sexta-feira, 5 julho, 2024
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    ‘Vão-se os anéis, ficam os dedos’


    O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth, 55 anos, desempenhou um papel crucial no primeiro ano de gestão do governo do Estado. Ele atuou como o representante de uma aliança que tem sido uma oposição ao governo federal, ao mesmo tempo em que conduzia projetos. Pertencente ao Partido Social Democrático (PSD), Ramuth também é o presidente do comitê de desestatização e coordena as políticas relacionadas à cracolândia.

    Segundo ele, a sintonia de ideias com o governador Tarcísio de Freitas tem prevalecido. Com formação em administração e MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ramuth ingressou na política em 1993, quando foi questionado por um marceneiro sobre o plebiscito que iria definir entre parlamentarismo, presidencialismo ou monarquia. Ele se tornou prefeito de São José entre 2017 e 2022.

    De ascendência judaica, o vice-governador, casado com Vanessa e pai de Isadora, de 18 anos, provém de uma família de poucos recursos financeiros. Frequentou a Escola Estadual Professor Ênio Voss, no Brooklin, próximo de sua antiga moradia, em São Paulo, até os 10 anos. Ramuth é neto de romenos paternos, Élcio, com 86 anos, e de poloneses maternos, Silvia, que faleceu quando ele era criança. Aos 11 anos, ele passou a estudar no Bialik, escola particular israelita, graças a uma bolsa oferecida por uma entidade judaica. Foi nesse ambiente que desenvolveu amizades e se aproximou mais das tradições da comunidade, participando de grupos de teatro e dança.

    Em uma entrevista à Oeste, Ramuth critica posturas do governo federal, inclusive a recusa em definir o Hamas como terrorista, e aborda questões sobre greves e os planos do governo para as próximas eleições.

    Quais as diferenças que o senhor tem percebido entre exercer o cargo de vice-governador e o de prefeito de uma cidade no interior paulista?

    Nas cidades, as coisas de fato acontecem, né? Isso vai se alterando em cada nível, estadual e federal. Percebi que essa é uma das características. Não digo que é positivo ou negativo, mas é certamente distinto. Você vai se distanciando cada vez mais do cotidiano das pessoas.

    Como o senhor tem lidado com essa situação?

    Nesse caso, é necessário ter muita consciência social para permanecer próximo das cidades e das pessoas, para não perder a sensibilidade. Quando há algum problema, procuro ir até lá, estar próximo. Sou um tanto prefeito, um tanto vice-governador. Além disso, existem procedimentos e questões que, na cidade, apesar de São José ser uma cidade grande, são menos comuns. Há protocolos de segurança, de eventos. Eram situações com as quais não lidávamos antes.

    Quero salientar que não se tratou de uma aliança de última hora. Nas últimas eleições, Tarcísio foi o primeiro candidato a governador de São Paulo a anunciar o vice. Pode conferir o histórico. Haddad (Fernando, do PT) resolveu no final, colocou a mulher do Márcio França (Lúcia França, PSB). O Rodrigo Garcia colocou lá o conhecido dele, Geninho (Zuliani, do União-Brasil). O fato de ter sido feito dessa maneira permitiu a união dos nossos projetos. É uma união que funciona, com sintonia de ideias e objetivos, e não uma união com interesses escusos por trás. A intenção era contribuir para o futuro do Estado de São Paulo com novas propostas. E é exatamente o que fizemos.

    Quais as expectativas do governo em fazer o maior número de prefeitos no Estado, dentro desta aliança, nas próximas eleições municipais?

    O governador está focado em cumprir o que prometeu na campanha para oferecer o melhor serviço. Não necessariamente a aliança no município precisa ser a mesma do Estado. A tendência, claro, é que isso se repita em grande parte das cidades. Em São José dos Campos, por exemplo,Já está estabelecido que teremos um postulante exclusivo, entre o PSD e o Republicanos. Será o atual gestor, Anderson Freire. Desde que nos unimos, ressaltamos a importância de ter um candidato nosso lá, onde nós dois possuímos título eleitoral e onde construí uma história.

