra, primeiros CPUs domésticos da companhia com aceleradores de IA embutidos. Desde o começo de 2023, a comunicação da Intel enfoca na proposta revolucionária de levar IA a todos os lugares, e no evento AI Everywhere vamos ver como a empresa planeja concretizar isso.
Até então, mencionar IA remete à ideia de algo distante, geralmente na nuvem e acessível apenas por meio de poucos serviços. Contudo, a abordagem da Intel para o assunto parece ser incorporar capacidades locais de IA de ponta a ponta, do servidor de processamento avançado até dispositivos de realidade aumentada e outras ferramentas para aprimorar a qualidade de vida.
Siliconomia
Atualmente, estima-se que entre 15% e 25% do PIB global é gerado exclusivamente por semicondutores e produtos à base de silício. Uma das primeiras previsões da Intel baseada em informações internas é que, graças à IA, esse valor aumentará um terço até o final de 2030, em menos de 10 anos.
Para fazer parte desse futuro, é natural que a maioria das Gigantes da Tecnologia esteja investindo pesadamente para assegurar uma boa penetração no mercado de IA. Por outro lado, a atual infraestrutura de Inteligência Artificial se baseia, sim, em serviços remotos, complexos e muito afastados da população em geral.
Isso acontece porque quando os investimentos no setor começaram, ainda era inviável criar produtos que fossem, de fato, direcionados para o consumidor final. As limitações variavam entre conectividade, tamanho de transistores e a forma como a maioria dos processamentos em IA era programada e realizada.
Projeto a longo prazo
Inclusive, esse é um dos principais elementos que fazem com que muitas das aplicações atuais de IA dependam de tecnologias proprietárias CUDA. Após acompanhar de perto o evento AI Everywhere, fica evidente que a estratégia da Intel para reverter isso é investir primeiro nos setores em que a IA ainda não é uma realidade.
Toda nova tecnologia costuma trazer consigo um custo de produção mais elevado, e isso quase sempre é repassado para o consumidor final. Dessa forma, nos primeiros anos da “Era da IA nos PCs”, é provável que esses aparelhos sejam produtos de nicho, mas que a situação evolua e se estenda aos demais segmentos em poucas gerações.
Segundo a Intel, a estimativa para a renovação de hardwares de PCs é de 5 anos em média, e ela cai para 3 a 4 anos para o público gamer. Isso corrobora a análise do Boston Consulting Group, que estima que 80% dos PCs domésticos já terão IA embutida até 2028.
A não ser por cenários de recessão e crises econômicas profundas, o prazo sugerido de 5 anos é mais que suficiente para acomodar preços, demanda e produção, e garantir uma migração eficaz da base instalada para as novas gerações.
Ecossistema aberto para romper monopólio CUDA
Outro ponto mencionado pelo CEO da Intel, Pat Gelsinger, é que toda a indústria de hardware está trabalhando para acabar com a dependência profunda das tecnologias CUDA. A forma encontrada para fazer isso de maneira mais eficaz é por meio de ecossistemas abertos de software, usando arquitetura x86.
Apesar de serem extremamente eficazes em tarefas especializadas, programar em arquitetura ARM, como é o caso dos chips de IA da Nvidia, é muito mais complexo. Segundo Dan Rogers, Diretor Sênior de Soluções Móveis da Intel, isso não significa que seja inviável, mas, para desenvolvedores menores, quase sempre é necessário algum tipo de emulação de plataformas x86, impactando processos de inferência e treinamento de LLM.
Dessa forma, democratizar o uso da IA implica igualmente democratizar também seu desenvolvimento. Por este motivo, disponibilizar ferramentas de código aberto e gratuitas, como o OpenVINO e OpenAPI, é um elemento essencial da estratégia da Intel.
De facto, os modelos LLM de bilhões de parâmetros ainda serão concebidos por grandes conglomerados, como Meta, Google e Microsoft. Entretanto, através de ferramentas gratuitas, organizações menores poderão adaptar e reajustar esses modelos para suas necessidades específicas, possibilitando inferências e aplicações de IA em máquinas locais menos complexas e mais acessíveis, sem a obrigatoriedade de conectividade.
IA em todos os locais
Ajuda no estabelecimento de um ecossistema de software e serviços compatíveis com uma arquitetura mais acessível de programar é crucial para a Intel. Efetivamente, este movimento gera a procura por soluções escaláveis de hardware para IA nos mercados de menor porte, tanto consumidor como corporativo.
Deste modo, a Intel se coloca de forma ideal para atender a essas necessidades, aumentando sua presença no mercado nos segmentos de PCs com IA, servidores de menor porte sob demanda, computação de borda e IoT. A empresa estima fornecer hardware para cerca de 100 milhões de PCs até o final de 2025 para atender a essa demanda “nova”.
Paralelamente, ela consegue respirar aliviada ao visar ultrapassar a concorrência em serviços mais robustos, aprimorando sua competitividade durante o tempo em que as grandes empresas estão se preparando para atualizar sua infraestrutura robusta.
Tudo indica que levar a IA a todos os locais não constitui uma mera projeção, mas sim a estratégia da Intel para se solidificar no setor de Inteligência Artificial. Trata-se de uma planificação estruturada em diferentes etapas, abrangendo todos os segmentos das indústrias de consumo, aplicações e serviços, iniciando já em 2024 com os Intel Core Ultra, mas estendendo-se até o final da década.