    Será o ideal para o governo ter, nas próximas eleições, entre 70% e 80% dos prefeitos eleitos por meio dessa união?

    Não desejo falar em números, não devemos depender disso. O que posso afirmar é que, quanto maior o número de administrações municipais, que irão refletir a aliança que governa o Estado, será melhor, devido ao apoio dos prefeitos e das câmaras municipais. No entanto, isso é mais uma questão que, inicialmente, se passa pela esfera municipal, no que tange a relação entre o Executivo e o Legislativo das cidades, para depois alcançar a esfera estadual.

    Quais medidas dentro dessa parceria já apresentaram resultados?

    Cito, por exemplo, as novas tecnologias para construções habitacionais realizadas em São Sebastião (após as intensas chuvas), em tempo recorde. Estão sendo edificadas 517 unidades habitacionais na região, com previsão de conclusão em seis meses, utilizando uma tecnologia inovadora, que inclusive tive a oportunidade de empregar em São José, no hospital de retaguarda, durante a minha gestão como prefeito. Este é um exemplo de uma política relevante, a qual integramos ao plano de governo. A intenção original não era utilizá-la de maneira emergencial, como ocorreu nos primeiros três meses, mas sim introduzir inovação ao setor habitacional.

    Até que ponto essa manifestação dos grevistas no setor de transportes (metrô e CPTM) ameaça a política de privatizações proposta pelo governo estadual?

    São greves com motivação política, tendo como único objetivo a oposição às privatizações. O direito à greve é garantido aos sindicatos, desde que esteja associado a uma reivindicação, como aumento salarial e melhoria das condições de trabalho. No entanto, infelizmente, o sindicato abusa e desrespeita, de forma descarada, as decisões judiciais que exigiam que 80% do sistema de metrô e CPTM funcionasse nos horários de pico. Isso representa um desrespeito à população, que elegeu, nas urnas, o governador Tarcísio e a mim para avançar com as pautas de concessões, Parcerias Público-Privadas e privatizações, incluindo a da Sabesp, aprovada na Assembleia Legislativa. Ações como essa não nos farão mudar de ideia. O governador está determinado a aprimorar a prestação de serviços no transporte público na cidade de São Paulo, por meio de grandes investimentos e da operação realizada pela iniciativa privada. Vamos em frente.

    Essa questão não pode estar relacionada também às próximas eleições presidenciais, visando enfraquecer o governador Tarcísio caso decida se candidatar?

    Nunca presenciei o Tarcísio dedicando um único minuto da agenda dele a essa questão das próximas eleições presidenciais. Ele fará a avaliação do cenário no momento oportuno e tomará uma decisão. Portanto, isso não nos preocupa.

    Como o senhor analisa a tentativa de coalizão do governo federal com o denominado Centrão, no Congresso?

    Em nosso presidencialismo, a busca pelo diálogo sempre estará presente. Claro, isso é política. Envolve também a utilização desses recursos, porém de forma ética. O Executivo funciona de forma mais eficaz com o apoio dos deputados. Contudo, percebemos que o atual governo federal demonstrou muitas fragilidades políticas. Lembro-me que iniciei na política durante o plebiscito parlamentarismo, presidencialismo ou monarquia, em 1993. Um marceneiro que estava em minha loja, no balcão, me questionou sobre em qual regime eu votaria. Naquele momento, eu não sabia o significado de cada um deles, pois não estava muito envolvido com a política. A partir desse momento, desenvolvi interesse e me envolvi nessa atividade. Contribuí para a eleição de um prefeito e, em seguida, outro. Agora, afirmo:votei a favor do parlamentarismo e creio que, caso tivéssemos saído vitoriosos naquela ocasião, o país estaria em uma situação muito melhor.

    São Paulo, como o maior Estado do país, tem representado uma postura oposta a muitas das políticas do governo federal. Como é a interação entre o governo estadual e o federal?

    A abordagem precisa ser direcionada às pessoas jurídicas e não às pessoas físicas. Não é um exemplo positivo, especialmente para os jovens que desejam ingressar na política, fazer política por meio de ofensas. Não condiz com a minha maneira de atuar, nem com a do governador Tarcísio. Podemos ter opiniões conflitantes, mas o respeito e o diálogo são fundamentais para continuarmos impulsionando o Estado de São Paulo como principal motor do Brasil e, ao mesmo tempo, para permitir que o Brasil também contribua para o desenvolvimento do Estado de São Paulo.

    Quais desafios o governo estadual tem enfrentado diante das diferentes visões em relação ao governo federal?

    Temos recorrido àquela velha expressão: “perdemos algumas coisas, mas preservamos outras”. No porto de Santos, por exemplo, o governador Tarcísio, quando ocupava o cargo de ministro da Infraestrutura (2019-2022), elaborou todo o projeto de privatização. O governo do Lula assumiu o poder e cancelou o projeto. Atualmente, o que estamos tentando resgatar do plano original é o projeto do túnel, a travessia Santos-Guarujá, com as esferas federal e estadual financiando a iniciativa. Talvez consigamos chegar a um consenso. Existem outras divergências, buscamos preservar o diálogo, mas sempre vamos nos posicionar.

    Quais as principais críticas que o senhor tem em relação ao atual governo federal?

    Percebo no atual governo federal um olhar voltado para o passado. Infelizmente, o Lula no poder é o mesmo Lula de anos atrás. Pouco progrediu e ainda adquiriu uma dose de revanchismo. Ele está tentando se vingar de indivíduos que ao longo dos últimos anos foram contrários a ele. Não está respeitando a liberdade democrática de expressão a favor ou contra. Não evidencia uma visão de futuro, de inovação, de progresso.

    Qual é a sua opinião sobre a posição do governo federal no conflito entre Israel e Hamas?

    O governo federal adota uma postura totalmente equivocada, primeiramente por não reconhecer o Hamas como organização terrorista. Em segundo lugar, por possuir compromissos políticos com a esquerda, emite um discurso ambíguo em relação à atuação de Israel nesse momento de resposta às ações do Hamas. A avaliação sempre coloca em pé de igualdade as forças terroristas e as de Israel, o que é um grande equívoco. Do lado de Israel, todas as leis internacionais são seguidas, enquanto que, do lado do Hamas, sabemos como eles atuam. Além disso, mantêm reféns e ninguém se manifesta a respeito disso.

    Essa onda de antissemitismo o preocupa mais como indivíduo ou como político?

    Neste caso, a minha identidade como homem de religião judaica antecede a minha atuação política. Trata-se de uma questão assustadora, que diz respeito à humanidade. O conflito na Faixa de Gaza disparou o antissemitismo no mundo, transformando o antissemitismo, que já era latente e oculto, em uma manifestação evidente. Agora é, de fato, o momento de fortalecer a capacidade do povo judeu de preservar a sua identidade singular, a nossa identidade e, ao mesmo tempo, o nosso compromisso com o futuro da humanidade.

    Como foi a sua relação com o judaísmo desde a infância?

    Estudei até o Ensino Médio no Bialik, com uma bolsa de estudos – eu e um dos meus irmãos. Minha família não possuía condições financeiras. Por essa razão, hoje em dia apoio projetos de bolsas de estudo. Realizei a cerimônia de bar-mitzvá coletiva na Hebraica. A comemoração foi no Playcenter, convidei 30 amigos, foi uma experiência inesquecível. Na infância e juventude, pratiquei dança israelense, teatro, participei na Hebraica, em movimentos juvenis como a Chazit, fiz amigos para a vida e adquiri os valores que carreguei em minhas atividades. Aprendi a respeitar a ética, o próximo, e nunca deixei de lado essa essência.

    De que maneira a religião judaica influenciou na sua atuação política?

    Nunca escondi a minha origem judaica. Ela sempre foi uma orientação para mim no campo político, permitindo que eu contribuísse com a educação e os princípios que moldaram a minha identidade. O judaísmo é diverso e isso se encaixa bem com a política. No judaísmo, outro aspecto relevante é o bom humor. Procuro encarar a vida com leveza e bom humor.

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